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AMEAÇA AOS RECURSOS HÍDRICOS

81% do desmatamento no Cerrado atingiu 5 bacias hidrográficas

Dados de 2023 do SAD Cerrado mostram que o bioma perdeu 1 milhão de hectares, aumentando o risco de escassez de água em mais de 300 municípios

25 de março de 2024
Redação Galileu
4 min. de leitura
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Foto: Flávio André (MTUR) | Wikimedia Commons

Visando incentivar o debate sobre recursos hídricos, a data 22 de março é Dia Mundial da Água, segundo estabeleceu a Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, é importante discutirmos sobre o Cerrado, conhecido como a “caixa d’água” do país: em 2023, essa região sofreu desmatamento, sobretudo em áreas de bacia hidrográfica.

No ano passado, 81% do desmatamento no Cerrado — que concentra doze das principais regiões hidrográficas do Brasil — ocorreu em cinco bacias: a do Alto Tocantins, do São Francisco Médio, do Alto Parnaíba, do Itapecuru e do Araguaia. É o que mostram os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

A derrubada de vegetação ocorreu no norte do bioma e na região do Matopiba, onde ficam nascentes de importantes rios (como o Araguaia e o Tocantins). No total, foram derrubados 1 milhão de hectares.

Ao perder vegetação nativa, o Cerrado perde também capacidade de absorção e retenção de água e pode sofrer com o rebaixamento dos lençóis freáticos. Os especialistas consideram que esse cenário pode ter elevado o risco hídrico de 373 municípios.

“O desmatamento afeta diretamente os recursos hídricos, e estudos recentes mostram uma diminuição da vazão dos rios no Cerrado nos últimos anos devido às altas taxas de desmatamento no bioma”, constata Fernanda Ribeiro, coordenadora do SAD Cerrado e pesquisadora do Ipam. “Essa redução pode impactar o abastecimento hídrico de cidades, a produção de energia elétrica e a agropecuária”, diz em comunicado do Ipam.

A bacia hidrográfica mais desmatada em 2023 foi a do Tocantins Alto, que também é a maior do Cerrado. Ela é fundamental para o escoamento e a irrigação da produção agrícola no centro do Brasil. Nessa área, o Ipam registrou uma perda de 274 mil hectares de vegetação nativa – ou seja, 26% do que foi derrubado.

A segunda mais prejudicada foi a bacia do Médio São Francisco, onde foram desmatados 200 mil hectares de vegetação nativa (14,4% do total no Cerrado). Essa região contém os principais afluentes do Rio São Francisco que, por sua vez, abastece mais de 15 milhões de habitantes e tem quatro usinas de geração de energia.

Outra bacia bastante impactada foi a do Alto Parnaíba, com 189 mil hectares derrubados (cerca de 13% do registrado no bioma em 2023). Ela se destaca por abrigar nascentes do Rio Parnaíba e fornecer água para irrigação o Matopiba.

O desmatamento em 2024

Em fevereiro de 2024, foram desmatados 38 mil hectares no Cerrado — uma redução de 52% na comparação com fevereiro de 2023. Porém, as bacias hidrográficas continuam sendo bastante atingidas.

Em janeiro e fevereiro deste ano, já foram 89 mil hectares desmatados, sendo que 83% disso ocorreu em 5 bacias hidrográficas: São Francisco Médio (24 mil hectares), Tocantins Alto (22 mil hectares), Parnaíba Alto (15 mil hectares), Parnaíba Baixo (6 mil hectares) e Araguaia (5 mil hectares).

“A proteção das bacias hidrográficas do Cerrado depende de um melhor entendimento e caracterização da destinação da água do bioma, aliado a uma estratégia integrada entre os setores público e privado”, comenta Ribeiro. “Além disso, é necessário implementar e reforçar políticas públicas que promovam a conservação dos remanescentes de vegetação nativa e a restauração de áreas degradadas em locais estratégicos nas bacias hidrográficas”, ela destaca.

Fonte: Revista Galileu

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