A maior árvore da Amazônia foi encontrada em setembro, após quatro anos e cinco expedições complexas para descobrir seu paradeiro. O angelim vermelho tem 88,5 metros de altura, o equivalente a duas estátuas do Cristo Redentor. Segundo os pesquisadores, a espécie ajuda a contar a história da maior floresta tropical do mundo e ainda pode protegê-la.
A árvore gigantesca pode ter até 600 anos. Soa estranho como uma espécie tão grande nunca tenha sido visitada por cientistas, mas a floresta amazônica é um lugar ainda tão vasto (e inexplorado pelos pesquisadores) quanto o fundo do mar e o espaço. Para encontrar essa gigante verde, a ciência uniu conhecimento tradicional a invenções tecnológicas.
O primeiro desafio foi calcular a altura das árvores. Em imagens aéreas, a floresta parece um tapete verde e uniforme, difícil de distinguir. Para decifrá-la, pesquisadores criaram um radar que gera um mapa horizontal da floresta. O equipamento introduz uma silhueta e mede a copa das árvores.
O professor Eric Gorgens, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Minas Gerais, usou a ferramenta após imagens do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) identificarem uma altura atípica de árvores no sul do Amapá, no Vale do Jari.
Durante o mapeamento, a equipe se surpreendeu com uma nova descoberta. Além do gigante angelim mapeado em 2019, foram identificados um vale de árvores gigantes, todas acima de 80 metros. “Não havia histórico de árvores tão grandes na Amazônia”, disse Éric à época da descoberta.
Restava a parte mais difícil: chegar até as árvores gigantes.
A expedição
A saída foi feita no município de Laranjal do Jari, no Amapá. Foram 220 km de barco e, após a chegada à região, mais 10 km mata adentro. No total, são dez dias de viagem, mas uma virada no clima, um rio agitado ou um caminho errado podem acrescentar de 10 a 12 horas a mais.
A complexidade da operação exige o cálculo da comida, medicações e ferramentas a serem carregadas. Caso se torne arriscada aos viajantes devido ao clima, acidentes ou qualquer outra dificuldade, a missão é abortada. Imprevistos climáticos são comuns na Amazônia, onde há milhões de espécies animais e chuvas que são formadas por verdadeiros “rios voadores”.
Para aumentar as chances de encontrá-las, os cientistas, médicos, técnicos e engenheiros florestais, que compunham a expedição, foram guiados por oito moradores da comunidade São Francisco do Iratapuru, uma vila isolada.
Mesmo assim, demorou quatro anos e cinco expedições até chegar à maior árvore registrada na Amazônia, em setembro de 2022. As viagens anteriores não foram inúteis. Durante o caminho, folhas e galhos foram coletados para pesquisa. Uma castanheira com 66 metros de altura, a maior da espécie registrada na Amazônia, e um angelim vermelho de 85 metros foram descobertos nas primeiras incursões.
Árvores que podem salvar novas árvores
As expedições chamaram atenção do público e das autoridades. Neste ano, o Ministério Público do Amapá anunciou uma articulação com o governo estadual para um decreto específico para a proteção das árvores gigantes.
O Amapá, originalmente um pedaço do Pará, se tornou um estado só em 1988. Boa parte das terras amapaenses pertence à União, que em 2022 doou 159 mil hectares para o governo amapaense. “Seria como um tombamento histórico”, afirmou o promotor Marcelo Moreira.
Mas por que tão grandes?
Os angelins crescem lentamente em busca de luminosidade até ficarem acima das copas das outras árvores. Além disso, as gigantes também podem ter se beneficiado da densidade da floresta contra os ‘ataques’ do vento – e da velocidade da circulação do vento na região – que podem destelhar as copas e derrubá-las. Segundo os pesquisadores, a conjunção peculiar permitiu o crescimento. A maior árvore da Amazônia, por exemplo, pôde chegar a quase 10 metros de circunferência.
As gigantes podem ajudar a ciência a compreender a formação da floresta, das espécies gigantes e comover a humanidade a protegê-la. A descoberta é só o começo.
“Nós só monitoramos 0,16% da floresta amazônica”, disse Eric sobre o bioma com 4 milhões km² só no Brasil. “É como analisar um grão de areia.
Fonte: Ecoa