O vídeo mostra um touro da raça Nelore amarrado por cordas e sendo puxado por um caminhão. Em seguida, um trator tenta mover o animal. O caso foi registrado em uma rua de Benfica, distrito do município paraense de Benevides (PA).
As imagens foram gravadas no último domingo (10) por uma consultora de vendas que prefere não se identificar. Segundo ela, o animal havia fugido de uma fazenda da região e capatazes tentavam levá-lo de volta à propriedade.
“Fui passar o final de semana na casa dos meus pais, para ter um pouco de tranquilidade, mas tive um domingo muito triste. Saí de lá passando mal, nunca vi tamanha crueldade”, conta a consultora. No vídeo, é possível ver o touro sendo amarrado por capatazes para em seguida, ser puxado por um caminhão. “Eles maltratam demais o bicho, porque ele não aguentava nem ficar em pé”.
As imagens mostram o momento em que um homem que ajudava no resgate do animal agride o touro. Ele pula em cima do bicho, e em seguida, dá um soco na cabeça do touro.
Segundo a consultora, a polícia foi acionada para interromper a ação dos capatazes. “A Polícia Militar foi lá duas vezes, uma de moto e outra de viatura. Depois chegou a Polícia Ambiental, e mandaram soltar o touro”, conta.
Para manter a integridade do animal, a consultora afirma que um vizinho disponibilizou uma área para que o touro ficasse até que o resgate adequado fosse realizado. “Levaram o animal para uma área mais próxima porque ele não tinha condições de chegar à fazenda. Daí deixaram ele lá por uns dois dias, antes de irem buscar”, explica.
Ibama confirma maus-tratos
As imagens foram analisadas pelo chefe da divisão técnica ambiental do Instituto do Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Alex Lacerda. Segundo ele, tudo que aparece nas imagens configura crime de maus-tratos.
Além disso, o tipo de transporte feito para levar o animal é inadequado: o ideal seria que ele fosse transportado por um caminhão boiadeiro.
Em um dos momentos do resgate, um grupo de homens tenta colocar o touro na pá de uma retroescavadeira. Porém, como o animal é muito pesado, a tentativa não é bem sucedida.
“Só o estresse a que esse animal estava sendo submetido poderia levá-lo a morte. A multa para este tipo de crime é de R$ 500 a R$ 3 mil, ou até mesmo prisão. Mas o Ibama só atua nesses casos quando o poder municipal e estadual não tomam providências”, explica.
“Esse método de transporte é tradicional no interior”
O sargento Cardel, do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), foi um dos oficiais que atendeu ao chamado da consultora de vendas. Ele explica que esta forma de transportar gado é comum em Benfica, já que o distrito é uma zona rural. “Se ela [consultora] for a alguns interiores, ela vai mandar prender todo mundo porque é assim que se transporta gado no interior. Não houve arrastamento. Aqueles ferimentos são antigos, de briga com outros animais e também de se encostar na cerca”.
De acordo com Cardel, para deslocar os animais muitas vezes os capatazes usam até aparelhos para dar choque. “Eles usam o choque para os bichos ficarem de pé. É um método tradicional. Se você for domingo de novo lá, você vai ver outros animais na mesma situação”, diz.
Polícia Ambiental diz que animal não estava ferido
O caso foi registrado no Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), em Belém. Ao ser acionado, o órgão enviou agentes até o local para apurar a ocorrência. Em entrevista ao G1, o comandante do BPA, coronel Mauro Pinheiro, informou que a guarnição que presenciou a ocorrência não constatou crime de maus-tratos.
Nas imagens, é possível ver uma viatura da Polícia Ambiental e dois policiais militares fardados acompanhando a ação da população.
Poças de sangue aparecem no asfalto, possivelmente de ferimentos do touro, mas o BPA diz que o animal não estava ferido.
“Apesar do vídeo ser forte, não foi constatado maus-tratos porque o animal não estava com ferimentos. Na hora que eles chegaram lá, eles viram a ocorrência, viram o animal amarrado. Foi constatado que teve uma resistência do animal. Ele senta, se deita, como se não quisesse se deslocar, mas é um animal pesado e forte. Nós fomos até a fazenda e o animal está bem. Para configurar crime de maus-tratos, o animal teria que estar machucado, ferido. E não estava”, afirmou Pinheiro.
De acordo com o coronel, o dono da fazenda foi advertido. “Os agentes foram até a fazenda, falaram com ele e orientaram sobre a conduta adequada para o transporte deste animal. Sem a constatação de maus-tratos a gente não pode tomar providência. A pessoa que fez o vídeo fez no sentido de coibir aquilo, e foi coibido”.
Veterinário deve avaliar o animal
Segundo o delegado Waldir Freire, da Delegacia de Meio Ambiente (Dema), apenas um veterinário pode constatar se o animal sofreu ou não maus-tratos. “A pessoa que está reclamando disso tem que trazer até aqui essa informação. Quando chegar, a gente abre investigação para apurar o caso”, esclareceu.
Caso a ocorrência configure crime de maus-tratos, a pena para os envolvidos varia de 3 meses a um ano de detenção, quando a pessoa tem seus direitos de cidadão restringidos, não podendo viajar sem avisar a Justiça. Além disso, o suspeito pode receber uma multa de acordo com o poder aquisitivo.
Fonte: G1