Camila Teixeira Barros
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Cada acontecimento nos dá algumas constatações. Desde o resgate dos lindos e indefesos beagles recebo, diariamente, pedidos de adoção direcionados, única e exclusivamente, a um dos 178 salvos pelos ativistas. Primeiro: eu não estava na noite do resgate e consequentemente estou sem nenhum beagle aqui comigo. Em segundo lugar: Por que houve tanto interesse?
Quando a imagem é fofa e frágil, temos tendência a nos comover com mais facilidade. Ver um monte de pequenos indefesos sendo carregados para a vida é de encher de emoção qualquer coração com o mínimo de sensibilidade. Sei que muitas das manifestações de adoção foram motivadas por amor aos animais e vontade de ajudar. Mas sei também que muitos se interessaram pela enorme repercussão, por serem cães de raça e por carregarem uma história que dará orgulho de contar quando a tempestade passar.
Pra não ir muito longe, trago aqui um dos episódios recentes mais cruéis e tristes que já presenciei em toda minha vida. Quem não lembra daquele prefeito da Ilha de Marajó que pagou para que moradores se livrassem dos cães da cidade? O valor variava entre 5 e 10 reais, e os animais eram laçados, jogados em um barco e levados a uma ilha para morrer de fome. Mais de 200 cães, repito, mais de 200 cães foram caçados indiscriminadamente, inclusive os que tinham tutores. Muitos foram mortos afogados pelos abomináveis moradores.
Para salvá-los, uma enorme operação de resgate foi criada.
Percebem que na foto (postada para exemplificar) há vários animais em estado bem mais deplorável que os lindos beagles? Percebem que todos ali também são vítimas da violência urbana, maldade humana, abandono, negligência pública e descaso das autoridades? Também são submetidos, diariamente, a inúmeras crueldades. Ficam vulneráveis, invisíveis, morrendo aos poucos graças à inércia de quem deveria defendê-los. Aqui no meu bairro há centenas de animais abandonados. Vivo postando, tanto aqui no cantinho quanto no meu perfil pessoal, fotos com apelos à procura de lares provisórios ou definitivos.
Lindos cães, amorosos, só querendo viver com dignidade. Me perguntem: quantos se interessaram em adotá-los? Quantos me abordaram para ajudar de alguma forma? Pouquíssimas pessoas.
Esse episódio dos beagles mostra que mesmo no ato de adotar, que deveria ser livre de julgamento e puro, ainda existe um grande preconceito; ainda existe a busca pela elite.
Repensem: se há amor e intenção disponíveis, porque não adotar outros tantos que estão prontinhos te esperando em ONGs, com protetores independentes ou vagando pelas ruas?
Se comova por seres que sofrem pelo descaso humano. Adote e salve uma vida, independente se ela tem pedigree ou não. Passe a olhar pro lado; indubitavelmente pertinho da sua casa terá algum animal esperando seu colo.
