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As baratas fantasmas e os ratos de porão

17 de dezembro de 2015
5 min. de leitura
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Alguns animais causam repulsa ao animal humano. Este, o homem, causa medo e terror, espalha a tirania por onde caminha.
O filósofo Carlos Naconecy escreveu um importante ensaio intitulado Ética animal…Ou uma “ética para vertebrados”?: UM ANIMALISTA TAMBÉM PRATICA ESPECISMO?” problematizando o especismo interno muito forte no ativismo.
Esse artigo é talvez um dos mais importantes para o ativista que pretende estar isento de especismo. Pois veganismo não é só comida. E o veganismo abolicionista não pode contemplar apenas alguns tipos de animais.
Onde está a preocupação com os animais invertebrados? Na classe Insecta (Insetos) estão o maior número de animais que existem sobre a face da Terra. Mas reina sobre os ativistas um silêncio sepulcral sobre estes seres.
Enquanto escrevo este artigo, uma abelha, animal ameaçado sumir do mapa terrestre está sobrevoando meu escritório, numa clara demonstração de desequilíbrio de sua espécie. Isso tem acontecido diariamente, ela entra aqui, minutos depois está morta ao chão.
Mas mel, produto da pecuária de abelhas, até os falsos veganos desejam. Mostrando o quanto a vontade de explorar/dominar/ é forte na espécie humana.
O tema desta crônica são as baratas, insetos da Ordem Blattodea. São divididas em várias espécies, que vivem nas regiões neotropicais.
A grande maioria das espécies são silvestres, apenas 1% buscam conviver com o ser humano. Um artigo brasileiro sobre baratas revelou que 20% da população de três cidades não considera a presença desse inseto em suas casas desagradável.
As baratas são onívoras, como o ser humano, e como nossa espécie, é considerada uma praga por muitas características em comum. Só que, nós é que as classificamos como praga. Ninguém nos classificou oficialmente como tal.
Seus predadores e parasitas são bactérias, vermes, fungos, protozoários, artrópodes como ácaros, aranhas, besouros, escorpiões, hemípteros e himenópteros e vertebrados.
O olhar especista aprendeu a ver em alguns animais o apego, em outros o nojo e em outros o medo. Desde cedo eu brincava perto de ninhos de cobra, até mesmo perto delas, pois morava em uma região onde existia resquícios de mata. Jamais tive medo. Tinha medo era de aranha. De suas pernas longas e belas. Eu matava baratas. Hoje as vejo de um modo diferente.
Depois de cursar Biologia, o entendimento substituiu o medo, e tornou-se admiração. Uma hora é preciso amadurecer e senão amar, apenas deixar em paz.
Hoje, vejo as baratas apenas como mais um animal, mais um dos seres a que me dedico na causa em que luto. Doenças, os porcos transmitem na prisão onde vivem pois estão cativos, assim como os cães, os gatos, as vacas, as galinhas, todos, potencialmente, mas muito ‘potencialmente’, poderiam transmitir.
Até hoje, se eu peguei alguma doença, foi única e exclusivamente de humanos.
Humanos sujos e relaxados que entram num restaurante e não lavam-se as mãos, que usam o dinheiro e comem em seguida, que espirram em qualquer lugar e sem tapar-se a boca, que não se lavam a bunda depois de cagar, que têm modos imundos. E a culpa é das formigas. São elas, meus amigos, que levam infecções aos hospitais, disse-me uma nutricionista, especista, dentro do seu ambiente inóspito e imundo.
Quando sabemos que muitas pessoas dentro dos “locais de saúde”, sequer lavam-se as mãos quando saem do banheiro. Profissionais saem do ambiente hospitalar e com o mesmo “jaleco” – que mais serve para status do que para isolamento ou higiene – vão almoçar na cantina podre da esquina… Como é a geladeira da casa do vivente? Não seria uma boa casa de insetos?
Existe uma infinidade de sites incentivando o extermínio de baratas, afirmando inclusive de que elas não têm nenhuma função na cadeia ecológica, disseminando lendas urbanas, e muitos destes sites são de empresas de extermínio de insetos, roedores e morcegos – estes – mamíferos desprezados por alguns ativistas.
Um funcionário que trabalhou durante anos em uma dessas empresas contou-me que o costume em algumas delas é matar a pauladas, com muito sadismo e risos, os ratos que porventura povoam os depósitos de supermercados e armazéns.
Boa parte dessas lendas sobre animais começou na escola, quando professores medíocres ‘ensinavam’ e ainda ‘ensinam’ sobre animais úteis e inúteis.
Hoje eu vejo um rato, uma barata, e não faço escândalo. Na verdade, nunca fiz. O condicionamento que faz pensar que um animal merece morrer, é útil ou inútil, que pode atacar ou servir de comida se transformou em mim. Já era tempo.
Para não ter animais circulando em casa, pega-se um pote, captura-se o animal, leva-se lá para fora. E procura-se manter a casa limpa, para não atrair quem queira se alimentar de detritos. Se você quer a presença de uma ave em suas janelas, deixe água fresca e comida. Se quer a presença de baratas e ratos, deixe lixo, papel higiênico em cestos, sebo de carne em cima da pia, etc. As moscas também gostam disso e nas matas existem espécies de flores com cheiro desagradável, de merda para quem não sabe, que as atrai. Uma entra sem querer por minha janela, mas sei de onde elas vieram: normalmente da vizinhança que faz churrasco dia e noite.
Na Arqueologia, durante uma escavação de um sítio arqueológico, já trabalhei em meio a escorpiões numa praia. Apenas tomava cuidado com eles. Os escorpiões apenas fugiam, sem picar ninguém.
O extermínio de baratas com venenos e mesmo com o chinelo, apenas selecionou geneticamente as baratas mais fortes, inteligentes, e mais preparadas para viver no ambiente urbano.
Elas são inteligentes, sensíveis, detectam a presença humana a muitos metros, e são perfeitamente ágeis, praticamente invisíveis quando querem e parecem fantasmas, pois simplesmente somem de nossa visão, se assim preferirem. Portanto, subestimar uma barata é ser ignorante quanto aos animais, e é ser especista. Eu as respeito. Pois vi mais de uma desaparecer como fantasmas diante de mim.
O que dizem sobre os ratos e cães dominar a Terra, eu melhor digo sobre as baratas.
As baratas dominarão o mundo, na nossa ausência, mas mais do que nunca – já dominam, no completo silêncio e na sua completa magnitude, pois estão pouco se lixando para nossa soberba e se alimentam com o que a gente sabe melhor produzir: lixo.
Para ler o artigo completo do filósofo, acesse o site.

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