Por Germano Woehl Jr.
A estudante de graduação, Liana Cézar Barros, da Faculdade de Engenharia Mecânica da UNICAMP, publicou um trabalho bem interessante sobre o problema de colisão de aves com vidraças intulado “Morte de pássaros por colisão com vidraças” na Revista Ciências do Ambiente On-Line Dezembro, 2010 Volume 6, Número 3, pag.58.
Na introdução deste trabalho, consta que a segunda maior causa antropológica da mortalidade de pássaros ao redor do mundo, atrás somente da destruição do habitat dos mesmos, é a colisão destes com painéis de vidro transparente e/ou reflexivo, em vidraças de residências e prédios comerciais, tanto em áreas urbanas como no meio rural.
Quem nos visita na sede da RPPN Santuário Rã-bugio em Guaramirim (SC) acha esquisito todas as vidraças das janelas da nossa casa estarem revestidas com plástico bolha (proveniente do descarte de embalagens) pelo lado de fora.
Logo que a casa foi construída e os vidros colocados, começou nossa aflição e desespero para resolver o problema de aves se chocando nas vidraças, até mesmo na minúsculas janelas dos banheiros.
A primeira vítima foi a Juriti-pupu (Leptotila verreauxi) que nós chamamos de rola em Santa Catarina. Logo que amanheceu o dia, esta ave se chocou com a vidraça da cozinha com tanta velocidade que quebrou a vidraça e, obviamente, teve morte instantânea. Outro caso marcante foi de um gavião que perseguia uma Rolinha (Columbina talpacoti), ambos estava alta velocidade quando a rolinha colidiu com a vidraça e numa manobra de grande perícia o gavião consegui evitar o choque e de apanhar sua presa já morta no chão.
Fizemos de tudo para resolver o problema. Seguimos as dicas de colar nas vidraças fitas adesivas vermelhas, amarelas, recorte de figuras de águias etc. Nada disso funcionava. Até hoje as vidraças estão lambuzadas de cola e resíduos destas fitas. Até o Arapaçu-rajado (Xiphorhynchus fuscus) foi vítima, mas sobreviveu como várias outras. Foto que está neste link foi tirada após o acidente.
Mas teve um caso que nos deixou arrasados, muito chocados e cheios de culpa. A Elza testemunhou a cena triste, que nos marcou até hoje. A fêmea do Gaturamo-ferrugem (Euphonia pectoralis) estava se alimentando dos frutos de uma planta epífita (planta aérea, que cresce suspensa nos troncos das árvores), Anthurium scandens, no tronco de um palmiteiro (palmeira jussara, de onde se extraí o palmito) ao lado da janela da sala. Enquanto a Elza observada a cena, o macho veio em alta velocidade se exibir para a fêmea e se espatifou na vidraça, entre os espaços das tiras de fitas adesivas amarelas fixadas, com cerca de 10 cm. Para quem não sabe, esta espécie formam casais inseparáveis.
Foi neste dia que partimos para uma solução radical, mas muito eficaz, do plástico-bolha que são descartados de embalagens. Foram colocados em todas as janelas. Há anos que o local tornou-se totalmente seguro para as aves transitarem.
Ultimamente, estamos sendo procurados por vários moradores aflitos de Jaraguá do Sul (SC), onde fica a sede do Instituto Rã-bugio. Estão muito indignados com a moda do momento na cidade: muros de vidro nas residências. Relatam que está ocorrendo uma verdadeira carnificina de aves.
O bom senso das pessoas que estão optando por este muro da morte seria muito bem vindo neste momento em que a natureza está sendo tão massacrada de todas as formas, com este desmatamento que a cada dia encolhe o hábitat das aves. Uma sociedade moderna deveria ter valores onde não pode prevalecer a perversidade de não dar chances para a vida. Que tipo de beleza as pessoas estão apreciando neste muro de vidro?
Fonte: Blog Defensor da Natureza