Por Martha Follain
“Bile, bílis, fel ou suco biliar é um fluido produzido pelo fígado (produz cerca de um litro de bile por dia), e armazenado na vesícula biliar – capacidade de armazenar 20 – 50 ml de bile – e atua na digestão de gorduras…” – wikipedia.
Ursos de bílis (de todas as espécies) são ursos aprisionados para extração de bílis (principalmente na China e Vietnã), 3 vezes ao dia, depois que comem – a “ordenha”, acontece enquanto os animais se alimentam pois é o momento em que a bílis circula pelo organismo – através de uma incisão (com material não esterilizado e sem nenhum tipo de anestésico) no abdômen na qual é introduzido um tubo em meio a indizível sofrimento (físico e mental) do animal.
A bílis de urso é extraída de maneira absurdamente cruel. Os ursos ficam aprisionados em gaiolas fétidas, minúsculas, onde não podem se locomover. Esse injustificável tormento é realizado por indivíduos sem formação veterinária e sem nenhuma preocupação com a dor – há relatos sobre um urso da lua fêmea na China que estava dentro da gaiola para extração de bílis. Seu filhote havia alcançado idade para cortarem seu abdômen e colocarem um cateter de 10 cm. Ao começarem a cortar o filhote ele gritou, chorou e sua mãe ao ouvi-lo, arrebentou a jaula e correu na direção dele. Os homens assustados fugiram. Ela tomou seu filhote contra o peito e o matou, em seguida se jogou contra um muro diversas vezes até morrer. Muitos ursos são permanentemente forçados a usar um colar de ferro, para serem mantidos sob controle.
Essa atrocidade ocorre por supostos “benefícios” do líquido biliar de urso à saúde humana, de acordo com a “tradicional medicina chinesa” (as fontes são desencontradas: supostamente agiria sobre a “saúde” dos olhos, do fígado, para encolher cálculos biliares, para baixar febre e para curar ressacas dos humanos – obviamente há remédios reais contra tais males). A bílis de urso não possui as propriedades milagrosas que lhe são fantasiosamente atribuídas por curandeiros.
De acordo com organização ativista “Animals Asia” no Vietnã que atua pelo fim da prática (biólogo Tuan Bendixsen – a “Animals Asia” propicia abrigo aos ursos além de facilitar o trabalho das autoridades. “Antes não queriam deter os fugitivos [criminosos] porque depois não sabiam o que fazer com os ursos resgatados, mas agora sabem que podem enviá-los ao nosso santuário”, explicou Bendixsen).
Os ursos são capturados ainda filhotes e vendidos às fazendas – locais assim denominados eufemisticamente, onde essas pobres criaturas são presas e torturadas – por cerca de 2000 dólares e mantidos em gaiolas entre 10 a 20 anos. Alguns ursos sofrem a vida inteira, se não morrerem antes de infecção, tumores e automutilações. Esses animais sofrem também de intensa ansiedade, gemendo e se debatendo. A maioria quebra os próprios dentes ao batê-los contra as grades de suas gaiolas e seus pés ficam em estado lastimável, porque poucos dos animais algum dia chegaram a andar. Segundo a mesma entidade, de cada urso são extraídos cerca de 100 mililitros de bílis todos os meses nas fazendas. Nicola Field, veterinária do santuário, disse que os ursos chegaram magros, desnutridos, com seus abdomes infectados, hérnias e tumores, sinais típicos de uma covardia que exige a manutenção de feridas abertas para que a bile seja recolhida 3 vezes por dia.
Esse processo é legal na China (mesmo que imoral) e ilegal no Vietnã desde 2005.
Os “preferidos” são os ursos negros (Ursus thibetanus). São ursos selvagens capturados e há os que nascem nessas sucursais do inferno. De acordo com Christopher Servheen, (“Bear Specialist Group” – “IUCN – International Union for Conservation of Nature”), “O aumento comercial da demanda (bílis de urso) vai aumentar o lucros e, como consequência, a produção de ursos em fazendas. Um pouco desse aumento pode vir dos ursos nascidos nas fazendas, mas alguns serão capturados na natureza. Em resumo, o número de fazendas provavelmente vai aumentar, legitimar o uso do produto e continuarão capturando ursos selvagens, o que causará um impacto negativo na sua população.”
Esse hediondo “produto” é encontrado em muitos países – investigadores da “WSPA” (“World Animal Protection Internacional”), encontraram bílis de urso em outras regiões asiáticas, incluindo o Japão, as Filipinas, a Coréia, Hong Kong, Taiwan e Singapura, apesar da China negar essa exportação. Mas também há evidências de ursos sendo mortos para extração da vesícula na América do Norte, na América do Sul, além da Ásia. No Equador, por exemplo, pessoas caçam ursos para vender a vesícula para negociantes coreanos. Cada vesícula é vendida por 150 dólares.
Manifestações de populares e ativistas na internet contra a “indústria farmacêutica” “Guizhentang Pharmaceutical”, maior produtora chinesa de extrato, se intensificaram após especulações de que a companhia se lançaria no mercado de ações. A companhia afirmou que mantém 400 ursos em cativeiro e pretende expandir o número de animais para 1200.
Segundo a “Animals Asia”, mais de 10000 ursos estão atualmente enjaulados para a extração da sua bílis na China, e outros 2000 no Vietnã. Mas há relatos de criações no Laos e em outros países asiáticos. De acordo com a “Bear Conservation Act Plan” através da “IUCN” existem menos de 20000 ursos negros na natureza na China.
Essa prática execrável mostra, indubitavelmente, que as leis chinesas e vietnamitas para conservação não estão funcionando (mesmo que o processo seja “legal” na China). Infelizmente é um mercado crescente, apesar da total inutilidade de tal “produto”. A bílis é vendida por 24000 dólares o quilo (depois de transformada em pó), embora cientistas tenham criado um produto sintético alternativo. Porém os seguidores da “medicina” tradicional afirmam que este não possui a mesma força que a bílis crua.
Fang Shuting, presidente da Associação de medicina tradicional chinesa, declarou cinicamente: “(o processo) É natural, fácil e indolor. Depois de realizada a extração, os ursos podem brincar, felizes, lá fora.”
As entidades de proteção animal sugerem os seguintes posicionamentos para acabar com essa exploração torturante:
“Parcerias com governos, organismos internacionais, indivíduos e empresas locais para dar um basta a esta indústria;
Aprimorar as condições dos ursos mantidos em cativeiro em paralelo aos esforços pelo fim desta atividade cruel;
Aprovar leis e políticas e acompanhar o seu cumprimento, garantindo assim que estes ursos retidos em cativeiro possam, ao menos, dispor de espaço adequado para se mover em ambientes mais salubres até que estejam totalmente protegidos contra qualquer forma de exploração e extração de sua bílis;
Conscientizar as pessoas quanto a possíveis alternativas para a bílis de urso, incluindo produtos sintéticos ou feitos à base de ervas, já disponíveis no mercado a preços acessíveis e com resultados eficientes;
Trabalhar com entidades locais com o propósito de pressionar seus governos a cumprir o compromisso que firmaram internacionalmente em prol da proteção dos ursos e de outros animais selvagens.”