Grupos de veterinários voluntários se uniram em cidades do interior de São Paulo para resgatar e prestar os primeiros socorros a animais vítimas dos incêndios que atingiram a região nos últimos dias. A paisagem cinza reflete a destruição nas amplas áreas de vegetação onde os animais eram resgatados, muitos deles debilitados devido à inalação de fumaça e até carbonizados pelas chamas.
A clínica Mundo Silvestre é uma das que tem prestado os primeiros socorros a animais silvestres atingidos pelas queimadas na região de Jaboticabal. Ao GLOBO, a veterinária Caroline Gravena disse ter atendido uma lebre, um urubu, dois saguis e uma ave que não pôde ser identificada devido ao estado de carbonização avançado. Nenhum deles sobreviveu. O único que passa bem é um filhote de porco espinho, que será levado para um centro de reabilitação silvestre pela polícia ambiental.
— A própria população anda pegando os animais e me liga para pedir ajuda. Nesse momento, vou orientando o manuseio dos animais e alguns cuidados iniciais até chegar aqui. Mas, infelizmente, a maioria chega sem vida. Tentamos reanimar, mas não adianta — relata Gravena.
Ainda em Jaboticabal, o Centro Veterinário Integrativo Jonathan Silvestre está recebendo animais atingidos pelas queimadas. Um saruê e uma coruja receberam atendimento e foram encaminhados para órgãos de proteção animal. Nesta terça-feira, voluntários da clínica vão fazer uma varredura em áreas rurais e de mata em buscas de mais animais feridos.
Fumaça comprometeu respiração
A clínica Bicho do Mato está atendendo animais em Ribeirão Preto. De acordo com a médica veterinária Letícia Meirelles, um gambá — que já está sob cuidados do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) —, dois coelhos e um peru receberam atendimento após inalarem muita fumaça. Por ainda estar debilitado, o peru segue internado e os coelhos estão em cuidado domiciliar.
Além dos animais silvestres, os domésticos também têm sofrido com os efeitos da fumaça, afirma Meirelles.
— Estamos com tutores nos procurando por conta de dificuldades respiratórias, pois essa queimada atingiu até eles, mesmo dentro de casa — relata Meirelles. — É um momento preocupante para todos, tanto os que vivem nas áreas afetadas, quando os que vivem dentro de casas onde a fumaça chegou.
Recorde de queimadas
Mesmo com a Defesa Civil tendo afirmado que já conseguiu controlar os incêndios rurais que atingiram São Paulo ao longo da última semana, o estado teve o mês mais incediário desde que o monitoramento do fogo por satélite se iniciou no país, em 1998.
Até a noite de ontem, a cinco dias de agosto terminar, havia registros de 3.482 de estado no mês em solo paulista. O recorde anterior havia sido agosto de 2010, ano de uma grande estiagem na qual São Paulo teve 2.444 focos em agosto.
Os números são do satélite Aqua, da Nasa, que o Instituto Nacional de Pesquisas espaciais usa como referência para séries históricas de dados. Entre os cinco municípios que mais sofreram com os incêndios, três estão na região de Ribeirão Preto (Pitangueiras Altinópolis e Sertãozinho), um na região de Bauru (Ibitinga) e um na região de São José do Rio Preto (Olímpia).
Três são presos
Três homens foram presos acusados de causarem incêndios intencionais entre anteontem e ontem: dois em São Paulo e um em Goiás. Os casos são investigados pelas polícias locais.
Em São Paulo, uma prisão ocorreu ontem em São José do Rio Preto, de um homem que ateava fogo em um terreno. Outra prisão foi efetuada na manhã de ontem em Batatais. Neste último caso, o acusado tinha antecedentes criminais e portava gasolina no momento da prisão.
Já o caso de Goiás se trata de um homem preso em flagrante ateando fogo em pasto da propriedade rural na região de Piranhas, Goiás. Segundo a Polícia Militar, a situação era patrulhada há dias, com diversas ocorrências de incêndio criminoso em áreas de pastagem. O suspeito teria cometido crimes também nas regiões goianas de Caiapônia e Bom Jardim, no Sudoeste do estado. “O prejuízo causado é incalculável”, afirmou a Polícia Militar de Goiás.
Fonte: O Globo