EnglishEspañolPortuguês

Zooterapia ou TAA (Terapia Assistida com Animais)

16 de dezembro de 2014
6 min. de leitura
A-
A+

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

A relação entre seres humanos e não humanos sempre foi próxima e muito antiga. Os animais estiveram e estão junto ao homem, de uma forma ou de outra, como força de trabalho, companhia, etc..
Animais também são “usados” na Zooterapia ou TAA (“Terapia Assistida com Animais”): metodologia psicoeducativa com técnicas onde os bichos atuam como um estímulo. É uma terapia que pretende tratar diversas patologias e problemas.
A TAA consiste em técnicas de reabilitação ou reeducação de alterações tanto físicas como psíquicas, sensoriais, sociais, de comportamento, em que são “usados” animais como assistentes.
“A Zooterapia é uma ciência que visa estudar a interação do ser humano com o animal, mas sob o ponto de vista terapêutico e educacional. Ou seja, não mais o bicho como comida, não mais como companhia, mas sim estudado e colocado de forma a ajudar as pessoas em situações de estresse e depressão”, explica a professora Maria de Fátima Martins, da “Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia” (“FMVZ”) da “Universidade de São Paulo” (“USP”), SP. A pesquisadora afirma que a Zooterapia “ainda carece de pesquisas e, principalmente, da divulgação dos resultados aos profissionais das áreas de ciências animal e humana. Creio que o nosso papel na universidade seja o de promover o reconhecimento e a importância desses estudos”. Ainda não existe uma forma de quantificar os resultados positivos das TAAs.
Esse tipo de terapia seria benéfico em fonoaudiologia (animais podem ajudar pessoas com problemas de dicção e estimulam os que possuem problemas de fala – pacientes chamam os animais pelos seus nomes), fisioterapia (recuperação da coordenação motora – os pacientes acariciam, jogam bolas para cães, escovam seus pelos, etc. e exercícios respiratórios também), psicologia (pacientes teriam diminuição da ansiedade e dor. Diminuição da depressão, pois há o aumento dos níveis de endorfina no contato com os bichos), neurologia (tratamento de crianças com paralisia cerebral), etc..
Os animais podem ajudar em:
Problemas cardíacos, câncer, dor crônica, alergias, envelhecimento, artrite, depressão, transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), ressocialização de presidiários, esquizofrenia, depressão, autismo, agressividade, promover o desenvolvimento de habilidades sociais, reforçar a auto estima, facilitar a expressão das emoções, potencializar a aprendizagem, estimular o contato social. Os animais mostram, pelo exemplo, não como controlar ou suprimir as emoções, mas como experimentá-las plenamente.
Em relação a esquizofrênicos, foi feita uma pesquisa no “Instituto Technion de Israel”. Durante 10 semanas um grupo participou de consultas com a presença de cães e outro só com o terapeuta. As pessoas que estiveram com os cachorros reagiram com maior satisfação aos estímulos durante as sessões. Os animais são receptivos, deixando os pacientes esquizofrênicos mais confortáveis e à vontade para se expressarem.
Como ensina Maria de Fátima Martins, a Zooterapia começou a ser aplicada no final do século XIX, na Bélgica, onde médicos perceberam que pacientes deficientes mentais melhoravam e se tornavam mais receptivos, com menos agressividade. “Já na Inglaterra, nos anos 30, pesquisadores descobriram um fato curioso: os idosos que iam para os asilos, mas que podiam levar seus animais, tinham uma socialização e independência maior do que aqueles que não os levavam. No Brasil, em 1950, a psiquiatra (#) Nise da Silveira começou a tratar pacientes esquizofrênicos com cães e gatos, batizando esses animais de coterapeutas”, explica a professora Maria de Fátima.
Várias espécies são “utilizadas” na TAA e alguns programas oferecem diversas opções. Os cachorros constituem 80%. Mas, a “Pet Partners”, nos Estados Unidos, considera todos os animais domesticados – há cães, gatos, coelhos, galinhas, burros, lhamas, aves, porcos e cavalos (outras entidades trabalham também com répteis, jabutis, tartarugas e até (*) escargots).
O cavalo, devido ao seu comportamento dócil e à estreita relação que tem com o homem, é muito “utilizado” no tratamento de distúrbios. A equoterapia é indicada, sobretudo para crianças com síndrome de Down, paralisia cerebral e dislexia. O movimento tridimensional do cavalo é semelhante ao realizado pelo homem. Pacientes com deficiências motoras melhoram com esse tratamento, pois têm estimulado o sistema nervoso central. Há mudança no tônus muscular, na coordenação motora e no controle da cabeça e do tronco, proporcionando maior equilíbrio, sendo a equoterapia reconhecida pelo “Conselho Federal de Medicina” (“CFM”) para tratar diversas enfermidades e limitações, segundo a professora Maria de Fátima Martins.
Outro exemplo são os golfinhos, seres simpáticos, sociáveis e alegres que são “utilizados” em terapias para crianças com autismo.
Mas, segundo Javier Boracchia, argentino, psicólogo social e adestrador de cães, a terapia com animais não substitui o tratamento convencional, apenas o complementa.
No Brasil, há o “Instituto para Atividade, Terapia e Educação Assistida por Animais” (“ATEAC”), em Campinas, SP, atuando desde 2006, cuja presidente é Ylenise Marcolino. A “ATEAC” atende pessoas fragilizadas fisicamente ou hospitalizadas, portadores de síndromes genéticas, crianças com paralisia cerebral, autismo e hiperatividade, idosos, etc.. E há o projeto “Desenvolvendo a Afetividade de Idosos Institucionalizados Através dos Animais”, implantado em 2006 pela professora Maria de Fátima Martins.
O “Hospital Albert Einstein”, em São Paulo, SP, sob determinadas condições, permite que animais visitem seus tutores internados, o que provoca progresso em seus tratamentos.
Indiscutivelmente a Zooterapia traz enormes vantagens para os animais humanos. Mas e para os animais não humanos?
Aos seres que não pertencem à espécie humana já infligimos toda espécie de exploração, abuso e sofrimento:
Matamos para comer suas carnes (vacas, frangos, coelhos, porcos, bodes, carneiros, codornas, cavalos, vitelas, peixes, camarões, lagostas, etc.), matamos ou mutilamos para pilhar seus chifres, marfim e nadadeiras, comemos seus ovos, bebemos seu leite, torturamos gansos para obtenção do abjeto “foie gras”, exploramos abelhas para furto do seu mel, cera, própolis, pólen e geléia real, exploramos animais para nosso “entretenimento” (circos, touradas, zoológicos, corridas, rodeios, rinhas, etc.), usamos sua tração para puxar carroças, os fazemos de montaria, utilizamos seus ossos e pérolas futilmente como adornos, enclausuramos aves em gaiolas minúsculas só para nos “extasiarmos” com seu canto e beleza, furtamos seu couro, sua pele, sua lã, sua seda e camurça para utilização no vestuário e calçados, arrancamos suas penas para nos proporcionarem um “sono tranquilo” em travesseiros recheados de sofrimento e plumas para “alegrar” e “colorir” nosso carnaval, usamos cosméticos testados em sua dor, agonia e desespero, praticamos a vivissecção, caçamos e pescamos “por esporte” os sem proteção, praticamos o comercio desses seres instituindo as torturantes “fábricas de filhotes”, nos apropriamos deles e os confinamos em nossas casas, isto é, submetemos os animais aos interesses exclusivos de seres humanos, causando estresse, pânico, humilhação, angústia padecimentos e morte.
Será digno infligirmos mais essa obrigação aos bichos? Eles devem ajudar a tratar nossas mazelas, nossas doenças, arcando com mais essa imposição humana ?
Será justo? Será ética e moralmente aceitável? De acordo com o (**) veganismo, certamente, não.
(#) http://pt.wikipedia.org/wiki/Nise_da_Silveira
(*) http://projetocaramujoafricano.blogspot.com.br/2011/02/projeto-dr-escargot-nas-escolas.html
(**) Veganismo é a filosofia segundo a qual, deve-se viver sem explorar os outros animais, sob nenhum aspecto. O Veganismo não é só dieta, não é só não comer carne de animais e seus produtos. É um conjunto de práticas com base nos Direitos dos Animais;
(**) Veganismo é uma filosofia de vida motivada por convicções éticas, convicções com base nos direitos animais que procura evitar exploração ou abuso dos mesmos, através do boicote a atividades e produtos considerados especistas (wikipedia);
(**) O termo inglês “vegan” foi criado em 1944, numa reunião organizada por Donald Watson
(1910 – 2005), carpinteiro, envolvendo 6 pessoas, após desfiliarem-se da “The Vegetarian Society” por diferenças ideológicas, onde ficou decidido criar uma nova sociedade (“The Vegan Society”) e adotar um novo termo para definir a si próprios (wikipédia) – “vegetarian”.

Você viu?

Ir para o topo