Na entrada do Campo de Santana, próximo ao Hospital Souza Aguiar, a placa de boas-vindas ao parque informa que é proibido alimentar os animais. Contudo, sem o ato generoso de dezenas de voluntários, as centenas de cotias, gatos e patos que lá habitam correm o risco de passar fome. O grupo denuncia que a prefeitura cortou 80% do alimento que era servido aos bichos, acusação negada pela Fundação Parque e Jardins.
“É um total descaso, além de reduzirem drasticamente a quantidade de comida, passaram a comprar uma ração de péssima qualidade para os gatos. Os bichinhos não querem comer e, se a gente não misturar com a ração de melhor qualidade, que nós mesmos compramos, os gatos poderiam morrer de fome – reclama Dione Gomes, que há mais de um ano presta serviço voluntário junto à clínica improvisada dentro da área do campo para fazer a esterilização dos gatos.
Dione contou ainda que a prefeitura apenas arca com o custo da anestesia, e que os voluntários pedem doação para a compra do restante do medicamento para o tratamento dos bichos:
“A maioria das cotias está com a pele ressecada. A cada semana morrem ao menos três delas aqui no parque.”
A denúncia é reforçada pela Associação Nacional de Implementação dos Direitos dos Animais (Anida). A entidade informou que até a variedade de verduras que era fornecida aos patos foi cortada e lamentou que o trabalho de castração feito nos gatos não esteja atendendo a demanda do parque. O grupo estima que apenas 40% dos 300 bichanos sejam esterilizados.
Moradora de Piabetá, a aposentada Julia Soares da Silva, de 74 anos, todos os dias acorda às 6h para chegar ao Campo de Santana às 9h e começar a alimentar os animais. Voluntária há 10 anos, ela garante conhecer a maioria dos gatos que moram no parque e chegou a colocar nome em alguns deles.
“A mais branquinha é a “Xuxa”. O rei do pedaço é o “Saddan”, todos os gatos respeitam ele. Tem também o “Cabeção” e “Angélica”. Todos eles me atendem quando chamo”, conta, orgulhosa, a senhora, que deixa o parque às 18h e circula o campo por fora para alimentar os demais animais que moram nas redondezas.
A Fundação Parque e Jardins, contudo, negou que tenha reduzido a alimentação dos bichos. Por meio de nota, o órgão garantiu que “a prefeitura é perfeitamente capaz de alimentar os animais” e afirmou que “as voluntárias precisam de motivos para pedir dinheiro à população, e muitas se valem do argumento de que precisam proteger os gatos, para pedirem dinheiro através de doações.” Ainda segundo o órgão, no campo residem cerca de 120 patos, 60 irerês, 250 cutias, dois pavões, um galo garnizé, um frango, uma galinha d’angola e cerca de 250 gatos.
Fonte: O Globo