(da Redação)
Até o fim de sua vida em Sarajevo nas mãos de Gavrilo Princip, o arquiduque Franz Ferdinand da Áustria havia empreendido pela caça o “massacre feudal em massa” de 274.889 animais. O arquiduque caçava uma média de 4.500 animais a cada ano de sua vida.
No entanto, desastres naturais podem ter um efeito igualmente devastador sobre os animais. Há algumas semanas, uma catástrofe nos Estados Unidos superou o arquiduque, na medida em que matou milhares de animais em poucos dias.
Em quatro dias da primeira semana de Outubro, a tempestade de neve chamada “Atlas” atingiu as Grandes Planícies nos Estados Unidos e cobriu a terra com 174 cm de neve a ventos de 112 km/h, matando um número estimado de 100 mil bovinos em Dakota do Sul. A chuva torrencial e gelada caiu sobre o gado sem possibilidade de defesa ou proteção, e o que aconteceu em seguida foi nada menos que trágico. As informações são da Global Animal e do Huffington Post.
Carrie Mess descreveu a cena:
“As vacas tentavam se proteger. Elas se escondiam em pontos baixos longe do vento. Esses pontos haviam sido inundados pela chuva e o chão se transformou em lama grossa. Algumas vacas ficaram presas na lama. Algumas se deitaram para fugir do vento, ou para descansar um pouco, elas estavam cansadas de tentar escapar mas já estavam sofrendo muito com a baixa temperatura.
As vacas e bezerros ou morreram sufocados ou congelaram até a morte”.
Esses animais “sucumbiram à hipotermia, sufocados em enormes montes de neve ou morreram de exaustão tentando superar as condições adversas”, disse o veterinário Dustin Oedekoven.
Segundo a Global Animal, a imagem de uma família de bovinos morrendo em tais condições é perturbadora, para se dizer o mínimo, mas a imagem destes mesmos animais morrendo em um matadouro é igualmente lamentável. A reportagem propõe a reflexão de que, enquanto a cobertura desta história focalizou apenas a dor dos animais sendo incapazes de evitar a sua própria morte, “talvez a Mãe Natureza tenha evitado uma morte mais terrível e dolorosa desses animais em um abatedouro”.
Fazendeiros só pensam no prejuízo financeiro
Em janeiro, o estado de Dakota do Sul tinha 3,85 milhões de bovinos, o sexto maior rebanho dos Estados Unidos, conforme dados do Departamento de Agricultura americano.
Os fazendeiros que perderam grande parte de seus rebanhos para a tempestade de neve em Dakota do Sul não estão pedindo cobertores ou alimentos como doações para auxílio em sua recuperação. Eles querem vacas prenhas ou em idade de reprodução, informou um grupo que está organizando as doações.
Vinte criadores de gado até agora se manifestaram pedindo vacas para ajudar a repor os rebanhos devastados, disse o fazendeiro de Montana Kerry Branco, chefe da empresa Citizens for Balanced Use, que promove o arrendamento de pastagem em terras federais.
A tempestade afetou criadores que “passaram décadas construindo linhagens e selecionando certas qualidades comportamentais de bovinos”, disse Silvia Christen, diretora executiva da South Dakota Stockgrowers Association, que também informou que as famílias estão traumatizadas, pois exploram esses animais para a sua sobrevivência.
“Não estamos tentando repor os rebanhos. Estamos tentando reconstruí-los”, disse White.
Criados para morrer
Os bovinos e todos os animais que viram carne para os humanos são criados e reproduzidos unicamente pelo interesse por parte dessa indústria. Só havia um número tão grande de bovinos espalhados pela região atingida pelo desastre pois são criados para serem consumidos e gerar lucro à engrenagem da morte.
Mais uma vez, ninguém parece estar preocupado com as vidas perdidas pelos animais nem com suas mortes trágicas. Até a reportagem citada na matéria usa este artifício ao dizer que morreram congelados pela natureza para não morrerem no matadouro, afinal, eles são criados para serem mortos (mas seria isso justo?).
É como se o fato de que serão mortos de qualquer forma servisse para amortizar o choque – se houvesse – diante da morte massiva em tão grande proporção, e o que se vê cada vez mais é uma total falta de sensibilidade humana perante tantos milhares de bovinos que os noticiários contam que morreram doentes, de fome, de sede, em incêndios, tempestades, atropelados, em caminhões tombados por acidentes a caminho de matadouros, em rodeios, e a lista segue infindável. A certeza de que foram criados para serem mortos é a desculpa usada pelos humanos como justificativa prévia e automática, com o consentimento da (in)consciência dormente coletiva, para o que não tem justificativa: a perpetuação da criação e morte de animais para consumo humano.
Por último, vale lembrar que os verdadeiros desastres climáticos que têm ocorrido nos últimos anos são também decorrência da ação humana na destruição do meio ambiente.