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Médicos ou veterinários do mal?

10 de maio de 2016
3 min. de leitura
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Creio que a grande maioria dos profissionais que decidiram cuidar da saúde dos animais e assim cursar e formarem-se em medicina veterinária, tomaram essa decisão e origem vocacional motivados por algum carinho e sentimento de zelo e proteção aos animais. É praxe ouvir de um veterinário que desde tenra infância sempre gostou de bichos e que por essa razão não teve dúvidas quanto à profissão escolhida! E após o vestibular vem o ingresso na faculdade, e o aluno se depara com um rol de disciplinas e de práticas que irão botar a prova o dito amor pelos animais.
Com toda uma justificativa em prol da ciência e arraigadas por uma tradição acadêmica cartesiana, em que a capacidade de sofrer do animal não tem valor algum, os alunos serão iniciados em experimentos vivisseccionistas com animais/vítimas/cobaias. Esse processo de dessensibilização, associado com outras práticas de utilização dos animais para fins humanos, refletirá na atuação de muitos destes profissionais para o resto de suas vidas. Interessante que nessa trajetória acadêmica poderia ser oferecido aos alunos alternativas e métodos eficazes sem o sacrifício de animais, mas que esbarram no conservadorismo e no dogmatismo antropocêntrico. E a vida de um sapo, de um ratinho, de um porquinho da Índia, de um coelho, de um cão, de um porco, de uma ovelha e de um boi abatido e seccionado refletirá e se multiplicará em outras milhares de vidas futuras que estarão à mercê de algum médico veterinário.
Boa parte do curso de Medicina Veterinária é voltada para a produção de animais de consumo. Tanto o aprimoramento tecnológico nas linhas de produção das granjas e das fazendas quanto o desenvolvimento genético de raças com características físicas que resultem em melhor qualidade e produtividade, terão como embrião deste processo, os ensinamentos de sala de aula e laboratórios universitários. Reflexão ética e abordagem moral pra quê? A agonia e a privação de direitos básicos de porcos ou aves em confinamento não farão parte de alguma consideração moral de um veterinário empregado nessa indústria da morte. Fêmeas bovinas e suínas estupradas através de inseminação artificial terão a orientação de um veterinário; filhotes marcados e castrados sem analgésicos terão o aval veterinário. Enfim, todas as etapas que envolvem a criação, o abate nos matadouros e até o acondicionamento das partes de um animal em bandejinhas terão a inspeção veterinária. O veterinário é peça fundamental nessa engrenagem de exploração cruel de seres sencientes, onde inexiste qualquer consideração ética coerente e muito menos algum sentimento nobre, tipo “amor” aos animais.
Veterinários a serviço da indústria da carne são como médicos em campos de concentração, que “cuidam” dos seus pacientes apenas com o intuito de torná-los aptos ao trabalho forçado ou até o momento de serem conduzidos à fila (brete) da morte. Também poderíamos imaginar médicos que se formam para cuidar de humanos e depois atuar exclusivamente para cometer eutanásia aos milhares em seus pacientes. Ainda bem que aqui os mesmos não comeriam as partes dos corpos de seus pacientes na brasa ou na panela.
A aplicação do termo “médico” é equivocada a veterinários que “cuidam” dos animais apenas como mercadoria, com garantia de qualidade a ser comercializada. E isso vale também para aqueles animais aprisionados e torturados em laboratórios, nas indústrias de peles e de filhotes, nos locais de exibicionismo e espetáculos de divertimento humano e outras situações em que tudo acaba sendo respaldado e legitimado por um “médico” veterinário nada amigo dos seus pacientes.

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