Muitos cachorros resgatados das ruas vivem em verdadeiros campos de concentração em Jundiaí, no interior de São Paulo, segundo a protetora Sara Penteado, do movimento Pracinha dos Dogs. “Jundiaí vive um caos. Costumo dizer que estamos em um holocausto já que há vários campos de concentração para animais. Todo mundo vê, sabe que eles existem, mas fazem de conta que não estão ali. Confinamento de animais é uma coisa séria sem aparato físico, psicológico e financeiro”, denuncia.
A ativista afirma que a Prefeitura transferiu o problema dos animais abandonados para os protetores mas que, por outro lado, é a primeira vez que um prefeito aceita conversar sobre a questão. Um abaixo-assinado será entregue ao Poder Público na próxima quarta-feira (21), quanto também será realizado um ato em frente à Prefeitura da cidade. O objetivo é exigir que a administração municipal assuma a responsabilidade sobre os animais abandonados.
“Fizemos um abaixo-assinado que contará com mais de mil assinaturas. Vários defensores irão para a frente da Prefeitura no dia 21, 17 horas, para levar este documento. Nós estamos unidos e queremos mudar a vida dos animais abandonados. O prefeito verá que temos o apoio de todos os segmentos da sociedade. Todo mundo está cansado de ver tanta maldade e nada ser feito”, reitera Sara.
“Todos que fazem o trabalho de resgate e abrigo de animais abandonados estão ‘trabalhando’ para Prefeitura há muitos anos. Eu, por exemplo, tenho o projeto ‘Quintal Comunitário’. Levo para a casa animais que estão na rua. Muitos outros defensores levam os animais para suas próprias casas. Agindo assim, estamos tirando o problema da Prefeitura, que é a responsável por estes animais. E, fazendo isto, estamos assumindo uma competência que não é nossa”, afirma a ativista.
A situação vivida pelos protetores, que lidam com a superlotação de animais em abrigos e com as dívidas geradas para mantê-los, chegou a um patamar insustentável, de acordo com Sara. “Um cão é como uma criança. E com eles temos gastos que não podemos mais arcar. Compramos ração, castramos, levamos ao veterinário, pagamos pela vacina. Há ainda a questão psicológica. Um cachorro abandonado é estressado. Enfim, toda essa carga explodiu agora”, explica.
Há seis meses, uma reunião foi realizada entre os protetores, representantes do Departamento de Bem Estar Animal (Debea) e o prefeito Luiz Fernando Machado. Sara, entretanto, afirma que os ativistas tiveram seus pedidos ignorados. “Disseram que a situação não era tão grave e que não havia tantos animais abandonados na cidade. Ou seja: estávamos fazendo um trabalho que não existe. Agora, o pessoal do Debea está visitando meus quintais e vendo que eu, sem nenhum apoio trato, sem nenhuma estrutura, o mesmo número de cães que eles cuidam. Precisamos de ajuda”, diz.
Segundo nota da Prefeitura, “ficou formalizado que o Debea, além das 2,2 mil castrações já previstas para este ano, se empenhará para o complemento até atingir 5 mil castrações. As outras 5 mil castrações que completam o pleito de 10 mil, ficam a cargo das protetoras, que terão disponível três datas para uso do Parque da Uva, para realização de eventos com o objetivo de angariar fundos para o custeio das cirurgias”. A administração municipal ressalta, entretanto, que só poderão ser castrados animais que tenham responsáveis por eles, “de forma a ter o cuidado adequado no pós-cirúrgico”.
De acordo com a municipalidade, não há levantamento oficial com relação ao número de animais abandonados em Jundiaí. O registro feito pelo 156 de denúncia de abandono foi de 354 no ano passado e 379 em 2016. As informações são do portal Jundiaí Agora.
“O Debea manterá seu fluxo de atendimento, com foco no atendimento de animais da população de baixa renda e em situação vulnerável, com oferta de castrações, consultas, exames, microchipagem e educação sobre guarda responsável, situação fundamental para reverter o quadro de abandono de animais. Somente no ano passado, o Debea ampliou o atendimento em 10% em relação ao que foi ofertado nos anos anteriores, tanto em castrações como nos demais atendimentos. O espaço está em reforma para melhoria na qualidade das instalações para atender cães e gatos, incluindo a adequação do centro cirúrgico do prédio”, diz a nota.
A respeito do trabalho de educação sobre guarda responsável, a Prefeitura afirmou que as atividades são desenvolvidas nas escolas municipais desde o ano passado. “O projeto compreende três aulas educativas – promovidas por uma educadora concursada da administração pública, voluntário protetor de animais silvestres e uma veterinária –, com duração de 60 minutos cada. Somente no ano passado foram realizadas atividades em oito unidades escolares, com mais de 1,1 mil alunos atendidos. Neste ano, a equipe aguarda a definição do calendário de atividades das escolas para iniciar o trabalho de formação educacional infantil”, conclui.