Por Monika Schorr (da Redação)
No centro de reabilitação de vida selvagem, Monkey Park, perto da cidade de Tamarindo, na Costa Rica, voluntários limpam os alojamentos dos animais, lavam os pratos sujos e ainda preparam as refeições para eles.
“É um trabalho realizado por amor”, disse Cinde Jeheber, nascida na Califórnia e voluntária assídua do santuário. Além de outras atividades, ela costuma cortar frutas para os macacos-prego-de-cara-branca e alimentar as jaguatiricas.
“Estar rodeada por esses extraordinários animais que, um dia, poderão ser libertados e reintroduzidos na natureza… eu não perderia isso por nada no mundo”, disse Cinde. “Agora está na hora de alimentar uma jaguatirica!”.
No entanto, Monkey Park e outros santuários similares estão enfrentando uma crise sem precedentes, à medida que a Costa Rica se debate com a questão de como cuidar dos animais selvagens em cativeiro, a maioria dos quais estará sem lar muito em breve.
Em julho, o governo divulgou planos para fechar os dois zoológicos públicos do país, enfatizando sua preocupação com a qualidade de vida dos animais em cativeiro. Mais de 400 animais, que residem atualmente nos zoológicos, serão transferidos para santuários particulares de todo país e os que tiverem condições de ser reabilitados serão devolvidos à natureza.
“Estamos eliminando as jaulas e reforçando o conceito de interagir com a biodiversidade de forma natural”, disse René Castro, Ministro do Meio Ambiente, numa coletiva de imprensa para anunciar o plano de fechamento dos zoológicos.
“Não queremos animais em cativeiro nem em qualquer forma de aprisionamento, a não ser que seja para resgatá-los ou salvá-los”.
Ao mesmo tempo em que as organizações de defesa dos direitos animais apoiam e comemoram a decisão do governo, uma nova lei que torna ilegal manter animais silvestres como animais domésticos ocasionou uma superlotação de muitos dos mesmos santuários que irão abrigar os ex-moradores dos zoológicos.
Desde o começo de 2013, os centros de resgate já receberam mais de 2 mil novos animais, o que é mais do que costumam acolher em um ano.
“Nós recebemos tantos animais, durante este ano, que fomos obrigados a recusar a permanência de mais animais”, disse Maria Pia Martin, veterinária do centro de resgate Kids Saving the Rainforest, situado próximo ao Parque Nacional Manuel Antonio.
“É muito difícil ter que negar amparo para animais, mas precisamos dar prioridade a quem podemos salvar para fazer o melhor possível para eles”.
Centros de Resgate impossibilitados de agir
A maioria dos centros de resgate de animais da Costa Rica são instituições sem fins lucrativos que recebem pouco ou nenhum subsídio do governo. Muitos deles funcionam com orçamentos limitados e espaço físico restrito, tornando sua expansão quase inviável.
Autoridades do Ministério do Meio Ambiente e Energia (MINAE), que supervisiona zoológicos e centros de resgate, dizem que o fechamento dos zoológicos e a implementação da nova lei sobre a ilegalidade de animais silvestres em ambientes domésticos são um avanço para garantir a preservação, a longo prazo, da exuberante biodiversidade do país. Costa Rica é o habitat de 5% de todas as espécies animais do planeta. No entanto, essas mesmas autoridades reconhecem que têm em suas mãos um grande desafio com que lidar.
Jose-Joaquin Calvo, diretor da área de vida selvagem do Sistema Nacional de Áreas de Conservação do MINAE, considera a situação uma “emergência” e disse que sua organização e demais instituições estão empenhadas no trabalho de abrigar os animais.
Desde que a lei que proíbe animais selvagens em domicílios foi aprovada em dezembro passado, o MINAE abriu uma exceção que permite que tutores que convivem com esses animais há muito tempo, mantenham-nos em suas casas, pelo menos por enquanto. O governo também está trabalhando em conjunto com especialistas em vida selvagem e organizações de defesa dos direitos animais como a Humane Society International para definir protocolos que estabelecerão diretrizes para orientar os santuários a adotar as práticas mais eficazes nas atuais circunstâncias.
“O governo admite a crise que se estabeleceu e está tentando educar a população para que não sobrecarregue ainda mais os centros de resgate”, disse Cynthia Dent, diretora regional da Humane Society International, que está exercendo suas atividades através de um acordo estabelecido com o Departamento de Estado dos EUA para instituir centros de resgate modelo em toda a América Central.
“Estamos também em processo de avaliação dos mais de 200 santuários de todo o país que abrigam animais selvagens”.
Fazendo muito com pouco
Por ora, os já superlotados centros de resgate continuam lutando e superando dificuldades da melhor maneira possível, com os parcos recursos de que dispõem.
Como exemplo, muitos desses centros estão recorrendo a grupos de voluntários que podem ser tanto estudantes do ensino médio até aposentados. Essas pessoas, que não recebem remuneração e que trabalham por curtos períodos de tempo, pagam uma taxa em troca de alimentação, hospedagem e pela oportunidade de estar em contato próximo com algumas das mais fascinantes espécies animais da Costa Rica e que, na sua maioria, estão ameaçadas de extinção.
Muitos santuários estão abrindo espaço para receber os animais. “Desde que a lei entrou em vigor, tivemos que ampliar nossas instalações para acomodar novos animais porque não havia forma de adaptar as existentes”, disse Adriana Aguilar Borbon, gerente de marketing do Proyecto Asis, centro de resgate de animais selvagens nas proximidades da pequena cidade La Fortuna.
“Dispomos de pouco mais de três hectares de área. A propriedade é grande, mas não o suficiente. Será bastante difícil encontrar espaço para todos os animais provenientes dos zoológicos”.
Enquanto os costarriquenhos tentam descobrir a maneira mais eficaz de avançar nesta questão, todos parecem concordar que a vida selvagem do país é uma prioridade.
“Quanto mais eficientes forem os centros de resgate em reabilitar e reintroduzir os animais na natureza, maior a oportunidade que os visitantes terão em vislumbrar a vida selvagem da Costa Rica em seu ambiente natural”, declarou Cynthia Dent da Humane Society.