As baleias-francas já começam a chegar ao litoral catarinense para ganhar e amamentar os filhotes. Vindas da Geórgia do Sul, ilha próxima às ilhas Malvinas no Sul da América, elas costumam aparecer todos os invernos. Neste ano, até ontem, 47 avistagens desses mamíferos foram registradas, o que gera a expectativa de que neste ano número maior de animais passe por aqui em relação a 2015, quando houve recorde negativo. Os meses de maior presença delas são agosto e setembro.
“Tivemos um número muito baixo de animais ano passado, mas esperamos que com a redução da influência do El Niño nas águas do Atlântico, a migração se normalize”, avalia a bióloga e diretora de pesquisa do Projeto Baleia Franca, em Imbituba, Karina Groch.
O El Niño de 2015/2016 foi o segundo mais forte em 66 anos de monitoramento. A principal hipótese é que o fenômeno tenha diminuído a disponibilidade de alimentos no Círculo Polar Antártico, onde elas vivem a maior parte do ano. Menos nutridas, elas podem não engravidar e migrar. Talvez isso explique por que no ano passado todo, apenas 58 foram avistadas no Estado, enquanto que a média dos últimos 10 anos foi 114 animais por temporada.
A intensidade do El Ninõ também estaria influenciando o comportamento das baleias da espécie jubarte, que, ao contrário das francas, vieram em maior número ao litoral catarinense no ano passado. O Estado é ponto de passagem para os recifes do arquipélago Abrolhos, na Bahia. O que também aumentou foram os encalhes e mortes desses animais, situação registrada acima da média em todo o Brasil.
“Diferente de outros anos, elas têm procurado áreas mais costeiras e o número de acidentes com redes também aumentou”, explica Adriana Colosio, pesquisadora do Instituto Baleia Jubarte, na Bahia.
Até ontem, o Instituto Baleia Jubarte contabilizava 31 encalhes na costa brasileira, sendo quatro em Santa Catarina. Além das jubartes, o Projeto Baleia Franca em SC, contabiliza um encalhe de baleia da espécie bryde neste ano.
Não só problemas naturais
Além da influência do El Niño sobre a disponibilidade de alimentos, grupos também chamam a a atenção para ações de origem humana como causa da alteração do comportamento e aumento da mortalidade. Luiz Faroani, coordenador de ações da organização não governamental Instituto Sea Shepherd – atuante em SC no processo de proibição do turismo embarcado no Sul de Santa Catarina, ressalta que a própria intensidade do El Niño é um resultado de ações humanas, como a poluição.
“Temos ainda o fluxo intenso de navios na costa brasileira e na região da APA da Baleia Franca. Sem falar nas ações de pesca, que sempre emaranham algumas baleias”, ressalta Faraoni.
O Coletivo SOS Baleia Franca, grupo organizado de pessoas que busca chamar a atenção para a situação das baleias em SC, aponta que 18 baleias morreram no litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina em 2015 – a maioria da espécie jubartes. Três delas por colisão contra embarcações e seis presas em redes de pesca.
Adriana aponta que as jubartes evitam lugares com muita poluição sonora e águas turvas. Mas além de ruído, as embarcações também resultam em atropelamentos das baleias, preocupação que contempla SC com relação ao Porto de Imbituba e o berçário das baleias francas.
“As baleias, e principalmente a baleia franca, são muito lentas. Um navio em velocidade inadequada pode facilmente atropelar um animal mais próximo da superfície. Bastaria ter uma política de redução da velocidade”, salienta o pesquisador Paulo César Lopes, do Laboratório de Animais Aquáticos (Lamaq) da Universidade Federal de Santa Catarina.
Mas para estabelecer uma relação direta dessas ações humanas e do El Niño com o comportamento das baleias de forma científica é preciso tempo de estudo e análise de dados. O que deve ocorrer nos próximos anos.
Fonte: Diário Catarinense