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Zoológicos: crueldade travestida de diversão

22 de junho de 2009
3 min. de leitura
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Por Mariana Hoffmann    (da Redação)

Para quem gosta de animais ir ao zoológico é um martírio. Lá os encontramos em ambientes totalmente artificiais, expostos à curiosidade dos visitantes, em espaços exíguos, muitas vezes deprimidos ou estressados. Embora existam zoológicos que forneçam um pouco mais de dignidade aos animais, o fato de mantê-los confinados fora de seus habitats naturais já pode ser considerado uma violência. De acordo com o promotor de justiça Laerte Fernando Levai, “manter animais confinados atrás das grades pode, a meu ver, configurar infração ao artigo 32 da Lei 9.605/98, que define o crime de abuso e maus-tratos”.

Esta nova maneira de interpretar a lei se opõe à ideia, sustentada por muitos, de que os zoológicos exercem função educativa e protetora. Com relação a esta última função, podemos apontar uma alternativa mais saudável para abrigar animais que, em determinadas situações, necessitem de abrigo e proteção: os santuários. Com ambientes mais próximos do natural, são locais protegidos onde os animais podem se ressocializar com membros de sua própria espécie para, se possível, serem reinseridos em ambientes naturais.

Já em relação ao argumento de que os zoológicos exercem função educativa, o biólogo e ativista Sérgio Greif esclarece que “um animal em cativeiro não expressa seu comportamento natural”. O que os visitantes veem são apenas sombras dos animais que eles seriam caso tivessem a oportunidade de viver livremente. Além disso, Greif aponta que “a mensagem transmitida pelos zoológicos é que os animais são engraçadinhos e podemos mantê-los presos com o propósito de exibi-los. Essa não é minha concepção do que deveria ser a educação ambiental”.

Outra alegação comum é que os zoológicos podem funcionar como banco genético de animais que foram extintos ou estão à beira da extinção. Para Greif tal argumento não é válido, uma vez que “de nada serve preservar alguns poucos exemplares vivendo em cativeiro se esses animais jamais serão reintroduzidos em seus antigos ambientes, até porque, com frequência, sua extinção advém da supressão desses mesmos ambientes.  Além disso, a recuperação da espécie com base em alguns poucos exemplares representaria um afunilamento genético. Se há realmente uma preocupação com a preservação das espécies, deveriam ser preservados seus ambientes naturais”.

A vida no zoológico é tão artificial que muitos animais apresentam distúrbios de comportamento e têm seu tempo de vida radicalmente alterado. Um exemplo são os elefantes. O tempo de vida de um elefante africano em zoológicos europeus dura em média 16,9 anos. Muito pouco se comparado aos 56 anos para os elefantes que morreram de causas naturais no Parque Nacional Amboseli, no Quênia. Segundo pesquisadores, as causas passam pela falta de espaço e pequeno número de outros animais com os quais possam formar grupos.

A faceta exploratória e abusiva dos zoológicos é também um reflexo da sua história: a ideia de colecionar animais exóticos nasceu na aristocracia do século XVI como sinal de status, e pouco a pouco os “estábulos” foram democratizados para o entretenimento da burguesia. Quando surgiram os “jardins zoológicos”, no século XX, ainda eram comuns as práticas de ensinar e domar os animais para que aumentassem o divertimento do público. Embora tais espetáculos não existam mais, o foco dos zoológicos continua sendo os interesses humanos, em detrimento dos interesses dos animais.

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