Eu acredito realmente que veganos votando no candidato Jair Messias Bolsonaro (PSL) estão sendo os mais especistas. A lógica é simples. Esse voto para muitos é uma reação de ódio ao PT, e nesse caso quem vai pagar a conta são os animais, simplesmente porque a cólera humana desconsidera até mesmo as lutas em defesa dos mais vulneráveis. E ódio é uma manifestação de ego, uma manifestação de veleidade. E mesmo quando não há ódio, há pelo menos uma torrente de incoerências.
Não vejo maior prova disso do que o endosso às três bancadas que historicamente neste país mais desprezaram os animais – ruralista, religiosa e armamentista. Ninguém nega que a JBS cresceu assustadoramente no governo PT, e que há sim muita culpa nos benefícios concedidos à JBS, mas, francamente, eu não acho prudente ficar olhando pra trás quando um candidato a presidente já firmou compromisso para os próximos quatro anos de transformar o Brasil em um país ainda pior para os animais, com apoio de centenas de deputados que olham para os animais como objetos, bens de consumo e até mesmo lixo.
Estou falando de um candidato a presidente que apoia abertamente caça (mesmo que você diga que seja apenas javali, ainda assim é caça). Ademais, firmou compromisso com o Clube de Caça de Goiânia. O senhor Bolsonaro também apoia vaquejada, pesca em área de proteção ambiental e já disse que vai sair do Acordo de Paris (o que consta em seu plano de governo), que é o único compromisso do Brasil com a redução da emissão de gases do efeito estufa. Sem qualquer preocupação, deixou claro que as questões ambientais passarão pela bancada ruralista, o que coloca as nossas reservas naturais em risco mais premente.
Fico imaginando qual vai ser o futuro de uma nação onde uma vitória política pode significar a fusão de um ministério tão importante quanto o do meio ambiente com o da agricultura (conforme plano de governo do candidato), ainda mais em um país onde o lucro está acima de tudo. O que pensariam sobre isso figuras como Chico Mendes, a freira Dorothy Stang, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo? Mortos brutalmente tentando defender aquilo que não tem preço – o meio ambiente.
Vivemos no país que mais mata ativistas ambientais, e há pessoas que querem eleger um candidato que inclusive sugeriu o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 916/13, que previa a proibição aos agentes de fiscalização ambiental de usarem armas de fogo. Que momento estranho, que realidade estranha.