Com o início do inverno, começa também a temporada de visitação das baleias-francas austrais (Eubalaena australis) ao litoral do Sul e do Sudeste do País. Elas deixam a fria região antártica em busca de águas mais quentes para se reproduzir e dar à luz, mas o nascimento dos filhotes já não tem acontecido em um clima tão calmo quanto os cetáceos provavelmente esperavam encontrar. A cada ano, em especial na costa de São Paulo e do Rio, menos animais têm sido vistos.
A conclusão é de um levantamento feito por pesquisadores do Instituto Oceanográfico (IO) da USP com base em registros de observação de baleias-franca desde 2000 no litoral dos dois Estados.
A descoberta chamou a atenção dos pesquisadores porque a situação da baleia-franca austral vem lentamente melhorando. Ainda considerada em perigo de extinção pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas do Brasil, depois de o número de indivíduos ter despencado na primeira metade do século 20 com a caça, a população está aos poucos crescendo.
Pelas estimativas, há cerca de 7 mil indivíduos navegando no Atlântico Sul. E em Santa Catarina, estado que recebe o maior número de visitas das francas no País, ano a ano parece estar aumentando o número de indivíduos que passa por ali. Tradicionalmente, muitos deles continuavam subindo pela costa brasileira, até chegar ao Rio. O que não tem se notado mais.
Investigando jornais, o YouTube e as redes sociais, o grupo percebeu que o número de registros de observação das francas caiu 36,5% no Rio e 26,6% em São Paulo nessa década, em comparação com levantamento semelhante de 1999. “Como a visita de baleias não é muito frequente, sempre que aparece alguém vai ver e contar, ainda mais com os celulares e a redes sociais. Então dá para confiar que elas têm aparecido menos”, afirma Giovanna Figueiredo, aluna do IO que fez o trabalho.
“O que precisamos saber agora é se as baleias simplesmente estão deixando de vir para cá ou se estão mudando seus hábitos e preferindo o alto mar”, afirma o biólogo Marcos Santos, pesquisador do IO que, com alunos, está iniciando uma campanha pelo litoral paulista a fim de monitorar o paradeiro das baleias e ajudar a protegê-las.
Ele explica que a franca gosta das enseadas e baías da costa sul e sudeste brasileira para poder descansar e amamentar. É aqui também que elas se reproduzem e voltam 12 meses depois para o filhote nascer.
O grupo suspeita que o aumento nos últimos anos do fluxo de embarcações, aliado à degradação costeira, pode ser o motivo para o sumiço das baleias em São Paulo e no Rio.
“A franca tem total domínio de onde visita e prefere ficar logo após a zona de arrebentação, o que faz as pessoas acreditarem que ela está encalhando. Aí começa o escarcéu. Um monte de barco acelerando para tentar espantá-las. O que pode acabar machucando não só o bicho como também as pessoas.”
Fonte: Estadão