Não são apenas as vítimas humanas que estão sofrendo com o rompimento de barragens da Samarco em Mariana, Minas Gerais. Os animais também estão assustados. Muitos morreram, muitos se feriram e alguns chegaram a ser “petrificados” pela lama ressecada de rejeitos de minério.
Um grupo de ONGs e voluntários dos direitos animais, no entanto, está atuando para tentar resgatar a maior quantidade de animais possível. Eles se uniram ao Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal (FNPDA) para tentar arrecadar recursos e organizar melhor esse atendimento, crucial para a saúde dos animais e também para as famílias atingidas, que muitas vezes dependem de uma vaquinha e algumas galinhas para seu sustento. Segundo Vania Nunes, diretora técnica do FNPDA 300 animais já foram resgatados.
Interessados em doar podem entrar no site do FNPDA.
Como funciona a operação de resgate dos animais em Mariana?
Vania Nunes – Eu estou em contato com a doutora Ana Liz Bastos, da ONG Associação Ouropretana de Proteção Animal, que é parte do Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal. Ela foi para lá na noite do acidente, e realmente a situação era bem crítica. Logo que eles chegaram, não puderam entrar, estava tudo molhado, sujo, tinha a Defesa Civil. Quando amanheceu, algumas pessoas já vinham com animais. Esses foram os primeiros a ser atendidos. Tinha cachorro, galinha, passarinho, gado. Os animais estavam muito assustados, muitos sujos, alguns feridos. Elas prestaram esses primeiros atendimentos. No começo, os animais foram para o centro de zoonose de Mariana, que era o local mais próximo que tinha onde deixar os animais que não tinham donos. Com o passar dos dias, com o aumento do número de animais, a própria Samarco alugou um galpão. Os que tinham dono, à medida que as pessoas foram realocadas em casas ou hotéis, os tutores levaram. Mas para você ter uma ideia tinha cavalo, porco, galinha, não tinha como as pessoas levarem todos.
Houve um atendimento inicial, de emergência? Qual era o estado dos animais?
Vania Nunes – Eles estavam muito assustados. Se foi uma cena dantesca para as pessoas, também foi para os animais. Eles são capazes de perceber que aconteceu uma coisa muito ruim. Quando a água desceu, estava muito fria. Então a primeira coisa foi hidratar os animais e tentar aquecê-los. Tirar a lama, que estava ressecando, ficando dura que nem uma pedra. Limpar, porque aquele minério pode ser absorvido e intoxicar o animal. Se eles estavam bem, em ordem, já recebiam vacina, vermífugo, coleiras. Mas não vai achando que os animais eram todos dóceis, calmos, é só pegar e ir embora. Às vezes tem trabalho para abordar o animal, porque ele esta com medo, assustado. Tem que ser uma ação multiprofissional. Sem isso, você não consegue fazer nada.
Quantos animais foram resgatados?
Vania Nunes – Entre 200 e 300 animais. Toda hora está chegando animal novo. Pode ser que amanhã já tenha um número maior.
Vocês estão recebendo doações ou ajuda de voluntários?
Vania Nunes – Muitas pessoas se mobilizaram nos fins de semana, o que é bom, mas isso é flutuante. Tem hora que tem muita gente, tem hora que tem poucas. Ajuda também é assim. Às vezes as pessoas doam ração para cachorro, mas também precisamos atender gatos, galinhas, cavalos, e esse alimento não existe ali. Precisamos de feno, sal grosso, sal mineral. Nós fizemos uma lista do que era necessário, e isso está sendo providenciado. Algumas coisas estão em falta, e todo dia tem novos resgates. Nós criamos uma conta para receber doações. Fizemos isso porque as pessoas ajudam com casinha, ração, o que é ótimo, mas precisamos de alguns equipamentos que não se compram em qualquer loja de produtos de animal. Por exemplo, lá é uma área endêmica de leishmaniose. Os cachorros precisam de uma coleira específica para evitar ser picado pelo inseto.
Fonte: São Carlos Urgente