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Aprender uma nova língua para ser um ativista mais eficaz

21 de janeiro de 2016
7 min. de leitura
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Por Melissa Martin. Tradução: Aderbal Torres
Eu adoro aprender novas línguas. Não é fácil. Leva-se muito tempo. Mas vale a pena quando eu posso me comunicar com outras pessoas falando outra língua. Acredito que os ativistas desenvolveram sua própria língua. Ativistas discutem apaixonadamente para conseguir que mais pessoas entendam as questões deles. Mas o fato é: essa língua ativista é eficaz na comunicação sobre os direitos dos animais? A língua de muitos ativistas dos direitos dos animais é a discussão, o debate. Em um debate, há um vencedor e um perdedor. Discutir e debater de forma eficaz é uma arte. No entanto, “ganhar a discussão” é a meta que devemos ter como ativistas dos direitos dos animais?
Particularmente, eu não acredito que discutir seja uma maneira eficaz de se comunicar. Quando discutimos, muitas vezes, paramos de ouvir uns aos outros e nos concentramos mais em “ganhar” a discussão. Claro, provavelmente nós não queremos, intencionalmente, entrar em discussões, mas elas acontecem quando falamos com alguém e percebemos que estamos em lados opostos, por completo, quando se trata dos temas comer carne e direitos dos animais. Há uma diferença no significado das duas palavras ‘discutir’ (que vem do latim, discutere e que significa “quebrar em pedaços, agitar”) e ‘diálogo’ (a partir da palavra original dialogesthai, dia = através de + legein = falar). Um diálogo é uma conversa entre duas ou mais pessoas ao passo que uma discussão pode inquietar a comunicação e ser mais combativa.
Não me entendam mal. Há um propósito para a discussão apaixonada: motivar e inspirar outras pessoas que já partilham o mesmo ponto de vista. Essa motivação é importante para encorajar e inspirar os outros nesse trabalho fundamental. Precisamos nos comunicar de forma eficaz, a fim de motivarmos a ação.
Lembro-me de quando aprendi sobre a conexão entre os animais e o meio ambiente, e comecei a entender como os animais são transformados em “comida”. Eu fiquei mortificada e senti como se eu devesse compartilhar minhas recentes descobertas com todo mundo que conhecia. Muitas vezes, enquanto jantava com amigos ou família e jogava conversa fora, um comentário simples se transformava em explosão de gritos. Isso aconteceu bastante ao me tornar vegana e ao contar que eu não comia carne. Por causa do meu entusiasmo sobre o assunto, ganhei o apelido de “hiperativista” e cada vez menos era convidada para festas e jantares. Muitas amizades antigas foram desfeitas porque a diferença de opinião se tornou o tema central ao ponto de ter sido melhor acabar com a amizade do que nos tornar inimigos. Logo percebi que meus métodos estavam deixando mais pessoas fora do vegetarianismo / veganismo do que os incluindo nesse saudável e compassivo estilo de vida.
Comecei a pensar em como poderia mudar minha tática. Percebi que a minha linguagem ativista apaixonada não estava funcionando. Decidi aprender outra língua: a de alguém que não concorda comigo.
Vamos olhar para a linguagem de um carnista, por exemplo. Quando as pessoas que comem carne descobrem que eu sou vegana, muitas vezes, elas dizem: “Eu adoro o sabor da carne”. No passado, eu falaria, já reagindo à informação (e aos comentários não bem-vindos), sobre as condições nas quais os animais vivem, como são abatidos, como não estão na terra para nos alimentar etc. Meus argumentos não eram ouvidos porque as pessoas com quem eu discutia não compartilhavam da mesma linguagem moral, o que significa dizer: a mesma perspectiva. Percebi que eu precisava aprender a sua linguagem moral e entender o que era importante para elas, a fim de ser ouvida. Agora, ao invés de dizer-lhes por que elas estão erradas em comer carne, eu paro para escutar o que elas têm a dizer para que eu possa entender melhor o que é importante para elas, e falar com elas na linguagem moral compartilhada.
O que quero dizer com isto? Bem, por exemplo, normalmente, quando um vegetariano diz que ele não come carne e o carnista diz que ele adora o sabor da carne, há uma discussão a partir dessas duas crenças opostas. Se eu responder, concordando, ou disser que eu amo o sabor da carne, o carnista não estará esperando esse comentário. Particularmente, eu compartilho contando que meus pais não eram vegetarianos, que eu sou do Sul do Estados Unidos — uma região com uma forte cultura no consumo da carne —, e que eu cresci comendo carne. Partilho essa informação porque é verdade, mas também porque quero me conectar com a pessoa e mostrar que temos coisas em comuns. Elas ficam mais receptivas, desde que não estejam na defensiva, quando eu lhes digo que encontrei algumas alternativas (como “carne vegetal”) deliciosas para a carne, que têm gosto igual à carne, mas não que não são produtos animais. A conversa então muda de discussão para um caminho compartilhado sobre deliciosos produtos vegetarianos, alimentos étnicos vegetarianos, restaurantes que servem opções vegetarianas. A conversa torna-se um diálogo muito mais agradável do que uma discussão. Eu escuto o que é importante para elas. Se elas falam algo sobre o preço, eu concordo. Alimentos especiais, processados, embalados, muitas vezes, são mais caros do que os preparados em casa. Partilho que se eu realmente quiser poupar dinheiro, eu preparo meus alimentos em casa (especialmente feijão e sopas), e compro itens extras quando em promoção. Encontro cupons e descontos online, procuro buffets e menus de almoço em restaurantes mais baratos, e bebo água ao invés de pedir bebidas diversas.
Quando falamos com alguém com opinião contrária ou lhes “colocamos na berlinda”, e elas não estão prontas, tendemos a ter uma discussão apaixonada usando nossa própria perspectiva. Ser apaixonados sobre o que acreditamos ser é uma ótima maneira para motivar outras pessoas com interesses semelhantes. No entanto, não é eficaz para persuadir aqueles que têm uma opinião contrária. Na próxima vez que estejamos à mesa de jantar com amigos ou familiares, cujos pontos de vista são opostos aos nossos, paremos e pensemos sobre qual é a perspectiva daquela pessoa que não concorda com a gente e tentemos falar com eles na sua própria língua.
Aqui estão alguns pontos de discussão:

COMENTÁRIOS DO CARNISTA

RESPOSTAS POSSÍVEIS

Eu gosto do sabor da carne.1. Há muitas alternativas apetitosas para carne, hoje em dia, no mercado.
2. Se você não gosta do sabor dos alimentos vegetarianos, tente uma comida diferente antes de desistir por completo do vegetarianismo.
Carne é mais barato.1. Lentilhas, feijão e sopas são baratos.
2. Não, em longo prazo: as complicações médicas de uma vida inteira de alimentos ricos em colesterol vão custar mais.
É fácil pedir carne em um restaurante.1. Muitos restaurantes têm opções vegetarianas no menu, e muitos chefs irão lhe atender, se você ligar com antecedência e conversar sobres opções veganas.
2. Acompanhamentos podem ser pedidos em conjunto para criar uma refeição, e podem ser mais baratos do que um prato principal.
3. Vá para restaurantes étnicos (chineses, tailandeses, etíopes, mediterrâneos), que tradicionalmente têm muitas opções vegetarianas.
Comer carne é conveniente.Há muitos alimentos pré-cozidos, embalados ou preparados (frescos ou congelados) que são bem práticos.

Claro que ser um ativista significa ser apaixonado pelo que se acredita, e por fazer as escolhas que fazemos acabamos com o sofrimento animal, mas sermos ativistas eficazes significa que precisamos parar de discutir com paixão e começarmos a aprender a ouvir e a falar a língua daqueles que não compartilham nossos pontos de vista. A próxima vez que você tiver uma discussão e desejar ganhar, tente falar a língua de seu oponente. Quando nos tornamos melhores ouvintes e persuadimos os outros por falar sua língua moral, então os verdadeiros vencedores serão os animais!

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