Por Flavia Velloso Bruschi (da Redação)
A “queda do possum”, anual na Carolina do Norte, tem sido uma tradição de Ano Novo nos últimos 20 anos em Brasstown e vai acontecer novamente, depois de um regulamento ter sido anulado no tribunal no início deste mês.
Aparentemente, esta tradição bizarra foi criada pelo proprietário da loja Logan Corner Store, Clay Logan, há aproximadamente 22 anos.
O Roadtrippers relata, por um post em um blog no The Huffington Post, que a ideia surgiu depois que Logan “concluiu que o possum era a mascote oficial de Brasstown”. Possum é um marsupial parecido com um gambá.
O evento é certamente uma das mais exóticas tradições de Ano Novo em qualquer lugar e atualmente atrai milhares de pessoas de todos os lugares incluindo também outros eventos, como uma votação para a “Rainha dos Possuns” da cidade e uma salva de tiros de mosquetes de pólvora.
O PETA esteve presente no evento e processou Clay, alegando que se trata de uma prática cruel e que as “luzes, barulho e a multidão podem arruinar os nervos e saúde de um possum”, conforme a Associated Press reportou via The Review Journal.
Primeiramente, um juiz decidiu que Clay não tinha “uma permissão adequada para exibir o animal”, relata o Roadtrippers, mas a decisão foi anulada em seguida e o evento está de volta.
Enquanto o possum for supostamente manuseado humanamente e não realmente “jogado”, mas ao invés disso, abaixado lentamente em uma gaiola de vidro, a recente decisão do juiz em favor do evento ainda encoraja o uso dos animais na “tradição”, o que é a maior questão no centro desta discussão.
Várias pessoas podem argumentar em favor do evento, uma vez que o possum não está sendo ferido, contudo, ele ainda está sendo usado em nome do divertimento e de uma tradição – um sinal de que sua vida é considerada sem valor, que o divertimento e a nostalgia de um grupo são mais importantes que o fato de que uma outra vida está literalmente sendo interrompida temporariamente apenas para satisfazer a uma “tradição.”
É verdade – há várias outras indústrias onde uma variedade de outros animais sofrem severamente, como nas fazendas de criação de animais, por exemplo. Contudo, não se trata de relatar e discutir contra um e não contra outro. Ao invés disso, trata-se de questionar e examinar o por quê de as pessoas fazerem o que elas fazem para trazer esta reflexão para a luz em todas as áreas da vida.
Continuando, se chamamos uma coisa de “tradição”, automaticamente aumentamos esta atividade para um nível mais alto de aceitação – o que é um problema quando a “tradição” inclui o uso (e, em muitos casos, o abuso) de animais.
A Snapperfest de Indiana também foi chamada de “tradição”, nela, um cágado era retirado de um tanque pelo participante, que então corria carregando-o pela cauda e então o agarrava pelo pescoço, girando-o e batendo-o violentamente no chão. O resultado final? O cágado colocava sua cabeça para fora da carapaça.
Este é obviamente um exemplo mais extremo que a queda do possum de Brasstown, mas as ideias subentendidas são as mesmas – que os animais podem ser usados de qualquer maneira que quisermos sob o pretexto de se tratar de uma “tradição”.
Vemos isto se repetir de tempos em tempos com outros tipos de abusos, desde touradas a rinhas de galos. Estes eventos podem ser rotulados como preferirem – “tradição”, “evento anual”, “entretenimento”, “necessário para a cultura” – mas, basicamente, estamos usando os animais como produtos nestas ocasiões quando, na verdade, eles são realmente muito importantes para os ecossistemas que habitam, no caso de animais selvagens, e deveriam ser respeitados por nós, em todos os casos.
E, finalmente, a pergunta permanece: como nos sentiríamos se estivéssemos no lugar dos animais que usamos (e abusamos)?
A maioria das pessoas provavelmente não quer ser arrancada de seus lares, enfiada em uma caixa de vidro e derrubada em meio a uma multidão. Então, por que fazer isso com os outros?