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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Vídeos falsos de encontros entre ursos e pessoas alimentam pânico e ameaçam animais no Japão

Onda de edições hiper-realistas está distorcendo a percepção pública sobre os ursos e dificultando ações de convivência segura para os animais.

14 de novembro de 2025
Redação ANDA
3 min. de leitura
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Captura de tela de um vídeo do TikTok gerado por IA pelo programa Sora. Foto: TikTok/Sora/nao_AI

Uma enxurrada de vídeos gerados por inteligência artificial mostrando encontros dramáticos entre pessoas e ursos no Japão está alimentando uma perigosa espiral de risco para os animais, além de desinformação e medo para os humanos. As edições distorcem a imagem dos ursos, reforça narrativas violentas e pode levar a ações equivocadas que ameaçam ainda mais a espécie.

Nos últimos meses, redes sociais como o TikTok foram inundadas por vídeos hiper-realistas que supostamente mostram ursos confrontando pessoas, destruindo instalações ou sendo alimentados por moradores. Embora alguns conteúdos tragam marca d’água de ferramentas de IA, cerca de 60% dos vídeos analisados pelo jornal Yomiuri Shimbun eram completamente falsos, ainda que muitos usuários acreditassem neles.

Entre as cenas fabricadas estão ursos entrando em uma usina solar, raptando um cachorro, sendo alimentados por uma idosa em um campo, ou até enfrentando estudantes, uma reação que, na vida real, seria fatal e absolutamente antagônica às recomendações de segurança.

Esse tipo de conteúdo fere a imagem dos ursos ao retratá-los como monstros imprevisíveis, potencialmente elevando o risco de perseguição, caça e políticas mais agressivas contra eles. Em um cenário já sensível, isso pode ser devastador.

Desde abril deste ano, o Japão já registrou mais de 100 encontros entre ursos e pessoas provocando incidentes, sendo esse o maior índice da história. Ao mesmo tempo, a escassez de alimentos naturais está empurrando os animais para áreas urbanizadas. O despovoamento rural também eliminou fronteiras naturais entre florestas e cidades.

Nesse contexto, conteúdos falsificados aumentam o pânico, levando moradores a reagir de forma violenta em encontros reais; prejudicam mensagens oficiais sobre como evitar riscos com ursos; estimulam comportamentos perigosos, como alimentar os animais ou se aproximar deles para gravar vídeos virais; e normalizam a ideia de que ursos são invasores agressivos, legitimando ações letais a animais inocentes.

Alguns vídeos eram tão convincentes que funcionários públicos foram obrigados a negar publicamente incidentes inexistentes. Em um registro viral, um urso teria sido capturado dentro de uma loja de conveniência em Noshiro, Akita; em outro, moradores “fugiam” de um animal pelas ruas de Ishikawa. Nenhum dos eventos aconteceu.

A IA generativa pode ser nociva quando usada sem responsabilidade. Para manter a segurança, são necessárias marcação clara, padronizada e permanente de conteúdo gerado por IA, educação digital para que usuários identifiquem vídeos falsos, punir postagens que incentivem risco a animais silvestres e campanhas para restaurar a imagem dos ursos, frequentemente estigmatizados.

Vídeos falsos que exageram comportamentos agressivos podem influenciar políticas públicas e atitudes sociais. Assim, a vida dos ursos, já pressionada pela perda de habitat, mudanças climáticas e escassez de alimentos, pode ficar ainda mais vulnerável.

Ocorrências reais continuam gerando preocupação social. Os Correios suspenderam entregas em parte de Akita e empresas de telecomunicações revisam protocolos de segurança para funcionários em áreas montanhosas.

Mas o foco não pode ser a punição dos ursos, e sim entender as causas naturais e humanas que intensificam os encontros, além de combater a avalanche de desinformação que transforma um problema ambiental complexo em um espetáculo viral.

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