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APRISIONAMENTO

"Viver 50 anos num buraco não é um privilégio, é uma maldição”, diz biólogo sobre elefantes em zoológico

1 de janeiro de 2025
Julia Guglielmetti
2 min. de leitura
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Foto: DavidStarIsrael7 | Wikimedia Commons

O Santuário de Elefantes Brasil, localizado em Mato Grosso, é o único espaço na América Latina que oferece condições próximas de vida livre para elefantes vindos de cativeiros. Criado em 2014 e vinculado à Global Sanctuary for Elephants, a instituição norte-americana, o espaço surgiu para acolher animais explorados por circos e zoológicos.

“A maioria desses elefantes vêm de circos, de espaços inadequados, sem equipe técnica especializada. Um horror”, afirma Daniel Moura, biólogo e diretor do santuário.

Segundo Moura, a escolha do Brasil como sede levou em consideração o histórico do país com elefantes circenses e a existência de condições climáticas adequadas para espécies asiáticas e africanas. Hoje, o santuário abriga cinco elefantes fêmeas, vindos de diversos países e situações. “No Brasil, muitos desses animais ainda vivem em zoológicos, em condições inadequadas, sem autonomia social, dietética ou cognitiva”, explica.

O trabalho do santuário vai além do acolhimento. Ele inclui processos burocráticos longos e, muitas vezes, desafiadores para garantir a transferência dos animais. “As primeiras elefantas chegaram por meio de um acordo com o Ministério Público. Viviam acorrentadas há mais de seis anos, expostas ao sol e à chuva, sem qualquer proteção, em cima das próprias fezes”, relata o diretor.

Um dos casos mais emblemáticos é o de Guilhermina, uma elefante asiática que viveu 24 anos em um recinto subterrâneo na Argentina. “Ela nasceu e cresceu em um buraco abaixo do nível do solo, sem nunca tocar o chão natural ou ver uma planta”, diz Moura. Após sua transferência para o santuário, a elefanta demonstrou mudanças de comportamento significativas, explorando o espaço com entusiasmo. “Oferecemos condições para que os elefantes sejam elefantes novamente ou, em alguns casos, pela primeira vez”, completa.

Apesar dos avanços, o diretor ressalta os desafios enfrentados pela instituição. “Cerca de 85% dos recursos do santuário vêm do exterior, porque no Brasil é muito difícil conseguir doações. As ONGs são desacreditadas”, afirma. Moura também destaca a resistência de zoológicos em doar animais. “Existe uma polarização. É uma questão de ego e política, onde quem perde é o animal.”

Para ele, o santuário é mais do que um local de acolhimento. “O foco é sempre o bem-estar do animal. Nosso objetivo é mostrar que existe outro caminho sobre como lidar com eles”, conclui. Moura reforça que o ideal seria evitar a importação de espécies exóticas, concentrando esforços na proteção da fauna nativa brasileira.

Fonte: Terra

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