Arrastaram o menino da carroceria e jogaram na gaiola do curral improvisado – era pra matar de manhã. Com Natal que chegava virou presente e “ganhou mais tempo”. Mal conseguia ficar de pé – dizem que faltou mais colostro. Caía sobre as patas trançadas e mugia baixinho – faltava força, natural abstenção de vigor.
Duas manchinhas brancas no topo da cabeça imitavam par de olhos. Achavam graça do bezerro. Colateral da produção leiteira. Macho é prejuízo – repetiam coçando bolsos. “Pelo menos vai fazer alguém feliz.” Ficava sozinho a maior parte do tempo – a exceção era coelho que também trazia imitação no topo da cabeça.
Um enxergava os olhos falsos do outro, mas ninguém reconhecia ou percebia. Coelho o visitava todo dia bem cedo. Depois dos entreolhos, cheiravam-se e dormiam juntos. Virou costume; de tarde também. Já não mugia de madrugada como antes. Quando deitava, coelho mais parecia pedaço do bezerro que faltava.
Cor flocos, manchinha – tudo igual na gaiola. Chegou a hora. Tentou enterrar patas no chão. Em vão. Já é véspera de Natal. Alguém tem que ceder, vai ser. Pupilas dilatadas. Marreta, um golpe pra deitar e outro pra ceifar. Coelho ainda agarrado ao topo da cabeça do bezerro. Oito olhos apagados. Onde morre um, morrem dois.
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