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Se você divide a sociedade em "vegans do bem" e "não vegans do mal", apenas pare

13 de julho de 2015
3 min. de leitura
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Há um costume, tanto entre alguns vegans novatos como entre diversos veteranos, de acreditar que o mundo se divide em “veganismo celestial”, seguido por pessoas sempre impecavelmente éticas, conscientes e ávidas pela libertação de todos os seres sencientes, e “não-veganismo infernal”, seguido por gente que “escolheu” um caminho de trevas, ignorância consciente e ausência de ética no trato do outro (humano e não humano). Se você é um desses vegans que pensam assim, eu peço: apenas pare.
Essa crença maniqueísta de sociedade dividida entre “vegans iluminados do bem X onívoros e protovegetarianos ignorantes do mal”, além de ser evidentemente falsa, é um tiro de fuzil no pé para o movimento vegano-abolicionista. Toda vez que alguém que faz essa divisão tenta promover conscientização, fecham-se portas, queimam-se pontes, converte-se pessoas meramente não veganas em carnistas preconceituosos e intolerantes contra vegans ativistas.
Vale esclarecer que tanto há pessoas não veganas bondosas, de bom caráter, que zelam pela ética nas relações humanas e no enfrentamento das opressões contra minorias políticas de seres humanos, como vegans de mau caráter, que não se importam em desrespeitar outras pessoas quando bem entendem e promover convicções político-ideológicas reacionárias, excludentes, violentas e opressoras.
Além disso, não é razoável dizer aos não vegans que eles estão agindo “pelo mal”, tendo hábitos “malignos”. A termologia dualista cristã não é nada adequada para a conscientização vegano-abolicionista, considerando-se que não estamos promovendo pregação de uma moral religiosa cheia de regras e julgamentos.
As pessoas não vão gostar de ouvir que estão sendo “malignas” ou tendo um costume “do mal” por consumirem produtos animais. Não é pelo desconforto do contato com uma defesa ética problematizadora de costumes enraizados, mas sim pela ofensa, pela impressão que se passa, errônea, de que vegans se arrogam julgadores do caráter alheio.
Uma outra impressão transmitida, quando se usa linguagem religiosa dualista na conscientização vegana e ao se falar de não vegans, é que o veganismo necessária e obrigatoriamente promove um “upgrade” ético-moral ao indivíduo. Que o torna um anjo de bondade, pessoa respeitadora de todas as pessoas, caridosa, ansiosa pela libertação de animais humanos e não humanos e do meio ambiente terráqueo, desejosa de um mundo melhor.
E a experiência pessoal de vegans em redes sociais mostra o contrário. Prova que há muitos vegans – ou meramente vegetarianos estritos, dada a sua incapacidade de discernimento ético – que tratam mal outros vegans e não vegans, não importam em ser antiéticos e mau caráter contra outros seres humanos, discutem sobre Direitos Animais quase que aos gritos e insultos com não vegans, vomitam preconceito contra minorias políticas e, muitas vezes, defendem posições cheias de ódio e intolerância contra os Direitos Humanos, os movimentos sociais e a esquerda política.
Em outras palavras, ser vegan ou não vegan não é uma questão de caráter. Aderir ao consumo 0% animal não implica a alguém preconceituoso e sem caráter converter-se numa boa pessoa. Tampouco o não veganismo é “coisa de gente ruim” e um sinal de perversidade.
Assim sendo, não é adequado usar, por exemplo, mensagens verbais ou imagens que mostrem algo como “Escolha: alimentação vegetariana, benigna e celestial; ou alimentação onívora, maligna e infernal”. Nem o é dizer que as pessoas estão sendo “más” ao consumirem produtos animais. O preferível é abordar como pessoas de boa índole estão incorrendo em costumes antiéticos quando financiam a exploração animal e consomem os frutos da mesma. Portanto, todo maniqueísmo deve ser abandonado quando se fala de veganismo e Direitos Animais.

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