Por Antonio Pasolini/ ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais
Robert Grillo é um daqueles exemplos inspiradores de ativismo coerente, intelectualmente robusto e claro em seu propósito. Ele é o diretor de uma organização chamada Free From Harm (Livre do Mal, em tradução livre). Como ativista, autor e palestrante, Grillo foca na consciência da experiência e ponto de vista animal, baseando-se em conceitos da sociologia, psicologia, cultura popular, ética e justiça social para preencher o vão conceitual que separa os humanos de outros animais. Como profissional de marketing durante 20 anos, Grillo trabalhou em contas de grandes empresas de comida, onde ele adquiriu uma perspectiva privilegiada do marketing da indústria alimentícia. Um dia típico seu envolve organizar eventos, coordenar resgates, escrever artigos ou uma carta ao editor, fazer melhoras no website do Free From Harm e procurar a próxima ideia para um vídeo viral. A ANDA fez uma entrevista exclusiva por e-mail com Robert, onde ele nos conta sobre seu ativismo e dá dicas para aqueles que querem fazer a diferença pelos animais não-humanos.
ANDA – Como você se envolveu com ativismo pelos direitos animais?
Robert Grillo – O porquê e como eu me envolvi com ativismo pelos direitos animais apenas se revelou para mim um pouco mais tarde. Quando eu me permiti testemunhar a exploração animal, a coisa que mais me chocou foi como algo tão diabólico poderia ser tão bem escondido. Ou estava realmente? Havia eu me protegido da verdade que estava sempre lá, disponível para mim, ou eram as indústrias de exploração que haviam feito um trabalho tão bom de esconder a feia verdade? A resposta é provavelmente uma combinação de ambas as coisas. Existe uma relação disfuncional entre o consumidor que, por um lado, busca preencher certas fantasias, e o produtor que, por outro lado, existe para fornecer tais fantasias que resultam em um ciclo vicioso de enganação. Quando eu finalmente pude ver a exploração animal do ponto de vista da vítima, eu a reconheci como parte de um paradigma maior de exploração que é responsável por todas as injustiças sociais, econômicas e ambientais que afligem a era em que vivemos.
ANDA – Você poderia falar sobre o projeto Free From Harm?
Robert Grillo – Free from Harm é uma ONG dedicada ao resgate de animais de fazenda, educação e ativismo estabelecida em 2011. Entre 2009 e 2011, Free From Harm era apenas uma presença web. Nossa força hoje continua em nossa presença web, alcançando milhões de pessoas através das redes sociais e nosso website.
ANDA – Com o advento das redes sociais, os ativistas têm ferramentas melhores para avançar a causa animal. Como os ativistas podem maximizar seu potencial?
Robert Grillo – Nossa estratégia de mídia social é baseada em uma análise cuidadosa de métricas sobre nosso público e como ele interage com nós. O processo de engajamento não é diferente de outros meios, exceto pelo benefício de se ter uma leitura imediata do impacto de uma postagem ou campanha. Existe sempre erros e acertos e muita imprevisibilidade. Muitas vezes a continuação de uma postagem que foi bem sucedida com muitos compartilhamentos não vai tão bem, assim como uma sequência de um filme de sucesso às vezes falha na bilheteria. No entanto, existem estratégias que permanecem constantes. Para nós, publicarmos sempre conteúdo de qualidade é nossa prioridade principal e talvez a razão pela qual nós temos uma base de apoio grande e fiel. Nossa nova Pollinators Network é uma comunidade global de ativistas sociais que estão usando a mídia social de forma mais estratégica para os animais. Nós damos direção e inspiração através de newsletters e webinars.
ANDA – Você tem um foco especial em aves, particularmente galinhas, no seu trabalho educacional e de resgate. As galinhas representam a maior população de animais explorados, porém elas parecem ser menos prominentes em imagens de direitos animais, menos talvez que porcos e vacas. Os onívoros parecem sentir menos culpa de comê-las. O que você tem a dizer sobre o tema?
Robert Grillo – Na feira orgânica na Califórnia, uma meca de agricultura orgânica e sustentabilidade, eu encontrei uma caixa de pintinhos com uma placa acima de suas cabeças que dizia: $2 cada. Pense sobre isso por um momento. Nós colocamos um valor monetário em uma vida inteira de experiência que é menor do que um tubo de pasta de dente. Na melhor das hipóteses, nós damos a essas aves um valor menor do que objetos descartáveis do dia a dia, um valor promulgado pela indústria da agricultura que influencia a sociedade como um todo.
O fato apenas fala muito sobre nossas atitudes de superioridade sobre outras espécies. Nossa deplorável percepção das galinhas é, por um lado, o produto de ignorância generalizada, arrogância e preconceito. Por outro lado, do ataque incessante da cultura popular contra a identidade da galinha, o que é influenciado pelas indústrias de exploração que usam seu poder e influência para as denigrir. Tudo isso facilita se justificar comê-las. Mesmo os chamados progressistas, como Michael Pollan, perpetuam as mesmas atitudes apodrecidas sobre galinhas. Em uma entrevista com o Smithsonian, ele disse a Ruth Reichl, “Elas não têm cérebro, elas são más e estúpidas.” Em minha nova apresentação sobre galinhas, meu objetivo é fornecer um retrato honesto, autêntico e realista de quem as galinhas realmente são quando elas podem se expressar livremente, sem nenhuma expectativa imposta sobre elas para produzir algo para nós, livre dos preconceitos comuns da agricultura animal.
ANDA – Como você vê os direitos animais progredindo nas próximas décadas? Alguma razão para otimismo?
Robert Grillo – Esta é uma questão que eu exploro em meu novo livro sobre o tema de ficções e mecanismos fictícios na cultura popular que nos condicionam a comer animais. Ao avaliar todos os exemplos de ficções nos livros, nós encontramos uma linha que perpassa todos elas: todas apelam à nossas crenças e valores mais enraizados sobre animais em fazendas e comer produtos animais. O capítulo final é dedicado a como podemos aplicar esta nova consciência ao trabalho ativista. O que se deve aprender com isso principalmente é que ideias importam. Crenças importam. Elas são as razões porque comer animais é cultural e socialmente aceitável para a vasta maioria de nós. As pessoas fazem escolhas baseado no que elas acreditam, embora, muitas vezes, essas crenças são tão entranhadas que elas funcionam em um nível subconsciente. E por causa disso, a agricultura animal gasta milhões para criar marcas que apelam para nossas crenças e valores mais profundos, uma estratégia que é espetacularmente bem sucedida. Neste capítulo, eu avalio o que eu chamo antiideologia, uma abordagem behaviorista de ativismo que pede que foquemos em mudança comportamental. Os behavioristas não conseguiram reconhecer e aplicar a maioria das lições de marketing, quer dizer, as ideias que na verdade são muito importantes para se entender e desempoderar a cultura de comer animais. Eu então apresento o que eu chamo de ativismo centrado na verdade como uma estratégia para desafiar e desempoderar aquela cultura. Em linhas gerais, eu vejo o movimento de liberação animal progredindo até o ponto que ele pode conectar e integrar com outras lutas por justiça social do passado e do presente. Como o autor Jonh Sanbonmatsu escreve em seu livro, The Postmodern Prince, “Todo movimento social oferece uma visão parcial do sofrimento geral: como cacos de um holograma, cada um contem uma imagem refratada do todo – mas de uma perspectiva particular. Um indivíduo vê este sofrimento e pensa que é a exploração do trabalhador, enquanto um outro o vê como uma dominação masculina da mulher, e um terceiro o vê como a escravização em massa e extermínio em massa de seres de outras espécies. Nenhum deles está errado: cada um segura sua própria vela diante da totalidade – cada um vê a atividade prática do trabalho comum de outros em um todo interdependente. Somente quando esses campos perceptuais diferentes se juntam é que eles começam a se fundir em um.”
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