Uma crise de extinção está se espalhando pela vida selvagem dos Estados Unidos, com dezenas de espécies sob o risco de serem exterminadas. Isso exige que os planos de recuperação comecem a receber maior financiamento, alertaram conservacionistas.
Um terço das espécies nos EUA estão vulneráveis à extinção. Esta crise destruiu o ambiente de vida de criaturas como borboletas, anfíbios, peixes e morcegos, de acordo com um relatório compilado por grupos conservacionistas. Uma em cada cinco espécies enfrenta uma ameaça ainda maior, com um sério risco de ser eliminada em meio a um “sério declínio” na biodiversidade dos EUA, alerta o relatório.
Collin O’Mara, diretor-executivo da National Wildlife Federation (Federação da Vida Selvagem Nacional, em tradução literal), afirmou que “a vida selvagem da América está em crise”. “Peixes, pássaros, mamíferos, répteis e invertebrados estão perdendo terreno. Devemos aos nossos filhos e netos evitar que essas espécies desapareçam da terra”, constatou O’Mara em entrevista ao The Guardian.
Mais de 1.270 espécies encontradas nos EUA estão listadas como “em risco” sob o ato federal em que consta que, entre os animais em perigo, estão o urso-pardo, o condor da Califórnia e a tartaruga-de-couro. No entanto, o número real de espécies ameaçadas é “muito maior do que o que é formalmente listado”, afirma o relatório da National Wildlife Federation, da American Fisheries Society e da Wildlife Society (Sociedades Americana de Pesca e dos Animais Selvagens, respectivamente, em tradução literal).
Dados da NatureServe reportaram a saúde de grupos inteiros de espécies em uma escala móvel. Em vez do trabalho caso a caso feito pelo governo federal, a análise mostra que mais de 150 espécies dos EUA já foram extintas, enquanto outras 500 espécies não foram vistas nas últimas décadas e possivelmente também já foram eliminadas.
Todas as classes de criaturas sofreram quedas abruptas em suas populações. Com 40% das espécies de peixes de água doce nos EUA agora vulneráveis ou ameaçadas, um terço das espécies de morcegos sofrendo grandes declínios nas últimas duas décadas e anfíbios diminuindo de suas faixas de habitação conhecidas a uma taxa de 4% ao ano, a escala da crise é gritante. Quando consideradas espécies com dados ainda desconhecidos para a ciência, a crise é considerada ainda maior.
“Esta perda de vida selvagem tem nos surpreendido, mas agora é como um grande tsunami que vai nos atingir”, disse Thomas Lovejoy, biólogo da Universidade George Mason. Lovejoy foi consultado sobre o estudo e disse que ele é capaz de “capturar a degradação geral da natureza norte-americana nas últimas décadas, ao invés de pequenos intervalos de tempo”.
Espécies foram atingidas pela destruição de florestas, pradarias e zonas úmidas, vegetações que deram lugar à agricultura em massa, urbanização, estradas e mineração. O uso de pesticidas na agricultura está ligado ao declínio de polinizadores chave para a reprodução da vida, como as abelhas.
Enquanto isso, o melhoramento do transporte entre estados norte-americanos e entre outros países desencadeou o crescimento de doenças, como infecções por fungos, que devastaram certas espécies de rãs e morcegos. Espécies invasoras destruíram habitats de vida selvagem, como florestas e margens de rios.
A mudança climática é um golpe adicional. Com temperaturas mais altas, aumento do nível do mar e chuvas alteradas, surgem consequências para espécies tão diversas como os ursos, que estão sofrendo dificuldade para buscar alimentos, e borboletas monarca, que viram seus números caírem em cerca de 90% nas últimas décadas, e que agora são consideradas extremamente sensíveis às mudanças nos padrões climáticos.
“Espécies estão vivendo em pequenas áreas de habitat e não interagindo com outros membros”, disse Erle Ellis, professora de geografia e sistemas ambientais da Universidade de Maryland. Ellis é co-autora de pesquisas que dizem como o mundo está se movendo em direção ao seu sexto grande evento de extinção em massa.
“As extinções estão aumentando e, se isso continuar, será um extermínio para os livros de história de todo o planeta. O mundo está ficando muito humanizado, e estou preocupada com o custo para a biodiversidade. É um desafio que nos confrontará ao longo deste século e além.”
O relatório dos conservacionistas pede um grande aumento de financiamento para os planos de recuperação elaborados dentro dos EUA. Ao “aumentar drasticamente os investimentos em conservação proativa baseada no estado”, os EUA podem conter e até mesmo reverter suas perdas de espécies, como diz o relatório, apontando histórias de sucesso como a reintrodução do lince do Canadá no Colorado, o bisão de madeira no Alasca e o reforço de populações de trutas em 17 estados.
Existem cerca de 12 mil espécies com estratégias de recuperação em vários estados dos EUA, embora a conservação da vida selvagem tenha tipicamente sofrido com déficits de financiamento em nível estadual. O Serviço Federal de Pesca e Vida Selvagem foi inicialmente alvejado para um corte orçamentário no governo Trump, embora o Congresso tenha recentemente concedido um aumento aos fundos.
John McDonald, presidente da Wildlife Society disse, em entrevista ao Daily Mail, que “esse declínio não é inevitável. Profissionais da vida selvagem em todos os estados têm planos de ação prontos para conservar toda a vida selvagem para as gerações futuras, mas precisamos do financiamento para reverter essa situação”.