Um vídeo gravado na manhã de ontem (16/12) no Bosque Municipal de Araçatuba, no interior de São Paulo, provocou indignação ao mostrar uma ema sendo agarrada pelo pescoço, derrubada no chão e imobilizada à força por um funcionário durante um procedimento de manejo.
A cena ocorreu durante o início do processo de realocação dos animais do bosque, que seriam transferidos para um zoológico no Rio de Janeiro (RJ), em uma viagem superior a 12 horas. O plano previa o transporte dos animais em caixotes apertados, o que gerou revolta imediata entre moradores e ativistas, que passaram a acompanhar a operação e registrar as ações realizadas no local.
No vídeo, é possível ouvir manifestantes questionando o método de transporte e pedindo que tudo fosse filmado, enquanto a ema se debate no chão após ser contida de maneira considerada agressiva. A abordagem reforçou as críticas de que o manejo estaria sendo feito sem o devido cuidado com o bem-estar físico e emocional dos animais, em desacordo com princípios básicos de proteção.
Diante da pressão popular e dos questionamentos de ativistas ambientais, a viagem foi suspensa por tempo indeterminado. Um dos principais pontos de crítica foi o acondicionamento dos animais em caixas consideradas pequenas demais. Manifestantes relataram que jabutis, por exemplo, aparentavam estar confinados em espaços apertados, o que poderia causar estresse, ferimentos e sofrimento desnecessário.
Procurada, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente afirmou que o bosque não oferece espaço nem tratamento adequados para os animais e que, por isso, a transferência seria necessária. A pasta também sustentou que o transporte em caixas é o procedimento correto em operações desse tipo. No entanto, não respondeu até a última atualização desta reportagem sobre a conduta do funcionário flagrado no vídeo segurando a ema pelo pescoço.
A secretaria informou ainda que existe um projeto em andamento para a implantação de um Centro de Triagem e Recepção de Animais Silvestres (Cetras) na área do bosque, o que mostra a contradição de remover os animais antes da existência de uma estrutura adequada no próprio município.
As tratativas sobre o manejo vinham sendo discutidas desde o final de julho, com reuniões envolvendo profissionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), veterinários do município, representantes do Grupo de Fauna (GFAu) do Estado e gestores municipais. Apesar disso, as imagens levantam dúvidas sobre a efetiva aplicação de protocolos éticos e do respeito à condição dos animais como seres sencientes.
Em entrevista, o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Marcelo Marques, afirmou que a empresa responsável pelo manejo foi contratada pelo Parque das Aves Araras Azuis, que receberia os animais, e que os profissionais teriam experiência na área. Segundo ele, um biólogo foi responsável por analisar a forma de transporte.
“A empresa veio com biólogo para analisar a forma de transporte. Com relação ao acondicionamento dos animais, estava sendo feito ainda o acondicionamento dos animais quando tivemos a presença das pessoas militantes da parte ambiental e que não deixaram prosseguir todo o processo. Então, talvez teríamos mais condições depois de verificar como eles iriam levar esses animais, mas uma coisa eu garanto: as caixas de transporte não podem ter o espaço maior do que o necessário, pois, no momento do transporte, o animal pode se movimentar e se machucar”, declarou.
No entanto, o argumento não justifica a violência registrada nem afasta a necessidade de transparência, fiscalização independente e responsabilização em casos de maus-tratos. É necessário que políticas públicas de manejo da fauna priorizem o respeito à vida, à integridade e à dignidade dos animais, e não apenas soluções administrativas que os tratem como objetos a serem removidos.