Uma filmagem mostra as condições miseráveis, cruéis e ilegais nas quais são mantidos milhares de porcos criados para a produção de presunto de Parma comercializado na Grã-Bretanha.
A investigação secreta descobriu que os animais que viviam em galpões imundos e superlotados tinham infecções graves que não foram tratadas e tinham seus rabos rotineiramente mutilados, o que infringe regulamentos da União Europeia (UE).
Os ativistas dizem que o vídeo, realizado em seis fazendas na Itália, é típico da “realidade chocante para muitos porcos criados na UE” e expõe um grande fracasso em seguir os padrões estabelecidos.
O filme se concentra em grandes fazendas que produzem presunto de Parma e outras especialidades italianas, como salsichas. O presunto de Parma é considerado um produto de excelência, exportado e renomado mundialmente, inclusive para supermercados no Reino Unido.
Entretanto, as cenas mostram porcos com ferimentos infecções, precisando urgentemente de cuidados veterinários, sendo que alguns não conseguem se mover, ventilação insuficiente e falhas nos sistemas de água, instalações dilapidadas e imundas, sendo que algumas foram infestadas por camundongos, porcas grávidas desidratadas, a maioria dos animais é obrigada a permanecer de pé e deitar sobre as fezes e a urina do grupo. Há também urina e fezes nas calhas de alimentação e nos corpos dos animais.
Os porcos mastigam as orelhas, focinhos e membros de outros porcos devido ao tédio, à superlotação e à frustração, um comportamento que não ocorre na natureza. Os animais tiveram seus rabos cortados como uma questão de rotina, mas a prática é ilegal. Cadáveres permaneceram próximos a recintos ocupados por longos períodos. Em um caso, dois fetos que abortados foram deixados no chão.
Os porcos de todos os seis centros foram aprisionados permanentemente em ambientes fechados, superlotados e estéreis e passaram todas as suas vidas em pisos de concreto ou ripados, sem nenhuma cama ou estímulo externo. É um contraste gritante com ambientes naturais ou orgânicos, onde os porcos se alimentam e naturalmente mantêm suas áreas de dormir e defecar separadas, afirmam especialistas.
O grupo italiano de defesa dos direitos animais Lega Anti Vivisezione (LAV), que registrou as cenas, também filmou uma porca que tremia frequentemente em uma cela de gestação (onde as fêmeas dão à luz). Testemunhas disseram que ela parecia magra e que foi vista rastejando com dificuldade em direção a uma calha de alimentação.
Os investigadores disseram ter visto outros porcos sofrendo de infecções oculares, ferimentos com úlcera não tratados nos rabos, hérnias abdominais e prolapsos retais dolorosos, que podem causar a morte se não receberem tratamento.
“As condições observadas nessas fazendas são cruéis e, em muitos casos, ilegais. Esses porcos não estão sendo tratados como seres sencientes, mas como meras máquinas produtoras de carne. Infelizmente, as condições terríveis reveladas nas filmagens são típicas da chocante realidade de muitos porcos criados na UE. A situação horrível destes porcos destaca a necessidade de implementar padrões de bem-estar de porcos na Itália e em toda a UE “, declarou Sean Gifford, da Compassion in World Farming.
De acordo om a lei, os porcos devem ter “acesso permanente a uma quantidade suficiente de material para permitir atividades de investigação e manipulação apropriadas, como palha, feno, madeira, serragem, composto de cogumelo, turfa ou uma mistura”.
Algumas fazendas industriais mutilam os rabos dos animais para evitar que os leitões mordam os rabos uns dos outros e as imagens mostram evidências disso embora seja uma infração da legislação da UE. As filmagens foram realizadas em fazendas intensivas que possuem até 10 mil porcos nas províncias de Brescia, Cremona e Mântua, na Lombardia, no norte da Itália.
O Eurogroup for Animals, que criou uma petição contra as práticas cruéis, apelou à UE e aos estados membros para que cumpram a legislação de bem-estar. O Independent procurou os Parma Ham Consortium e o San Daniele Ham Consortium, mas não recebeu uma resposta.