Atualmente muitos esforços estão sendo direcionados para a restauração de florestas, para devolver a função ecológica desses biomas, proteger espécies, sequestrar carbono e garantir meios de subsistência. No entanto, cerca de metade das árvores plantadas em esforços de restauração não sobrevivem mais do que cinco anos, segundo um novo estudo publicado na Philosophical Transactions of the Royal Society B: Biological Sciences nesta segunda-feira (14).
Realizada por uma equipe de cientistas pertencentes a 29 universidades e centros de pesquisa ao redor do mundo, a pesquisa é a primeira a reunir dados para avaliar os resultados de longo prazo dos projetos de restauração.
Os especialistas analisaram árvores de 176 locais de restauração na Ásia tropical e subtropical, onde florestas naturais sofreram degradação. Eles descobriram que, embora nesses locais a principal medida usada em muitos projetos seja o plantio de novas árvores, acaba que muitas delas não sobrevivem a longo prazo.
Em média, 18% das mudas plantadas morreram no primeiro ano e 44%, após cinco anos. No entanto, as taxas de sobrevivência variaram muito entre locais e espécies, com alguns locais vendo mais de 80% das árvores ainda vivas após cinco anos, enquanto em outros uma porcentagem semelhante havia morrido.
Esforços de restauração
Cerca de 15% das florestas tropicais do mundo são encontradas no sudeste da Ásia e estão entre as mais densas em carbono e ricas em espécies do mundo, fornecendo habitat para diversas espécies. No entanto, nas últimas décadas, a região também sofreu um grande desmatamento, com uma redução da cobertura florestal estimada em 32 milhões de hectares entre 1990 e 2010, tornando a região um importante foco de restauração florestal.
Durante a pesquisa, a equipe descobriu que quando uma área foi totalmente desmatada, os esforços de reflorestamento tiveram menos sucesso do que em áreas onde algumas árvores permaneceram. Mudas plantadas em áreas com árvores maduras existentes tiveram aproximadamente 20% mais chance de sobrevivência. Em áreas mais prejudicadas, foram necessárias medidas mais intensivas de proteção e manutenção.
Segundo Lindsay Banin, pesquisadora do Centro de Ecologia e Hidrologia do Reino Unido, essa variabilidade na sobrevivência de diversas plantas pode ocorrer por diversos motivos. Dentre as causas é possível considerar a densidade do plantio, condições meteorológicas, manutenção do local e até mesmo fatores socioeconômicos.
“O que está claro é que o sucesso depende muito do lugar, precisamos entender o que funciona e por quê e compartilhar essas informações, para que possamos trazer todos os locais até o nível dos mais bem-sucedidos e aproveitar todo o potencial de restauração”, explica a pesquisadora em comunicado. “É provável que não haja uma abordagem única para todos, e a ação de restauração deve ser adaptada às condições locais”, completa.
Intervenção positiva
A análise também encontrou evidências que provam que a restauração ativa fornece resultados mais rápidos do que simplesmente deixar a natureza seguir seu curso. Por exemplo, locais em que receberam o plantio de árvores ganharam cobertura florestal mais rapidamente do que locais que foram deixados para se regenerar naturalmente.
“Os locais que já foram desmatados são os que mais precisam da restauração ativa, porém também são aqueles onde o processo é mais arriscado e propenso a números mais altos de árvores morrendo. Precisamos entender melhor como melhorar as chances de sobrevivência das mudas nesses locais, para garantir que a restauração tenha resultados positivos”, destaca David Burslem, professor da Universidade de Aberdeen, no Reino Unido.
De acordo com os pesquisadores, mais pesquisas são necessárias para entender de fato a complexidade dessas ações e como aprimorar os métodos mais apropriados e econômicos em locais sob diferentes condições.
“É por isso que avaliar os resultados da restauração a longo prazo e coletar informações que ajudem a maximizar as taxas de sucesso são tão importantes. Precisamos mudar o foco longe de simplesmente plantar árvores para cultivá-las e ajudar nossas florestas a prosperar”, finaliza Robin Chazdon, professor da Universidade de Sunshine Coast, em Queensland, na Austrália.
Fonte: Galileu