A Amazônia registrou um desmatamento de 312,23 km² em março, área 15% menor do que a registrada em 2021, de acordo com os dados do sistema de alertas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Deter, divulgados nesta sexta-feira (8).
Por outro lado, o primeiro trimestre de 2022 foi o pior da série histórica do Inpe. Janeiro, fevereiro e março, meses que geralmente não estão no foco dos desmatadores, tiveram juntos 941,3 km² de floresta perdida – uma alta de 64% em relação ao mesmo período do ano passado.
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Cristiane Mazzetti, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil, lembra que a divulgação dos dados ocorre na mesma semana em que o Brasil divulgou suas novas metas para redução das emissões de gases do efeito estufa, sendo que o desmatamento é a principal fonte de liberação do carbono no país.
“A conservação de florestas e outros ecossistemas está entre as soluções apontadas pelo IPCC para limitar o aquecimento do planeta em 1,5ºC . No entanto, o Brasil, que teria plenas condições de ser uma liderança climática, passa por uma gestão federal que caminha deliberadamente na direção oposta, agindo de maneira incompatível com os avisos da ciência”, afirmou Mazzetti.
No documento enviado ao órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) no combate às mudanças do clima, chamado de Nationally Determined Contribution (NDC), o país prevê reduzir suas emissões, em 2025, em 37% na comparação com 2005. Além disso, se compromete, em 2030, com a redução de 50% em relação a 2005.
Na análise de especialistas, os compromissos assumidos pelo país vão contra a proposta do Acordo de Paris, que estipulava a inclusão de metas mais ambiciosas na revisão. Além disso, compromissos assumidos durante a COP 26 (acabar com o desmatamento ilegal antes de 2030 e redução na emissão de metano) não foram incluídos na NDC.
Desmate fora de hora?
Normalmente, o período entre dezembro, janeiro, fevereiro e março acumula taxas menores de desmate já que estão dentro da estação chuvosa da maioria dos estados do bioma. No entanto, as taxas atuais se comparam aos registros da estação seca em anos onde houve maior ação contra os crimes ambientais.
. Em janeiro foram 430,44 km² de área sob alerta de desmatamento, de acordo com o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A média para janeiro no período entre 2016 e 2021 é de 162 km²; a taxa atual foi 165% maior;
. Em fevereiro foram 199 km² de áreas sob alerta de desmate, segundo o Inpe ; a média entre 2016 e 2021 é de 135 km²: o número registrado neste ano é 47% maior;
. Já em março, foram 312,2 km²; a média é de 279,3 km²: a área em 2022 é 11,8% maior.
Gabriel Lui, coordenador de Uso da Terra do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e ex-coordenador do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), reforça que as taxas nesta época geralmente são mais baixas.
“Se você olhar os números mensais e comparar com os períodos mais secos, esse período que a gente está vivendo agora é mais baixo. Só que o mais baixo desse período que estamos vivendo agora está sendo mais alto do que o baixo dos outros anos. A gente costumava detectar muito pouco desmatamento nesta época”, diz Gabriel Lui, do iCS.
Justamente por causa da chuva, o desmatamento fica mais difícil e custoso nesta época do ano. Há uma dificuldade de deslocamento no campo, de posicionamento de equipamentos pesados. Além disso, com o aumento da nebulosidade, os satélites tendem a detectar menos alertas. Mesmo assim, 2022 começou com recordes de perda de floresta.
Fonte: G1