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Voluntários visitam áreas de pobreza para ajudar os animais em Florianópolis (SC)

19 de abril de 2010
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Por Giovanna Chinellato  (da Redação)

“Para se tornar inesquecível, basta deixar pegadas que possam ser seguidas” (Viviane Cerioli)

Grande Florianópolis, Aldeia Indígena de Biguaçu. Sábado, 10 de abril, 3h15min da tarde.

O carro sacoleja pelo caminho irregular. Pacotes de ração pulam de um lado a outro no porta-malas e banco traseiro. Entre eles, cinco voluntários espremidos.

O motor para. Do lado de fora, os cães já estão saltando e grunhindo de ansiedade.

Quando as portas se abrem, o velho Pudju esquece da artrite, Nina ignora a úlcera na córnea, Polícia pára de se incomodar com os carrapatos. E não são só eles três, as outras dezenas de cães também estão explodindo de alegria com a chegada dos visitantes.

É só nesse dia da semana que eles são notados de verdade, como seres vivos. Nesse dia são compreendidos e amados. Esse é o dia do Mutirão Mata-Fome, em que a alegria é muito bem justificada.

Realizado semanalmente pela OBA, Organização Bem-Animal, o Mutirão Mata-Fome tem o intuito de castrar, medicar e alimentar animais carentes que vivem em áreas de pobreza. O objetivo principal é evitar maus-tratos, sendo a castração um passo importante para tal. Ativo desde setembro de 2008, o projeto já realizou mudanças notáveis na vida de mais de 300 animais.

Foto: Oba Floripa

No começo, o que se via eram cães e gatos sem pêlos com fungo e sarna, costelas salientes e feridas abertas. Os indígenas da região têm animais por acreditarem que os mesmos sirvam de escudo para doenças; por exemplo, antes de um índio pegar leptospirose, um cachorro há de pegar. É óbvio que, vivendo com pessoas que têm essa mentalidade, os animais não teriam chance alguma, escudos são escudos, quem haveria de se importar com eles?

Os voluntários da OBA responderam a essa questão. Eles se importaram. E fizeram toda a diferença. “Não dá mais para ignorar esses animais”, disse a idealizadora da ação Ana Lúcia Martendal, “eles dependem totalmente da gente”. 

Foto: Oba Floripa

Hoje, embora a situação ainda seja complicada, já se vêem alguns pêlos brilhantes, olhinhos vivos e rabinhos abanando. Os animais recebem cuidados básicos na própria aldeia, como vermífugos e medicamentos para sarna. Em ocasiões não tão raras de doenças graves ou situações de desnutrição severa, os animais são internados em clínicas veterinárias adequadas.

Além de medicar, a OBA alimenta os peludinhos durante a visita e deixa com os índios um punhado de ração que há de durar para a semana inteira. Assim que os voluntários colocam as vasilhas no chão, os animais devoram os grãos como aspiradores. Alguns gatos se aventuram em meio a eles, tamanha fome; mas, acalme-se, os voluntários da OBA se preocupam com todos, os gatinhos logo são colocados em áreas mais altas para comerem em paz, o que fazem com grande prazer.

Aldeia indígena Maciambu - Palhoça (Foto: Oba Floripa)

Carro, gasolina, remédios, ração, veterinário e castrações. Nada disso sai barato, nada é de graça nem mesmo para essa ONG maravilhosa. A OBA vive totalmente de doações ou fundos arrecadados com o “Brechó do Totó”, brechó realizado com roupas, livros e objetos diversos (todos doados também). Ou seja, para que os patudos da aldeia continuem festejando os sábados, a OBA aceita até doação de remédios que os animais de estimação de alguém deixaram de tomar por algum motivo, aqueles que costumam vencer no fundo do armário.

A ração é recolhida em pontos específicos da cidade, como a pet shop Pêlos e Patas e a clínica veterinária Biofila. Recentemente, a OBA ganhou mais uma aliada na coleta de doações, a polícia militar, que colocou uma caixa para sacos de ração e cartazes do Mutirão em seu Quartel de Comando no Centro da cidade de Florianópolis.

E, para quem está longe e quer ajudar, a ONG tem duas soluções: a campanha “Doe dois reais” e a doação de um Vale-Castração no valor de 50 reais, o animal beneficiado será fotografado e as fotos divulgadas para seu benfeitor. É claro que doar outros valores é, além de possível, muito viável e de grande ajuda, sendo que a OBA garante prestação de contas para comprovar o destino das verbas. 

2º Mutirão Mata-Fome em parceria com a UNISUL (Universidade do Sul de SC)

Como bem disse a voluntária Viviane Cerioli, “As pessoas geralmente se esquivam dizendo que não têm dinheiro, mas para ajudar basta que deixe de fazer as unhas por uma semana ou deixe de tomar mais um chopinho, e doe essa quantia para nossos projetos. Qualquer valor faz a diferença na vida daqueles que não tem como pedir!”. E é bem essa a realidade do Mutirão Mata-Fome, para os humanos, um pequeno gesto; para os animais, toda uma vida de diferença.

E, falando em vida, nada pode ter mais vivacidade do que os olhinhos de despedida dos cães e gatos ao verem o carro, agora com mais espaço para os cinco voluntários, se distanciar da aldeia. Olhinhos que irão continuar fixos nesse ponto por um bom tempo, é por ai que eles, os voluntários, irão aparecer novamente no sábado seguinte com as novas doações -desde que elas existam, é claro.

E os rabinhos voltarão a abanar no único dia da semana em que são compreendidos e amados.

Visite o blog da OBA! e veja fotos do Mutirão Mata-Fome.

Assista também ao vídeo da ação feito pela voluntária Viviane.

httpv://www.youtube.com/watch?v=vJmtMDPZhHI

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