Biólogos investigam os comportamentos procriativos de peixes cartilaginosos, como tubarões e raias, há décadas. Mas, até hoje, muito pouco se sabe sobre uma espécie específica: os tubarões-baleia (Rhincodon typus), cujas técnicas de cortejo e acasalamento eram um grande mistério. Bom, pelo menos até agora.
Durante uma expedição ao Recife de Ningaloo, na Austrália Ocidental, uma equipe de pesquisa do país observou um tubarão-baleia macho seguindo e mordendo uma fêmea na natureza; exatamente como outros peixes cartilaginosos fariam para iniciar o acasalamento.
Vale lembrar que, embora esses peixes sejam geralmente encontrados nas águas costeiras de áreas quentes e tropicais em todo o mundo, a espécie é classificada como ameaçada de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) desde 2016. Para além disso, sua população é majoritariamente formada por machos juvenis.
“Isso faz com que nosso conhecimento sobre tubarões-baleia adultos, particularmente sua ecologia reprodutiva e comportamental, sejam derivados apenas de observações casuais”, escrevem os biólogos em um artigo, publicado na sexta-feira (3) na revista Frontiers in Marine Science. “Muitos delas, de animais capturados por pescarias ou mantidos em aquários”.
Relatos de encontros
Os relatos existentes de comportamentos de cortejo e procriação de tubarões-baleia incluem apenas dois locais na natureza. Sendo eles nas águas ao redor das Ilhas Santa Helena, no Oceano Atlântico Sul, e no próprio Recife de Ningaloo.
Na região de Santa Helena, pescadores relataram avistamentos de machos seguindo fêmeas. Nesses encontros, os machos “stalkers” pareciam cutucar a nadadeira caudal das fêmeas, e pareciam tentar se posicionar com seus lados ventrais para cima, abaixo das fêmeas – provavelmente para introduzir seus clásperes (órgãos copuladores).
Por sua vez, o primeiro avistamento em Ningaloo ocorreu apenas em 2019, e foi feito pela pilota de um pequeno avião que fornecia observação aérea para cientistas em um navio de pesquisa. Ela notou um macho adulto se aproximando de uma fêmea menor, que o evitou e conseguiu escapar da cópula.
A observação mais recente data de 14 de maio de 2024. Um piloto convocou os cientistas para o encontro com uma fêmea de tubarão-baleia de 7 metros de comprimento que ele localizou. Pouco depois de sua chegada, um macho de 8,5 metros apareceu e começou a segui-la.
O macho mordeu a nadadeira caudal da fêmea, que respondeu girando rapidamente com as nadadeiras peitorais apontando para baixo. Após uma breve pausa no movimento, a fêmea novamente virou-se e desceu rapidamente para a profundidade, onde foi seguida pelo macho. A partir deste ponto, os especialistas os perderam de vista.
Análise do comportamento
Os cientistas especulam que, por mais que o acasalamento pode ter ocorrido nas águas profundas, longe dos profissionais, a resistência da fêmea à tentativa de chamar atenção do macho sugere que a abordagem violenta não está associada ao sucesso da cópula. Outra possível explicação é que a fêmea poderia ser sexualmente imatura – adultas da espécie costumam medir de 10 a 12 metros.
A equipe sugere ainda que a ecologia local pode ser um fator a ser considerado para explicar as tentativas malsucedidas de acasalamento. Por mais que a maioria da população de tubarões de Ningaloo seja de fêmeas, elas raramente são avistadas em regiões de agregação. Isso pode indicar que as fêmeas estão ativamente evitando o contato sexual com os machos.
Há várias hipóteses sobre o porquê disso, mas o motivo exato segue desconhecido. Os pesquisadores lembram, por exemplo, que foram observadas fêmeas jovens se alimentando com machos adultos.
“Esses registros não apenas expandem nossa compreensão dos comportamentos reprodutivos, mas também podem fornecer insights sobre os potenciais impulsionadores da segregação sexual relatados em populações de tubarões-baleia em muitas agregações costeiras”, concluem os autores.
Fonte: Galileu