Por Juliana Akemi N. Majikina (da Redação)
A rampa na fábrica de carne Cargill carrega diariamente para a morte 5.100 bovinos, e o jornalista Ted Conover queria saber o motivo de haver um odor de amônia extremamente forte no ar. “Por que o cheiro é tão ruim?”, ele pergunta a um trabalhador do matadouro. O rapaz diz que os animais estão assustados, “Eles não querem morrer”.
Essa conversa é a abertura do artigo escrito pelo jornalista Ted Conover “The Way of All Flesh”, publicado na edição de maio de 2013 da Revista Harper. Conover é um jornalista de “imersão”, que não fica parado em frente ao objetivo de sua matéria apenas registrando histórias contadas por outros. Ele prefere se comunicar de dentro. Ele “incorpora”.
No final de 2012, o jornalista se infiltrou em um matadouro em Schuyler, Nebraska, tornando-se inspetor do Departamento de Agricultura dos EUA. Passou seis semanas em Schuyler, aprendendo e executando o trabalho de um inspetor de carne. Ao longo do caminho, ele observou todos os aspectos de uma operação industrial em um moderno matadouro. As informações são do site Care2.
Dentro de um Matadouro
É uma história fascinante, um pouco perturbadora, e muitas vezes terrível. O artigo de 18 páginas de Conover detalha tudo, desde as condições da usina (muito mais limpa e mais moderna do que ele esperava) até as atitudes dos funcionários (que são, em sua maioria, apenas pessoas comuns como o resto de nós).
Eu já disse que esta é uma história “terrível”? Eu a escrevo porque o artigo de Ted confirma algo que já ouvimos antes. Quando as vacas “são abatidas” – ou seja, quando são atingidas na testa por um disparo feito por uma arma de ar comprimido – elas não necessariamente morrem. Elas ficam penduradas por uma perna em um trilho suspenso. No entanto, ele diz em seu artigo:
“De vez em quando um animal chutava violentamente, esporadicamente. Elas ainda não estão realmente mortas. Na maioria dos casos, aparentemente, o que ela diz é verdadeiro e intencional: o bombeamento do coração dos animais irá ajudar a drenar o sangue de seu corpo uma vez que seu pescoço for cortado, o que acontecerá nos minutos seguintes. Quando o trilho tiver dado uma ou duas voltas, os chutes vão cessar”.
Antes de iniciar sua investigação, Conover conversou com grupos de direitos dos animais que já haviam infiltrado com sucesso, trabalhadores disfarçados em fazendas e matadouros. O jornalista queria entender como eles sabiam onde investigar, a fim de trazer à tona os diversos abusos, da mesma forma como estes grupos têm feito nos últimos anos.
Mercy for Animals, PETA e a Humane Society dos Estados Unidos disseram à Conover que eles realmente não tinham como alvo nenhuma empresa em particular. Eles simplesmente iam aonde poderiam ter alguém contratado. Ted diz que o fundador da Mercy for Animais, Nathan Runkle, lhe disse que “Nunca encontrou um local onde não houvesse abuso. Encontrá-lo não é a questão. Nosso desafio é apenas para ter uma câmera lá quando isso acontecer”.
No entanto, ao contrário dos abusos desenfreados descobertos por essas organizações, Conover não teve nenhuma grande história de crueldade para contar sobre suas seis semanas em Schuyler. O dia-a-dia, os detalhes operacionais normais de um matadouro normal, já são perturbadores o suficiente. Por exemplo, ele viu na esteira, entre as vísceras, úteros de vacas prenhes e, ocasionalmente, os pequenos corpos cinzas e molhados de bezerros que não tiveram a chance de nascer.
Será que você come esta carne?
A qualidade de uma parte da carne e os órgãos vistos deixou o jornalista realmente preocupado. Sobre os animais, ele disse à Food Safety News:
“Quando você vê a condição insalubre de vários de seus corpos, você fica menos interessado em comer carne. Estou falando pessoalmente, não é necessariamente porque eu ache que isso vai me fazer mal, mas ao olhar para seus corpos, desde as contusões até as infecções, você vê que nem todas tiveram uma boa vida. Elas não tiveram uma alimentação saudável.”
O artigo de Conover também descreve a “regularidade perturbadora” com a qual os fígados dos bovinos abatidos tinham abscessos do tamanho de um ovo, tornando-as inutilizáveis. Sobre os fígados, ele escreve:
“Mas, então, havia uma parte deles repleta de abscessos… Não só isso, mas no meio dessas estrias, você podia ver coisas grotescas e assustadoras: fígados deformados, dificilmente parecendo um fígado, ou tumores que se transformavam em algum outro tipo de víscera. Este tecido doente, às vezes, faz você sentir como se devesse parar de respirar e dar um passo para trás…”.
No final, o artigo conta que Conover esperava que essa experiência fosse transformá-lo em um vegano. Surpreendentemente, isso não aconteceu. Mas, depois de conhecer a indústria de carne, o seu consumo de carne foi reduzido.
Nota da Redação: Vale ressaltar que apesar de muitas ONGs realizarem investigações de infiltração como esta, eles não estão em busca de flagrantes de maus-tratos para cobrar que os matadouros melhorem suas condições em defesa dos animais. Isto seria uma grande hipocrisia – e infelizmente também há quem o faça. Mas como disse o jornalista Conover, tudo em um matadouro já é suficientemente cruel e pesado. Casos de abuso são ainda pior, mas não são o problema. A questão primordial é que os animais têm direito à vida, à liberdade, não estão aqui para servirem como escravos dos humanos, confinados, vivendo e morrendo para satisfazer nossos desejos. Sendo assim, o veganismo é o princípio básico na defesa dos direitos animais. Ao deixar de consumir produtos de origem animal, deixamos de financiar sua escravidão.