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Ação humana leva à redução de água na Amazônia, revelam estudos

11 de novembro de 2019
4 min. de leitura
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Rios e lagos estão perdendo volume e áreas úmidas estão desaparecendo na floresta amazônica


Um estudo do WWF-Brasil e do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), publicado na revista científica Water/MDPI, revelou que 350 km² de área coberta por ambientes aquáticos foram perdidos por ano desde a década de 1980.

“Essa perda significa que a cada ano temos menos água do que o esperado na Amazônia. Pequenos rios, lagos, estão perdendo área e volume e as áreas úmidas estão desaparecendo”, afirma Bernardo Caldas, analista de conservação do WWF-Brasil.

Rio Negro (WWF / Michel ROGGO)

As causas dessa redução de água, segundo o estudo, são alterações no regime de chuvas, desmatamento, uso do solo e obras de infraestrutura – como barragens. Grandes obras alteram a dinâmica natural do ecossistema e modificam os corpos hídricos e fluxos de água, que impactam todo o sistema.

As intervenções humanas estão mais presentes no arco do desmatamento, na região sul da floresta amazônica. As informações são do portal oficial do WWF.

“É necessário um planejamento ambiental estratégico que considere o impacto das grandes infraestruturas, mais o causado por um conjunto de milhares de pequenas obras que cumulativamente afetam uma bacia hidrográfica”, finaliza Bernardo Caldas.

A descoberta do levantamento é corroborada por outro estudo, feito pela NASA e publicado no final de outubro. Segundo a pesquisa, a atmosfera acima da Amazônia está secando nos últimos 20 anos, o que aumentou a demanda por água e deixou os ecossistemas vulneráveis a incêndios e secas. De acordo com os pesquisadores, o aumento da seca é, principalmente, consequência da ação humana.

“A mudança na aridez atmosférica está muito além do que seria esperado da variabilidade natural do clima”, diz Armineh Barkhordarian, principal autor do estudo.

“É uma questão de oferta e demanda. Com o aumento da temperatura e o ar seco, as árvores precisam de mais água do solo para transpirar. Mas o solo não tem água extra para as árvores”, explica Sassan Saatchi, co-autor do estudo. “A demanda está aumentando, a oferta está diminuindo e, se isso continuar, a floresta poderá não ser mais capaz de se sustentar”, completa.

Para o pesquisador do Imazon, Carlos Souza Jr., o estudo da NASA reforça a hipótese de que o clima também contribui nesse processo. “A hipótese do nosso estudo é que há dois vetores que estão contribuindo para a perda de superfície de água na Amazônia: uso da terra e mudanças climáticas. As alterações do uso da terra foram evidenciadas no nosso estudo, com o desmatamento causando a ruptura da rede drenagem impactando pequenos rios e lagos”, assegura Souza.

Diante deste cenário, o Imazon pretende continuar investigando as consequências da redução de água na Amazônia.

“Nossa próxima investigação será analisar como esses impactos na redução da água vão afetar as populações tradicionais e indígenas, a produção de alimentos e de energia, e a biodiversidade. A redução da água pode ser um dos primeiros sinais mais claros de tipping point na Amazônia. Precisamos entender como o efeito combinando do clima e uso da terra podem acelerar esse processo e atingir outros ecossistemas. Estamos num momento crucial em que a ciência precisa ser entendida pela sociedade e ser considerada seriamente nas políticas públicas da região”, diz Carlos Souza Jr.

Consequências

As árvores e plantas retiram água do solo e, por meio dos poros das folhas, liberam vapor de água na atmosfera, resfriando o ar. Esse vapor eventualmente sobe e forma nuvens, dando origem à chuva. As florestas tropicais geram até 80% da própria chuva, especialmente durante a seca.

Com a diminuição de água, além do Brasil, países como Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai são atingidos, já que todos eles recebem vapor de água da floresta amazônica, que é levado pelo ar. Com isso, menos chuvas são registradas.

Técnicas utilizadas

O WWF Brasil e o Imazon usaram imagens de satélite Landsat coletadas durante 33 anos – de 1985 a 2017. Para a realização do estudo, foram usadas tecnologias de processamento de dados em nuvens de computadores e uma análise dedicada com parceiros do Imazon.

Denominado “Um recente aumento sistemático do déficit de pressão de vapor na América do Sul tropical”, o estudo da NASA, que foi publicado em outubro na Scientific Reports, usou dados do instrumento Atmosfer Infrared Sounder (AIRS) da NASA a bordo do satélite Terra.


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