A grande migração anual dos gnus foi novamente transformada em um palco de caos, perturbação e assédio durante um safari no Parque Nacional Maasai Mara, no Quênia. Turistas ansiosos por uma foto perfeita saíram dos veículos e se aglomeraram nas margens do rio, reduzindo a distância de segurança para menos de um metro, assustando os animais.
O incidente, captado em vídeo, mostra a realidade dos safáris. Humanos chegaram ao cúmulo de forçar fisicamente os gnus a regressarem às águas infestadas de crocodilos, em ato de egoísmo que colocou os animais em risco.
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Para piorar, o caso ocorreu sob a supervisão de um guia, que teria inclusive cobrado uma quantia a mais pelo “espetáculo”.
No mês passado, o guia e fotógrafo de vida selvagem Nick Kleer compartilhou imagens e vídeos no Instagram que mostravam dezenas de veículos de safari a obstruírem o Rio Mara, forçando os gnus a dispersarem em pânico. “Essas rotas migratórias antigas, moldadas pelo instinto e por gerações de sobreviventes, foram bloqueadas por humanos. As manadas foram forçadas a se dispersar. Algumas correram para penhascos e saltaram em pânico”, declarou ele.
“Os guardas que bloquearam estas passagens hoje são supostos os guardiões da vida selvagem. Na minha opinião, são tão maus quanto caçadores”, afirmou Kleer.
Desafio anual
De julho a outubro de cada ano, o Maasai Mara torna-se o palco para um dos espetáculos de vida selvagem mais impressionantes da Terra. Mais de dois milhões de gnus, zebras e gazelas migram do Serengeti, na Tanzânia, para o Maasai Mara, no Quénia, em busca de pastagens mais verdes e água, sendo a travessia do Rio Mara o ponto alto da migração.
“O desafio que temos no Quénia e na Tanzânia, em termos da migração, é que sempre que os gnus atravessam o rio, muitos veículos cheios de turistas se juntam para testemunhar este momento”, disse Alfred Bett, um guarda de turismo que trabalha no Maasai Mara há 20 anos, em uma entrevista recente à Xinhua.
Em 3 de agosto, a travessia da manada foi repentinamente interrompida quando o rugir de motores se aproximou, fazendo com que apenas algumas dezenas de gnus conseguissem chegar ao outro lado do rio.
O mesma assédio aconteceu novamente cerca de uma hora depois, resultando na travessia de apenas mais três gnus.
“Estamos tentando controlá-los, usando novas tecnologias”, disse Bett. “Temos viaturas, com dois guardas em cada uma, que estão sempre posicionadas no ponto de travessia, para facilitar a passagem dos gnus.”
A própria existência de safaris que perseguem e cercam animais para “avistamento garantido” é o grande problema. Nenhum ser senciente deve ser submetido a tal estresse e perturbação para servir de entretenimento. A regulamentação das expedições mostram-se completamente ineficazes e ignorados, provando que a lógica de exploração é inerente ao modelo.