Bebês orangotangos são alvos frequentes de traficantes de animais, que os separam de suas mães e os vendem como animais domésticos, indefesos, traumatizados e com os espíritos dilacerados. Aman é um desses filhotes. Ele foi separado de sua família há dois anos e mantido em uma jaula com o objetivo de atender a ganância e os interesses humanos.
Um filhote de orangotango não pode ser tirado de sua mãe sem o uso da força. Mães orangotangos lutam até a morte para salvar seus bebês. Para alimentar essa atividade criminosa, as mães geralmente são mortas, muitas vezes com facões ou armas. Não apenas os bebês são traumatizados, mas toda a espécie também, uma vez que lhe é roubado o direito de as gerações futuras darem continuidade à espécie por causa dos assassinatos brutais das fêmeas.
Transporte traumático
Uma vez sequestrados por criminosos, os bebês geralmente são forçados a entrar em caixas, caixotes, pequenas gaiolas de madeira ou até mesmo sacos postais para serem contrabandeados para dentro ou para fora da Indonésia, geralmente para lugares distantes como Tailândia, Oriente Médio, Europa ou Cingapura. Ter um bebê orangotango é visto como um símbolo de status, embora a prática seja ilegal na Indonésia e na Malásia.
Independentemente de onde esses seres altamente inteligentes acabem, sua liberdade se foi para sempre, a menos que possam ser resgatados. Eles geralmente são alimentados com a comida errada, são impedidos de escalar árvores, podendo ficar doentes e desenvolverem problemas psicológicos. Alguns, como Aman, carregarão as lembranças físicas de seus traumas iniciais pelo resto de suas vidas.
A história de Aman, do trauma à segurança
Aman não tem a ponta dos dedos da mão esquerda. Seus socorristas em Bornéu acreditam que seus dedos provavelmente foram cortados enquanto ele se agarrava à mãe quando ela foi morta. É quase impossível imaginar o que este jovem orangotango passou em sua curta vida: desde ser arrancado dos braços de sua mãe e vivenciar seu assassinato, até a dor de perder os dedos, ser empurrado para uma pequena gaiola e forçado a olhar para fora, vendo o mundo através de ripas de madeira.
O bebê foi resgatado pelo grupo “Bornean Orangutan Rescue Alliance (BORA)” depois da “BKSDA (Nature and Conservation Agency)” entrar em contato e notificá-los sobre um orangotango ilegal que eles acreditavam ter cerca de dois anos de idade, que estava numa casa em Berau, Kalimantan Oriental, Bornéu. A equipe logo iniciou os preparos para o resgate e, com uma gaiola de transporte no veículo, partiram rumo a Berau, onde encontraram o jovem orangotango olhando para eles através das ripas de um galinheiro.
O grupo descobriu que ele tinha sido alimentado erroneamente com bananas, água e doces, e assim que foi colocado na caixa de transporte, ele recebeu folhas para deitar e frutas para comer. Segundo os socorristas, o confisco e o transporte de volta ao centro de resgate ocorreram sem problemas, embora nem sempre seja o caso.
Poucos dias depois de ser resgatado, o jovem orangotango estava se recuperando dos traumas, aprendendo a comer folhas e galhos e encontrando a simples alegria de ser livre. A equipe do “The Orangutan Project “, um dos parceiros da “BORA”, entrou em contato com um doador para pedir uma sugestão de nome e Aman foi escolhido porque significa ‘seguro’ em indonésio.
Quase dois anos depois, Aman está florescendo, aprendendo com orangotangos mais velhos como subir em árvores, balançar nos galhos, construir um ninho e procurar comida. Ainda luta ocasionalmente para abrir frutas, mas nunca desiste. Além disso, recebe constantemente o amor dos cuidadores e uma boa dieta de frutas, folhas, galhos e cupins.
A vida em liberdade é uma experiência nova para Aman que, apesar da falta dos dedos, não se intimida e está aprendendo a viver livremente. Ele é um jovem orangotango doce e corajoso que dá tudo de si. A história de Aman é um testemunho da resiliência de animais que ficaram órfãos pelo comércio ilegal e que tiveram a sorte de serem resgatados de uma vida em cativeiro.
O mais traficado
Os orangotangos são um dos animais mais traficados e vendidos ilegalmente em todo o mundo. A organização internacional de conservação de orangotangos “The Orangutan Project” estima que apenas um em cada seis orangotangos é resgatado. Alguns bebês são comprados e vendidos on-line por meio de sites como Facebook, Whatsapp e Instagram a um preço de US $ 1.000 ou mais (cerca de 5 mil reais).
Menos de dez anos para salvar a espécie
Cientistas e primatologistas dizem que se os roubos de animais em seus habitats continuar, em menos de 10 anos as populações de orangotangos podem se tornar muito pequenas, vulneráveis e fragmentadas, podendo evoluir para à extinção. Sem uma ação urgente para proteger as florestas da Indonésia, muitas espécies morrerão. Além da exploração de animais, as derrubadas para extração de madeira, mineração e monoculturas insustentáveis, como óleo de palma, papel para celulose ou seringueiras, leva outras espécies a se tornam presas mais fáceis para os traficantes de animais.
A corrida para proteger oito ecossistemas-chave
O “Projeto Orangotango” visa proteger oito ecossistemas-chave em Bornéu e Sumatra por meio de acordos juridicamente vinculativos que põe fim ao desmatamento, monoculturas insustentáveis e mineração nessas florestas. Atualmente, esta organização internacional de renome mundial formou parcerias que ajudaram a garantir o futuro de dois ecossistemas-chave: o ecossistema “Bukit Tigapuluh” em Sumatra e o ecossistema “Sebangau” em Bornéu.
Para garantir que essas florestas permaneçam intactas, eles empregam equipes de guardas florestais para patrulhar os ecossistemas e reduzir todas as atividades ilegais, como extração de madeira, caça e armadilhas. Suas equipes trabalham em colaboração com as comunidades locais, apoiando projetos de desenvolvimento econômico que incentivam a conservação da floresta, tornando agricultores, crianças e moradores protetores da floresta.
Todos esses esforços, desde o resgate e reabilitação de orangotangos como Aman até o patrulhamento de vastas áreas de floresta, educação e capacitação de comunidades, exigem fundos significativos a cada ano. Sem doadores como Austrália, Estados Unidos, Europa e outros, essas atividades não seriam possíveis.
Segundo organizadores do Projeto Orangotango: “o ato mais importante agora é proteger as florestas remanescentes e seus animais. Alguns de nós não estaremos vivos para ver os resultados dessas ações, mas sabemos que, se fizermos parte de uma solução e que estaremos ajudando a garantir a sobrevivência a longo prazo, não apenas de orangotangos, mas também de tigres, elefantes, rinocerontes e as pessoas locais que vivem dentro e perto das florestas”.
Você pode apoiar o “Projeto Orangotango” por meio de doações mensais, que é a maneira mais eficaz da organização planejar e agir para o futuro ou fazer uma doação exclusiva para a campanha “Save Forest”. Todo o apoio faz uma diferença duradoura para as espécies criticamente ameaçadas.