É uma história de convivência: com mais cegonhas do que gente no verão, a aldeia polonesa de Zywkowo protege estas aves majestosas, que atraem turistas, prosperidade e, segundo a lenda, até bebês.
“Na década de 1960, havia 120 moradores da aldeia e 20 cegonhas. Hoje em dia, é todo o contrário”, disse à AFP Wladyslaw Andrejew, fazendeiro aposentado de 64 anos.
Com o apoio de uma ONG e recursos europeus, esta aldeia no norte da Polônia, muito próxima do território russo de Kaliningrado, conta com estas aves pernaltas para atrair os turistas, gerar trabalho e contrabalançar o êxodo rural.
Por isso, os aldeões não poupam esforços para receber este grande pássaro branco, símbolo de sorte para os povos eslavos e escandinavos.
“Cortam a grama, cavam estanques, montam novas plataformas para seus ninhos, consertam as novas, isolam as linhas elétricas para a segurança das aves”, disse à AFP Adam Lopuszynski, gerente de uma fazenda que pertence à associação PTOP, uma ONG para a proteção das aves com sede em Bialystok, no nordeste da Polônia.
Embora a região seja muito pobre para prender os jovens, estas aves de bico vermelho encontraram em Zywkowo seu paraíso na Terra. Mais de 15 mil casais de cegonhas brancas chegam anualmente à Polônia. Neste país de lagos e pântanos há 50 mil destas aves, o que representa 20% da população mundial, segundo as autoridades locais.
Andrejew tem sido um apaixonado pelas cegonhas desde a infância. Ele consertou e construiu ninhos para seus amigos alados nos tetos, nas árvores e postes de sua fazenda. Ele já as contou, observou e às vezes alimentou e protegeu. Em 2004, um ano recorde, recebeu em sua fazenda 27 casais que tiveram 38 filhotes.
“Com as cegonhas é como tudo o relacionado com a natureza: é preciso colocar o coração. E depois trazem boa sorte”, assegurou. “Sempre vivemos sob a asa protetora das cegonhas e nunca sofremos com a pobreza”.
Todos os anos ela se impacienta na primavera quando ouve os grasnidos característicos destas aves, procedentes da África, que vêm passar o verão na Polônia. “No inverno, quando as cegonhas não estão, o silêncio é terrível”, disse. “No outono, choramos ao vê-las partir”.
Ao se aposentar, Andrejew vendeu à associação PTOP sua antiga casa de trabalho, onde foi lançada uma série de projetos para promover o acolhimento de cegonhas na região. Zywkowo, antes decadente e sem esperança, vê nas cegonhas uma segunda chance.
“Compramos caminhões com elevadores como os usados pelos bombeiros, que nos ajudam a consertar os grandes ninhos nas alturas”, contou Lopuszynski. As pessoas gostam de ver as cegonhas pousadas em grandes ninhos, que pesam 500 quilos, mas podem chegar a duas toneladas, nos telhados de suas casas.
A associação PTOP adquiriu ou arrendou 75 hectares de terra ao redor de Zywkowo. A ONG as explora de forma convencional, pois “as cegonhas se instalam onde há um mosaico de pequenas parcelas de terra”, explicou Lopuszynski.
“Queremos demonstrar que se cuida a natureza, se pode viver ‘lado a lado’ com as cegonhas”, acrescentou este sociólogo que virou especialista na vida animal.
Uma grande torre de observação construída pela PTOP atrai observadores de aves. Um percurso didático pelo povoado oferece a turistas que passam a informação necessária sobre estas aves.
O programa de três anos para a proteção das cegonhas na região de Zywkowo, cofinanciado pela União Europeia, é dotado de 1,5 milhão de euros, afirmou Sebastian Menderski, responsável pela PTOP.
“Fazemos tudo pensando nas cegonhas”, disse à AFP. Para o prefeito do povoado, Stefan Hryszko, o futuro da região está relacionado com as cegonhas. “Se todos os jovens vão, o povoado vai desaparecer”, afirmou.
“Graças à cegonha, há investimentos, há postos de trabalho e se constrói. Isto manterá a vida aqui”. Além disso, “a cegonha é a que traz os recém-nascidos! Segundo alguns, é suficiente que uma mulher veja uma cegonha para ficar grávida”, brincou Andrejew, pai de cinco filhos, em alusão à antiga lenda que inspira livros infantis, alertas publicitários e informes de nascimento.
Fonte: Terra
Nota da redação: embora a convivência seja harmoniosa atualmente, é necessário questionar se esta harmonia seria mantida caso não houvesse um interesse econômico por trás dos cuidados com as cegonhas. A defesa de uma vida equilibrada e harmoniosa com animais não-humanos envolve o reconhecimento de seu valor moral mesmo sem nenhuma vantagem econômica como recompensa.