A devastação da Amazônia nos últimos anos teve grandes consequências: as mudanças climáticas provocaram um aquecimento nos últimos anos e a floresta perdeu grande parte da sua capacidade de reciclar água. O problema foi publicado em um relatório denominado “Mudanças Climáticas: Impactos e Cenários para a Amazônia”, que foi produzido por órgãos de pesquisa.
O estudo explica que a interferência humana é decisiva nos problemas atuais da floresta. “Devido ao desmatamento atual, que já cobre quase 20% da Amazônia brasileira, e a degradação florestal que pode estar afetando uma área muito maior, a Amazônia já perdeu de 40% a 50% da sua capacidade de bombear e reciclar a água”, diz o relatório.
“É como se o coração de uma pessoa tivesse a metade de suas células mortas ou doentes e, portanto, não conseguisse mais impulsionar o sangue pelo corpo todo. Isso é o que aguarda os pampas úmidos argentinos e as terras atualmente mais produtivas do Sudeste e do Centro-Oeste do Brasil, além da Bacia do Prata”, acrescenta.
Dados indicam que o ano de 2017 foi o mais quente desde o século 20. Entre 1949 e 2017, a temperatura aumentou em média 0,6°C a 0,7°C. José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), explicou ao Uol que o aumento é o bastante para causar consequências. “Talvez a população se adapte, ligando um ar-condicionado, se refrescando mais com a água. Mas a vegetação não consegue: ela morre e queima”, afirmou.
O pesquisador disse que as queimadas atuais na Floresta Amazônica aumentam as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, o que impulsiona o aquecimento global.
Marengo acrescentou que a previsão não é boa. O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) indica um aumento de até 4°C até o final do século 21, além de uma redução de 40% nas chuvas da Amazônia. “Essa mudança na temperatura do ar tem potencial para gerar grandes desequilíbrios em ecossistemas vitais para a sobrevivência da humanidade”, afirmou.
O pesquisador também adverte sobre as consequências do aumento de temperatura: acima de 4°C, a floresta pararia de trabalhar. Ou seja, o CO2 absorvido atualmente seria liberado no ar. “Basicamente, chegaríamos a um ponto de não retorno, e não só a floresta, mas outros sistemas poderiam colapsar. Haveria alterações no ciclo hidrológico global e haveria a possibilidade de extinção das espécies”, disse ele.
“Seria um caos, um mundo diferente, com todo o sistema muito afetado. Os recursos naturais também estariam bem comprometidos. Teríamos doenças, queda na qualidade da água, dos alimentos”, completou.
Marengo acredita que dados, como os fornecidos pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) são essenciais para ajudar a prevenir mudanças ambientais graves. As evidências científicas fornecem os dados para que o governo possa analisar e tomar as decisões mais razoáveis para solucionar o problema.
“O Inpe faz isso há mais de 30 anos, mas não só ele: a comunidade científica também publica revistas científicas, faz relatórios. Tudo isso produzimos. É o que nos compete, como cientistas, fazer. Ao governo cabe tomar a frente nas questões de prevenção, fiscalização, controle e criar as leis”, concluiu.