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AMOR INCONDICIONAL

Fugindo da guerra: ucraniana caminha 17 km com cão idoso nos braços até a fronteira da Polônia

Alisa, de 35 anos, contou que fugiu para a Polônia depois que a Rússia começou os bombardeios contra a Ucrânia

10 de março de 2022
Thayanne Magalhães l Redação ANDA
4 min. de leitura
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(Foto: Alisa / The Guardian)

Para fugir da guerra, Alisa, uma ucraniana de 35 anos, caminhou mais de 17 km com seu cão idoso nos braços até a fronteira com a Polônia. Ela contou que seu cão tem 12 anos e meio e lutava para andar e caía a cada quilômetro e não conseguia se levantar de novo. Assim, o seu marido, por vezes, carregou o cão sobre os ombros.

Ela diz que perdeu o pai de 59 anos em 23 de fevereiro e no dia seguinte a guerra da Rússia contra a Ucrânia teve início. “Enquanto muitas pessoas deixavam Kiev, eu e o meu marido estávamos tentando separar documentos funerários. A sirene tocava de todos os lados e os tanques circulavam pela cidade. Recolhemos quase todos os documentos, encomendamos um restaurante para uma comemoração, mas como o cartório foi evacuado, e não nos deu um documento final, o crematório se recusou a fazer a cerimônia do meu pai”, lamenta.

A família de Alisa deixou Kiev em um pequeno carro Peugeot 307. “Éramos nove, eu, a minha mãe, a minha irmã, os nossos dois maridos, quatro filhos e dois cães grandes, incluindo um pastor alemão idoso. Era impossível mover-se dentro do carro. Conduzimos durante 16 horas até uma aldeia a cerca de 140 km de Kiev”, conta.

“Decidimos deixar a aldeia no final da manhã porque era perigoso. Perto da fronteira com a Polônia havia muitos carros e não podíamos ficar no carro durante os três – ou cinco – dias seguintes, por isso decidimos caminhar os últimos 17 km até à fronteira. Saímos às 4 da manhã – estavam sete graus negativos. Foi uma viagem difícil e a nossa volta havia montanhas e rios. Os meus filhos chorando de frio. Eu também queria chorar, mas não podia desistir. A ideia de ir à fronteira foi minha”, continuou.

Parei os carros e pedi ajuda, mas todos se recusaram; nos aconselharam a deixar os cães. Mas os nossos cães fazem parte da nossa família. O meu cão viveu conosco todos os momentos felizes e tristes. O cão da minha mãe é tudo o que lhe resta da sua vida anterior. Assim, o meu marido, por vezes, carregou o nosso cão sobre os ombros”, lembra.

“Chegamos à fronteira e havia cerca de cinco, ou talvez sete, tendas vermelhas e uma grande multidão. Pouco antes de entrar numa tenda vermelha, uma mulher me pediu para levar a sua filha de 11 anos e ajudá-la a não se perder – uma mulher estava à sua espera na Polônia. É claro que eu concordei ajudei”, contou Alisia.

Ela contou ainda que ficaram em uma tenda durante cerca de sete horas. “Estávamos todos lá dentro, cães e cinco crianças, todos com os pés molhados. Foi difícil física e psicologicamente – muitas pessoas à nossa volta precisavam de ajuda e de medicamentos. Parecia que estas tendas vermelhas nunca mais acabavam. Mas quando demos os nossos primeiros passos na Polônia, quando mostrámos os nossos passes, foi então que percebi que estaríamos bem, que estávamos num lugar seguro”, disse a ucraniana.

Nesse momento de alívio, ela sempre que seu marido não conseguia atravessar a fronteira devido à sua idade e à ordem de mobilização. “Ele voltou para a aldeia para tomar conta da mãe e da avó. Só lá estão sete senhoras e quase todas têm mais de 60 anos de idade. O marido da minha irmã também está lá, com os seus pais e um amigo dos pais. Todos eles estão numa pequena casa sem água. Não há loja, farmácia, água ou comida na aldeia e ele e o marido da minha irmã estão usando lenha para aquecer a casa”, contou.

Alisa lamenta ter que deixar seu país e disse que ainda não decidiu se irá ficar na Polônia ou seguir para a Alemanha. “Foi difícil deixar a Ucrânia. No início perdi o meu pai, e agora deixo lá o meu marido. O meu marido é o meu melhor amigo, assistente, conselheiro. O nosso amor sem limites é o que me dá força agora. Por agora, o que vou fazer com os meus filhos, é decidir onde quero ficar: aqui na Polônia, ou ir para a Alemanha, como todos os meus colegas”.

A ANDA reproduz na íntegra o relato de Alísia divulgado no The Guardian.

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