O desmatamento, as queimadas e a expansão urbana têm levado algumas espécies de animais silvestres para as cidades do Alto Tietê. Em Itaquaquecetuba, por exemplo, só em 2021, mais de 150 animais já foram resgatados e devolvidos para a natureza.
A Guarda Ambiental, que foi criada neste ano, realiza o monitoramento em locais de mata, visando a preservação das espécies e o equilíbrio do ambiente dessas áreas naturais. “Nós temos, tabulados, todos os animais, as espécies e as localidades da cidade onde são encontrados. Isso é importante para a gente trocar informações com os médicos veterinários e os biólogos do parque ecológico, a fim de que as Secretarias do Meio Ambiente estadual e municipal tenham um controle do habitat dos animais e das espécies que nós abrigamos na cidade”, explica Anderson Caldeira, secretário de Segurança Urbana de Itaquaquecetuba.
Anderson explica que entre os animais mais comuns resgatados neste ano, estão um grande número de aves nativas, como a coruja-buraqueira e também o marsupial, saruê. Os pedidos de resgate são atendidos por chamadas de telefone ou notificações presenciais na base da Polícia Ambiental.
Como os animais dependem daquele meio ambiente para comer e se abrigar, é muito importante que eles sejam destinados à locais adequados e que atendam todas as suas necessidades. “Os nossos guardas ambientais vão até o local com equipamento adequado e fazem a contenção e o resgate do animal. Além disso, nós temos um convênio com a secretaria estadual do Meio Ambiente. Por meio do CRAS-PET, que é o Centro de Recuperação de Animais Silvestres do Parque Ecológico do Tietê, e eles fazem a recepção dos animais, que passam por uma triagem com biólogos e médicos veterinários, que fazem a ambientação desse animal. A maior parte deles, depois do devido tratamento e readaptação, é devolvida para seu habitat”, diz o secretário.
A bióloga Nadja Soares, explica que esses animais vivem em uma área cada vez menor, e normalmente circundada pelo perigo, como rodovias por exemplo. A criação de corredores ecológicos e a ampliação de matas ciliares dos rios, são excelentes alternativas e já deveriam constar no plano diretor das cidades que abrigam essas pequenas florestas.
“Os animais precisam do ambiente próprio. Então a gente precisa aumentar os fragmentos de florestas e o habitat para eles conseguirem viver ali, se alimentar e procriar no ambiente próprio deles. Para isso, precisamos ampliar essas florestas por meio da criação de mais fragmentos florestais, parques e o que chamamos de corredores ecológicos, que ligam um fragmento a outro. Os corredores fazem com que esses animais possam sair de uma área e ir procriar ou buscar alimento em outra sem o risco de serem atropelados, de entrarem nas casas e nas cidades”, pontua Nadja.
Para a bióloga, essa lenta migração para o meio urbano se dá por diversos motivos, entre eles as queimadas, que vêm aumentado nos últimos anos e se tornando cada vez mais fatais para a fauna. Ela também aponta para o caso da invasão das pessoas em áreas protegidas, como no caso do Parque Alfomares, na zona sul de São Paulo, mas com um impacto ambiental muito maior.
Em um parque da cidade de Mogi das Cruzes, uma placa avisa o visitante, logo na entrada, que ali vivem animais. Essa interação do humano urbano na natureza pode ser prejudicial para a fauna, pois muitas pessoas se encantam com os animais e querem alimentá-los com comidas artificiais e industrializadas, além de inserir outros vegetais que não fazem parte da dieta daquela espécie. O próprio parque proíbe a alimentação dos animais.
“A gente não deve alimentar animais silvestres. Primeiro porque a gente não conhece do que eles se alimentam. Os nossos alimentos já são produzidos de uma forma que não serve para os animais, então com certeza vai prejudicar eles. E uma outra coisa é que você está domesticando um animal silvestre e pode até estar trazendo risco para a sua saúde. O melhor é chamar a Zoonoses ou a Polícia Ambiental, para que venham resgatar esse animal e levar para o ambiente dele”, orienta Soares.
O Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê (Condemat) foi questionado sobre a possibilidade de criar os corredores ecológicos e ampliar as matas ciliares. Por nota, o Condemat informou que não existe nenhum projeto nesse sentido em andamento.