“I have no doubt that it is a part of the destiny of the human race, in its gradual improvement,
to leave off eating animals, as surely as the savage tribes have left off eating
each other when they came in contact with the more civilized.”
(Henry David Thoreau)
O livro Mente Seletiva fala de um assunto também estudado por Charles Darwin, a seleção sexual.
Ele afirma que muito do nosso comportamento social elaborado, que muito de nossa inteligência pode ter vindo da seleção sexual e não tanto da seleção natural.
Atitudes como tocar violino, saber fazer poesia, escrever e apreciar a arte seriam artifícios que fizeram parte da história humana, na escolha do parceiro.
O livro brinca que nos tempos de nossos ancestrais, na volta de uma fogueira, eles não ficavam mudos apenas pensando em comida. Nestes momentos, eles estimulavam a linguagem, conversavam sobre seu cotidiano, faziam música e seduziam! Para conquistar o sexo oposto, valeria a pena aprender a tocar instrumentos, a manusear o fogo, a fazer obras de arte, desenhos etc.
Este livro é uma ótima sugestão de leitura, para os que querem conhecer um pouco mais do comportamento humano.
Quando já não há mais argumentos contra a atitude atual e moderna de não comer carne e não explorar animais, sempre recebemos as críticas vazias daqueles que nunca leram um livro sequer sobre o assunto, mas adoram gritar: “nos tempos das cavernas a carne era fundamental!”
Na verdade há estudos apontando a agricultura como constituinte do desenvolvimento da inteligência e da sociabilidade, já que para plantar era preciso se estabelecer em um local. Com o sedentarismo, os povos teriam mais tempo para outras atividades lúdicas e para desenvolver a inteligência.
Logicamente a caça foi importante em algum momento, mas aí a vir ser argumento para nossa sociedade moderna é demais.
Já ouvi de uma estudante de História este argumento fraco e baseado em poucos estudos. Na verdade, é apenas uma falácia.
Sobre a origem do ser humano se tem poucas certezas. Até hoje existem divisões entre cientistas, que ainda não definiram onde o ser humano surgiu. Existem muitos estudos e muitas divergências.
Afirmar a importância da carne é apenas um blefe de quem não sabe a complexidade deste assunto.
Nunca se afirma a importância da violência, embora se saiba que nossa espécie evoluiu de ancestral muito violento, machista e dominador. Estudos indicam a agressividade humana, mas curiosamente se tenta esconder a todo pano esta informação.
Estudos também afirmaram o porquê da dominação do homem sobre a mulher. Inclusive afirmando que nos “tempos dos nossos ancestrais” era extremamente benéfico para a mulher ter um troglodita ao seu lado.
E agora, sabendo disso, serei a favor da violência hoje? Irei escrever para as feministas dizendo isto? Só se eu fosse uma idiota apegada ao passado. Um passado que nunca vivi. E que hoje não faz diferença alguma nas minhas escolhas.
Este apego ao passado só funciona em teoria, pois a humanidade tende a renegar o seu passado, que na maioria das vezes é obscuro.
O passado apenas serve-nos de objeto de estudo, de maneira que possamos entender nosso comportamento atual, mas nunca é argumento para nossos atos cínicos de agora.
A caça é apenas uma modalidade praticada por alguns povos, em determinadas épocas e condições ambientais. Mas, os defensores da caça, da carnificina, adoram dizer que “desde os tempos das cavernas se caçava”. Balela!
A importância da carne no passado, se é que teve alguma, não importa nem um pouco em nossa atitude consciente de ser vegano hoje e acabar com a exploração generalizada e banalizada dos animais.
Assim como o canibalismo existiu em muitos povos e aqui mesmo, no Brasil, foi importante para o desenvolvimento dos guerreiros de então, foi ato de coragem e profundamente cultural, para os antropocêntricos de plantão, hoje ninguém vem nos argumentar e defender o canibalismo com base no que nossos ancestrais faziam. Por que não? Por que a mente antropocêntrica atual não admite mais este tipo de barbárie, mas a barbárie de explorar os animais ainda é aceita.
Já estou cansada desse povo arrogante, que vem com mil explicações de coisas que nunca leram.
Eu, que já li diversos livros sobre comportamento animal, ainda não sei nada e talvez nunca irei saber sobre os golfinhos, sobre outros primatas, sobre aqueles animais já extintos. Mas este povo detentor do “saber” vem com mil afirmações que tiram da cabeça deles apenas. Ou do programa de TV, ou da Revista mais pobre em conteúdo, mas que todo mundo lê. E ainda nos pedem para nos informarmos, que generosidade!
E quando estamos indignados com a ignorância alheia, esta ignorância de quem tem curso superior, mas nunca leu um livro decente, além dos best sellers, ainda somos tachados de intolerantes, como se devêssemos ser um exemplo para tudo, enquanto estas pessoas nunca refletem sobre a sua intolerância, sobre o seu preconceito, sobre a sua ignorância.
E seguem divulgando os chavões, os clichês que ouvem desde o “tempo das cavernas”, não param de reproduzir as mesmas frases, os mesmos textos copiados da internet.
As coisas que aprendi no primário, por exemplo, logo se tornaram falsas assim que abri um livro melhor. Pois a educação no Brasil ainda é atrasada em alguns colégios. Infelizmente se reproduzem ideias errôneas sobre tudo, ainda se fala de História de uma maneira distorcida. Ainda se ensina errado a nutrição em algumas escolas. Em outras, as coisas estão mudando.
E as pessoas seguem suas vidas sem nunca se atualizar nestes assuntos.
Na roça a gente entende a falta de estudo, mas na cidade grande, com internet na mão, não se pode perdoar essa avalanche de preconceito e “espírito de porco”, para usar um termo bastante especista.
O que tenho notado nos meios de comunicação é a raiva crescente de pessoas que entram em nossos espaços de divulgação e nos deixam comentários cínicos, desaforados. Imagino que elas sentem muita raiva pois estão percebendo que o veganismo hoje é completamente autossustentável, possui diversos argumentos a favor e em diversas áreas. Nutricionalmente estamos cada vez melhores e a cada dia surgem novos estudos aliados aos antigos sobre a importância de uma dieta vegana. Estudos publicados há décadas estão aparecendo, junto a novos estudos, pessoas estão usando sua criatividade para criar novas alternativas alimentares livres de sofrimento animal.
Mas ainda temos de conviver com os pseudoargumentos sobre o sentimento das plantas (afirmação já refutada há décadas por cientistas), sobre a caça, sobre a carne etc. Sempre retrocedendo milênios no conhecimento, insistindo em reproduzir chavões ridículos.
Temos que ouvir muitas vezes de pessoas com curso superior, que só no Exterior se tem condições para substituir o uso de animais na pesquisa, por exemplo. E que aqui seria praticamente impossível.
Mas aqui mesmo no Brasil já se faz isso. Nos chamam de obscurantistas por querer abolir o uso de animais em ensino e pesquisa, mas estas pessoas estão atrasadas mais de 30 ou 40 anos em relação a alguns países ou a algumas faculdades aqui mesmo no Brasil. Mas não querem mudar. Querem continuar com a mesma prática bárbara e atrasada que não leva a muitos resultados.
Há publicações que jamais foram traduzidas no Brasil, mas que poderiam esclarecer muitos destes preconceitos que apenas seguem se reproduzindo. Publicações que trazem alternativas ao modelo animal, que já existem, e encorajamento para que se pesquise mais sobre isto.
O conhecimento não deve apenas ser reproduzido, ele precisa ser vivenciado. Nao podemos passar a vida inteira propagando ideias que nem mesmo sabemos se são realmente verdadeiras. E devemos nos desapegar do passado, daquilo que convém a alguns interesses apenas.
A Mente Seletiva
Como a escolha sexual influenciou a evolução da natureza humana
Geoffrey Miller
Ciência 544 páginas
Muitos aspectos envolvendo o “como” e o “porquê” da evolução da mente humana ainda são um mistério, assim como a teoria da seleção natural também não ofereceu soluções para a rapidez com que a mente humana evoluiu.
Este livro, um trabalho pioneiro da ciência evolutiva, tenta explorar e explicar estes aspectos da natureza humana. A obra mostra o poder evolutivo da escolha sexual e as razões pelas quais nossos ancestrais sentiram-se atraídos não apenas pelos rostos mais graciosos e corpos mais saudáveis, mas pelas mentes sagazes, articuladas, generosas e lúcidas.
Recorrendo a novas ideias da biologia evolutiva, economia e psicologia, Miller ilumina seus argumentos com exemplos que vão da história natural à cultura popular.
GEOFFREY F. MILLER é pesquisador sênior no Centre for Economic Learning and social Evolution no University College, em Londres.