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SOBREVIVÊNCIA

Você sabia que caranguejos são os engenheiros dos manguezais?

Conheça alguns motivos que fazem com que caranguejos façam tocas e as tampem durante alguns períodos.

18 de outubro de 2024
Associação MarBrasil, Cassiana Baptista Metri, Gabriele Costa Ramos
3 min. de leitura
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Caranguejo-uçá perto de sua toca – Foto: Gabriel Marchi

Os caranguejos são crustáceos altamente adaptáveis, capazes de habitar uma variedade de ambientes costeiros, resistindo a variações de salinidade e marés. Além de serem amplamente explorados para fins comerciais, esses animais desempenham um papel fundamental nos ecossistemas, atuando como verdadeiros “engenheiros dos manguezais”.

Uma das habilidades mais interessantes ​​de alguns caranguejos é a capacidade de cavar túneis. O caranguejo maria-farinha (Ocypode quadrata), por exemplo, cava suas tocas na areia da praia, próximo ou dentro de dunas e restingas. Nos manguezais, várias espécies demonstram dessa habilidade, como os caranguejinhos chama-marés (Uca sp.) e o bem conhecido e campeão de consumo no Brasil, caranguejo-uçá (Ucides cordatus).

Bioturbação: a engenharia dos caranguejos

Ao escavarem suas tocas e movimentarem o solo, os caranguejos promovem um processo chamado bioturbação, que consiste na mistura dos sedimentos, facilitando a reciclagem de nutrientes. Com isso, eles ajudam a misturar os sedimentos superficiais cheios de matéria orgânica que vem dos rios e da decomposição das plantas do manguezal, com os mais profundos, o que contribui para a distribuição de matéria orgânica e nutrientes essenciais.

A toca se torna um refúgio, essencial para garantir a sobrevivência da espécie. Lá no fundo desses túneis, o caranguejo estoca as folhas de mangue que, ao entrarem em decomposição, ficam ricas em fungos e bactérias que fornecem nutrientes para os caranguejos.

Fechamento das tocas: uma estratégia de sobrevivência

Além de construir as suas tocas, os caranguejos também têm a capacidade de tampá-las com o sedimento do manguezal. O comportamento revela, além da sua importância bioecológica, uma estratégia de sobrevivência.

Mas afinal, por que esses crustáceos bloqueiam suas entradas com lama? Esse comportamento está ligado ao processo de ecdise, uma etapa importante na vida do caranguejo. A ecdise, também chamada de muda, é o processo em que o caranguejo descarta seu exoesqueleto (ou carapaça) antigo para dar lugar a um novo, permitindo seu crescimento.

Durante essa fase, o crustáceo fica extremamente vulnerável, já que o novo exoesqueleto ainda é mole e oferece pouca proteção contra predadores e outros caranguejos. Vale ressaltar que o caranguejo-uçá é extremamente territorialista e, por isso, não faz política de boa vizinhança com ninguém, nem com as fêmeas. Isso muda na temporada de reprodução, mas isso é assunto para outra conversa…

Então, selando a sua toca com sedimento, o caranguejo cria um ambiente seguro e isolado onde pode completar a muda sem interrupções. É dentro desse pequeno refúgio que o caranguejo aguarda até que seu novo exoesqueleto endureça o suficiente para poder retornar a sua rotina.

Os caranguejos trocam as suas carapaças entre setembro e final de outubro, mas se andarmos pelo manguezal fora desse período vamos ver muitas tocas tampadas. E é aí que o caranguejo-uçá se supera e nos surpreende. Embora a ecdise seja um momento crítico, esse não é o único motivo para os caranguejos fecharem suas tocas.

A tampagem para a muda é conhecida pela Ciência. Outras razões também são hipóteses prováveis, embora mais estudos científicos ainda sejam necessários. Alguns exemplos incluem:

  • Temperaturas baixas – Os caranguejos também tampam as suas tocas no inverno, quando as temperaturas estão baixando e, consequentemente, o metabolismo deles.
  • Recuperação pós-reprodução – O mesmo comportamento pode ser visto depois do período reprodutivo, quando estão se recuperando do intenso gasto energético durante a procura de parceiros e cópula.
  • Proteção das fêmeas ovígeras – As fêmeas que carregam ovos podem usar o fechamento das tocas como proteção adicional.
  • Alterações ambientais – Mudanças no ambiente, como pisoteamento excessivo ou danos ecológicos, também podem motivar o fechamento das tocas.

Esses fatores são bem conhecidos pelas pessoas que vivem da cata de caranguejos e demonstram a importância do conhecimento tradicional. O melhor mesmo é o trabalho em conjunto. Embora a Ciência tenha feito grandes avanços, o saber popular muitas vezes complementa e enriquece esses estudos.

A colaboração entre cientistas e comunidades locais é essencial para compreender plenamente o comportamento desses crustáceos e promover a conservação dos manguezais. É a comunidade ativa na produção da Ciência e se valendo dela!

Fonte: Fauna News

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