Relato sobre a ação de conscientização próxima a aquário japonês
No dia 27 de Julho, 14 ativistas, 10 deles japoneses, protestaram debaixo de um sol que chegava aos 32 graus em frente ao aquário Osaka Aquarium Kaiyukan no Japão.
Este protesto em frente ao aquário, é chamado “Empty the Tanks” ou em português “Esvazie os Tanques” e já é realizado há alguns anos em outros países, mas no Japão foi a primeira vez e com participação de 3 cidades, Osaka, Tóquio e Kobe.
A ação consistiu em conscientizar as pessoas que pretendiam frequentar o aquário, através de dialogo, banners com frases de repúdio à indústria, panfletos auto-explicativos, vídeos mostrando como os animais que estão presos no aquário chegam até lá, como são capturados, escolhidos para as “jaulas-de-vidro” e como alguns são assassinados para venda de suas carnes, e é claro, ainda a utilização de megafone para falar em alto e bom som o que acontece com os animais nesse tipo de “entretenimento”.
As pessoas passavam na frente dos ativistas sem entender direito do que se tratava, corriam com os olhos curiosos pelos banners, alguns paravam para ler e escutar o que falávamos, outros pegavam os panfletos, e logo tínhamos que alertá-los para tomarem cuidado, pois os staffs do aquário estavam recolhendo e jogando fora, lógico, a verdade não podia ser revelada para o público, que financia seus salários, os milhões que eles faturam através da escravidão e sofrimento dos animais.
O mais incrível foi a reação das pessoas durante o protesto, a maioria dos visitantes pararam para ver do que se tratava, a receptividade foi boa, mais da metade do público demonstrava curiosidade em saber o por que aquelas pessoas estavam carregando balão de baleia, placas, panfletos, megafones e falando de golfinhos, ainda mais aqui, que devido a cultura tradicionalista nipônica, as pessoas não tem o costume de questionar ou protestar por nada, seja nas ruas ou em qualquer lugar.
Muitas pessoas não faziam ideia do que acontecia com os golfinhos para chegarem e ficarem nos aquários, ainda não haviam tirado a venda dos olhos, aquela venda especista, impulsionada pela publicidade, que naturaliza o que acontece de errado com os animais, que nos engana, usurpa e mascara toda a crueldade que tem por trás das indústrias de exploração animal, seja ela qual for.
Tática
O lugar do protesto foi estratégico, pois para se chegar ao aquário tinham que se passar pelos infoativistas e os que passavam de carro também viam toda nossa movimentação, e a sementinha da informação foi sendo plantada, e mesmo as pessoas que não estivessem querendo ouvir, ainda assim vão lembrar das frases e cenas que ficaram em seu consciente, e principalmente das imagens de captura e chacina dos golfinhos em Taiji.
Força de vontade, não tem idade!
Uma senhora em particular me chamou muita atenção, se chama Yamamoto e calculo que tenha lá pelos seus 70 anos, mora em Osaka e estava com a gente atuando pela liberdade dos animais presos no aquário, como havia dito, debaixo de um sol de 32 graus, essa simpática senhora ajudou incansavelmente a distribuir panfletos e conversar com as pessoas.
Ela me contou que há 1 ano atrás, através de um blog de uma ativista japonesa, ela se tornou vegana, e assim que soube o que acontecia com os animais ela logo se prontificou em ajudar nos protestos, assim participando do primeiro protesto contra pele de animal, e hoje sempre quando pode participa de qualquer protesto em defesa aos animais. Perguntei a ela também, o fato que me deixa curiosa por acontecer comigo, qual foi e qual é a reação de seus amigos e familiares ao saber da sua mudança de consciência para o veganismo.
Segundo ela, de início as pessoas não entendem, a maioria nem sabe o que é, mas que depois elas aceitam a decisão do outro em se tornar vegan, mas mesmo diante dessa digamos “dificuldade social”, ela leva o veganismo e o ativismo de uma forma muito animada e concentrada nos direitos abolicionistas.
Tóquio
Sobre o protesto que ocorreu por lá, tive algumas notícias, que vieram através da ativista vegana, Ellie Tanaka, uma das organizadoras do protesto. Ela e mais 15 ativistas protestaram em frente ao aquário Kamogawa Sea World, localizado em Tóquio, que segunda ela é o possível aquário que mais explora animais marinhos, como golfinhos nariz de garrafa, golfinhos de laterais branca do pacífico, baleia branca e orcas, sendo mais de 7 shows apresentados por esses animais por dia.
“Grande parte dos clientes dos aquários são crianças vindas de excursões escolares, em um momento especial pude sentir toda a energia e curiosidade das crianças, todo momento elas ficavam de olhos e ouvidos atentos a nós, para tentar saber o que estávamos fazendo, elas se aproximavam, mas logo foram impedidas pelos staffs que formaram uma barreira”, contou a ativista Ellie.
Ainda segundo a ativista, apesar das crianças não terem tido acesso total as informações, elas ainda assim serão a mudança no Japão, e trabalhar de forma efetiva, dando prioridade na educação delas, é a melhor alternativa. O exemplo da proibição de explorar golfinhos em cativeiro da Índia, foi uma notícia muito bem recebida e comentada pelos ativistas para o público nas ruas.
Em Tóquio, depois do protesto, os ativistas ainda foram para a praia que fica atrás do aquário e fizeram uma limpeza na areia da praia, recolhendo todos os lixos que as pessoas deixam para trás.
Conclusão
Essa é a primeira ação de muitas que estão por vir aqui no Japão, por ser o primeiro ato realizado em frente a um aquário os ativistas até que se saíram muito bem, trabalhando em equipe, e sempre de forma muito simpática e carismática com o público, mesmo diante de alguns obstáculos não desistiram em nenhum momento.
Acredito que o Japão de uns anos atrás e o Japão daqui para frente, sofrerá muitas mudanças em relação a sua cultura, o que é um avanço numa cultura em que não se questionava nada, somente se seguia o que os pais e a escola mandavam, as pessoas estão começando a questionar mais e a querer se informar mais, essa curiosidade toda levará muitas pessoas a refletir sobre diversos assuntos, entre eles, direitos animais e veganismo.
Fonte: Camaleão