Por Lobo Pasolini (da Redação)
Recentemente, o colunista e polemicista profissional Arnaldo Jabor resolveu nadar contra a corrente e defender as touradas na Espanha, criticando a decisão ética da Catalunha de proibir esse barbarismo em sua região (ouça aqui a declaração feita pelo jornalista a favor das touradas, na rádio CBN).
Ele começa sua fala se desculpando aos membros da proteção e defesa animal, e segue em tom debochado afirmando que “ama” as touradas.
Jabor utiliza os mesmos argumentos das forças conservadoras e corruptas que vivem de subsídio da União Europeia que têm interesse em manter esse derramamento de sangue: ele afirma que gosta das touradas, pois seriam um mito nacional espanhol, e que a decisão pela proibição teria sido apenas uma estratégia tola ou uma mera conveniência política.
Jabor esqueceu de fazer seu dever de casa ao escrever a coluna. Ele disse, por exemplo, que tanto o toureiro quanto o touro correm risco de morte. Mentira. Os touros são dopados e mantidos no escuro antes de entrar na arena. Eles não têm chance contra o toureiro; o jogo é armado contra eles. Além do mais, nos raros casos quando o toureiro é ferido, os paramédicos correm para salvar sua vida.
Jabor diz, também, que tourada é arte. Uma arte baseada na violência? Já pensou se o cinema precisasse fazer uma guerra real para produzir filmes sobre guerra? Arte tem a ver com imaginação, consciência e não com exibições kitsch de falocentrismo e violência.
Outro erro de raciocínio que Jabor faz em defesa das touradas ocorre ao afirmar que quem come carne não pode ser contra esse barbarismo. Esse é um recurso típico de quem pretende calar qualquer manifestação a favor dos animais e justificar uma violência com outra. Ele ignora o fato de que muitas pessoas que são contra touradas são veganas. Quem consome carne e é contra touradas não está sendo hipócrita, apenas incoerente. Não existe paralelo entre os mecanismos de condicionamento cultural que induzem as pessoas a comer carne e a escolha que um indivíduo faz de ir a uma arena assistir ao assassinato de um animal. São duas violências distintas.
A tourada nada mais é do que uma demonstração do fascismo humano sobre os animais não humanos. Não é à toa que Franco adorava touradas e via nela um elemento-chave da identidade do seu reino de terror. A Catalunha fez a coisa certa ao excluir essa violência do seu território, historicamente muito mais de vanguarda do que o resto da Espanha. Se foi por motivos de compaixão ou por proteção de sua identidade cultural, não importa. As vitórias de direitos civis em geral foram ganhas por motivação econômica e social, e não porque a humanidade é ‘boazinha’. O importante é o efeito prático da decisão, que será uma realidade de menos animais assassinatos nas arenas da Espanha.
Mais uma vez, parabéns à Catalunha pelo exemplo dado ao resto da ‘mãe Espanha’, como Jabor diz. Uma boa mãe trata bem seus filhos, inclusive os não humanos.