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PLANETA

Praias do Brasil estão mais quentes? Estudo avalia mudanças climáticas no litoral; veja onde mudou

Pesquisa de cientistas da Unifesp aponta que regiões Sul e Sudeste do País são as mais afetadas

26 de abril de 2023
Por Luciana Constantino
5 min. de leitura
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Foto: Divulgação

O litoral brasileiro, especialmente as regiões Sul e Sudeste, já vem sofrendo impactos das mudanças climáticas, com temperaturas do ar cada vez mais extremas e aumento da frequência das variações térmicas ao longo dos anos. Esse é um dos resultados de uma pesquisa inédita publicada nesta terça-feira, 25, na revista Scientific Reports, do grupo Nature.

Nos litorais do Espírito Santo, do Rio Grande do Sul e de São Paulo, a frequência de ocorrências diárias de extremos de temperatura e das ondas de calor (caracterizadas por dias consecutivos de registro) aumentou ao longo dos últimos 40 anos – com um crescimento de 188%, 100% e 84%, respectivamente.

No Espírito Santo, a temperatura máxima chegou a variar de 28,6 °C, em julho de 1987, para 37,2 °C, em março de 2013, enquanto a mínima foi de 11,2 °C, em junho de 1993, a 20,7°C, em janeiro de 2016. Até 1999, foram registradas temperaturas máximas acima de 35 ºC por oito vezes no Estado, mas na última década foram 19 vezes. Já no litoral do Rio Grande do Sul, os pesquisadores detectaram que os dias estão refrescando menos, ou seja, não atingindo temperaturas extremas tão baixas.

O estudo, realizado por cientistas do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), avaliou ondas de calor ao longo da costa do Brasil por meio da variação na intensidade e frequência de eventos extremos de temperatura. Para os pesquisadores, o conjunto de dados e métodos se mostrou uma abordagem a ser utilizada em trabalhos sobre extremos climáticos, com indicadores de intensidade, frequência e duração, podendo ser aplicado também a outras regiões do planeta.

“Os resultados mostram que as regiões Sudeste e Sul já enfrentam impactos da temperatura do ar que podem afetar não só a biodiversidade como até mesmo a economia. Identificamos que o litoral do Espírito Santo foi a região mais atingida entre as cinco estudadas porque, além do calor, foi a única onde a frequência de ondas de frio também é cada vez maior”, explica Fábio Henrique Carretero Sanches, primeiro autor da pesquisa. Sanches recebeu apoio da Fapesp por meio de bolsa de pós-doutorado.

A biodiversidade é afetada por meio de alterações fisiológicas e de mudanças de comportamento de diversas espécies devido às ondas de calor e de frio, sem contar que eventos extremos de temperatura podem ocasionar mortalidade de animais terrestres e aquáticos.

Para o professor Ronaldo Christofoletti, pesquisador do Instituto do Mar da Unifesp e um dos autores, o estudo também traz uma relação com a saúde pública, já que vários tipos de doenças respiratórias estão associados à variação da temperatura.

“O aumento de ondas de calor e de frio tem vários impactos na sociedade, que vão desde o desconforto térmico até o crescimento de incêndios florestais, problemas de saúde e da mortalidade de animais, plantas e dos seres humanos, especialmente idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade”, explica o professor, que também teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontam que cerca de 559 milhões de crianças em todo o mundo estão expostas a altas frequências de ondas de calor. Segundo a agência, se o aumento médio da temperatura global atingir 1,7 °C em relação à era pré-industrial, esse total subirá para 1,6 bilhão de crianças até 2050.

Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) calculou que ao menos 15 mil pessoas morreram na Europa no ano passado devido a ondas de calor, com a Espanha e a Alemanha entre os países mais afetados. O verão europeu (de junho e agosto) de 2022 foi o mais quente registrado, sendo que as altas temperaturas levaram à pior seca do continente desde a Idade Média.

Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em março, diz que a ação humana está inequivocamente aumentando as emissões de gases de efeito estufa para níveis recordes e que as temperaturas globais provavelmente atingirão 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais antes do previsto, no início dos anos 2030. Esse aquecimento provoca mudanças globais, incluindo o aumento do nível do mar e os extremos climáticos, resultando em danos generalizados a vidas, meios de subsistência e sistemas naturais.

Série histórica

Além de analisar a série histórica de dados de temperatura do ar observados a cada hora do dia ao longo dos últimos 40 anos em cinco regiões costeiras – MA (São Luís), RN (Natal), ES (São Mateus), SP (Iguape) e RS (Rio Grande) -, os pesquisadores utilizaram modelos matemáticos para definir o que seriam extremos de temperatura para cada uma dessas áreas em cada mês do ano. Foram consideradas diferenças regionais e de estação climática.

A pesquisa avaliou os padrões sazonais e diários, com impactos medidos em termos de ocorrências (dias em que um extremo aconteceu) e de eventos (dias seguidos da ocorrência de extremos, caracterizando uma onda). Das regiões analisadas, os litorais do MA e do RN não registraram alterações nos padrões de extremos de temperatura ao longo do ano.

Os pesquisadores também estudaram outros dois fatores – as possíveis variações da amplitude térmica ao longo de um mesmo dia (chamadas no estudo de Tmax – Tmin) e as mudanças bruscas de temperatura, com base na comparação da máxima ou mínima entre dias consecutivos.

Em relação à amplitude térmica diária, o RN foi a única região que não apresentou variações, enquanto no MA é cada vez mais frequente, com um crescimento do número de dias consecutivos com amplitude maior.

Já no Sudeste e no Sul, as alterações térmicas são ainda maiores – além do aumento da frequência de dias de maior amplitude térmica, as regiões do ES, SP e RS têm cada vez mais dias com variáveis na temperatura.

As maiores temperaturas máximas diárias (Tmax) extremas foram encontradas em São Paulo (Iguape), variando de 29,5 °C (julho de 2000) a 40,4 °C (janeiro de 2016), onde também houve maior variação na Tmin (temperaturas mínimas diárias) – de 1,0 °C, em julho de 1990, a 17,9 °C, em fevereiro de 2018.

“Estudos para as mudanças climáticas demandam dados históricos e contínuos de monitoramento. Para entender a situação atual dos eventos extremos e prever cenários futuros que auxiliem nos planos de resiliência costeira, é urgente que ampliemos as estações de monitoramento de dados meteorológicos na costa brasileira”, completa Sanches.

Fonte: Terra

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