Independente de você consumir ou não carne, já se perguntou como é a vida de um boi? Um boi, dos milhões que são mortos por mês no Brasil para serem reduzidos a pedaços de carne, tem uma vida realmente curta.
Com expectativa de vida de 15 a 20 anos, ele é morto com idade de 30 a 48 meses, segundo informações da Embrapa, embora seja cada vez mais comum a morte aos dois anos e aos dois anos e meio, até porque alguns mercados não aceitam animais com mais de 30 meses de idade. Já os touros utilizados como reprodutores começam a ser “descartados” a partir dos cinco anos. Essas são as faixas variáveis quando falamos de animais adultos.
No caso do vitelo, o abate pode ocorrer a partir do nascimento até os dez meses de idade. Já os novilhos começam a ser mortos aos nove meses – tudo depende do mercado consumidor. Não há como negar que vivem pouco nesse contexto, certo?
Quais são as maiores vítimas?
Cerca de 80% das dezenas de milhões de bois mortos no país ao ano são zebuínos, o que significa que essa subespécie asiática é a mais “tradicional” da agropecuária brasileira. Então quando pensar em vítimas da indústria da carne, você já pode associar com a imagem de animais das raças nelore, tabapuã, gyr, brahman e guzerá.
Mas por que essas raças? Porque são convenientes, já que esses animais são mais resistentes e têm necessidades nutricionais mais fáceis de serem supridas. Pois é, especismo mesmo – menos despesas com vidas e mais dinheiro no bolso.
Mas o que acontece em suas curtas vidas? Depois que os animais são escolhidos como “matrizes reprodutoras” ou “matrizes produtoras de carne”, podem ser submetidos a “melhoramento genético”, visando favorecer redução do tempo de ganho de peso ou acelerar a maturidade dos animais.
Mais carne, menos tempo de vida
Afinal, o objetivo maior é “produzir” cada vez mais carne em um período cada vez menor de tempo – o que significa que com o surgimento de novas tecnologias no campo, os animais tendem a morrer cada vez mais cedo. O que também pode ser interpretado como o ser humano manipulando as condições físicas, emocionais e psicológicas dos animais apenas em seu próprio benefício.
No pasto, o boi criado para consumo é condicionado a ganhar até 600 gramas de peso por dia no verão. No entanto, isso pode ser alcançado ou não dependendo do perfil nutricional das pastagens baseado na qualidade das gramíneas e nos ciclos de chuvas e estiagens.
O animal adulto, quando atinge peso de 360 a 420 quilos, é confinado, o que significa ele não terá mais acesso ao pasto. Então é condicionado a ganhar até 460 quilos em três meses consumindo 14 quilos de comida e 60 litros de água por dia.
Em 90 dias, isso equivale a 1,26 mil quilos e 5,4 mil litros por boi. Quanta comida, não? Isso sem citar a suplementação. Não seria mais fácil apenas consumirmos vegetais? Em vez de nutrirmos com vegetais os animais que serão mortos para consumo. É um caminho mais lógico e prático.
Como é o processo da morte?
Após o período de engorda em confinamento, o animal é transportado em jejum para o matadouro, onde, 48 a 62% do seu peso vivo é reduzido aos pedaços de carne que encontramos em açougues, onde a maioria não reflete sobre sua origem.
Mas como é o processo da morte pra consumo? Primeiro, os animais são descarregados pelos currais de recepção. Depois passam por um processo de lavagem também conhecido como banho de aspersão – que permite a chamada “esfola higiênica”, um eufemismo. Então são mantidos em uma rampa até a secagem da pele, que já antecipa sua morte.
Na sequência, os bois passam pelo processo de “atordoamento” ou “insensibilização”, que consiste em deixar o animal inconsciente utilizando marreta ou pistola pneumática. Imagine alguém lhe dando a possibilidade de escolher entre ter seu cérebro penetrado ou inutilizado por uma marreta ou pistola. Esse método não é permitido na “produção” de carne kosher ou halal – que prevê degola sem insensibilização. Algum desses métodos soa agradável?
Cada animal perde até 20 litros de sangue
Quando o animal cai no chão se debatendo após um disparo de pistola, logo ele é pendurado. Sobre isso, pode-se concluir que nada mudou desde que o escritor russo Liev Tolstói escreveu o ensaio “O Primeiro Passo” há quase 130 anos. Sobre a experiência de testemunhar a realidade dos matadouros, ele conta:
“[O boi] mal chegou à entrada, e um açougueiro o golpeou. Caiu pesadamente no chão, voltou-se de lado e moveu convulsivamente as patas e o rabo. […] Apesar de tudo, o boi se esforçava para não morrer. Não parava de se mover, sacudindo a cabeça e agitando involuntariamente as patas.”
Não importa quanto tempo passe, e quais tecnologias se tornem parte da agropecuária ou da indústria da carne visando potencializar o chamado “processo produtivo”, a reação de um animal diante da morte, ainda que criado para consumo, pode ser a mesma ou diversa, mas jamais estimada pela vítima, assim como a nossa.
Vômitos também são comuns antes da sangria, quando os grandes vasos sanguíneos do pescoço do bovino são cortados. Nessa etapa, cada animal perde de 15 a 20 litros de sangue.
Morte por falta de oxigenação no cérebro
“A morte ocorre por falta de oxigenação no cérebro. Parte do sangue pode ser coletada assepticamente e vendida in natura para indústrias de beneficiamento, onde serão separados os componentes de interesse (albumina, fibrina e plasma). Após a sangria, os chifres são serrados e submetidos a uma fervura para a separação dos sabugos (suportes ósseos), e depois de secos podem ser convertidos em farinha ou vendidos”, informa o artigo “Abate de Bovinos”, do Boletim Técnico da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), assinado por Miryelle Freire Sarcinelli, Katiani Silva Venturini e Luís César da Silva.
As etapas seguintes incluem esfola e remoção do couro e cabeça, evisceração e refrigeração – partes de um processo que perpetua a completa objetificação e obliteração de vidas não humanas e, que, falando apenas em bois, representa hoje o fim em curto ou médio prazo de 213,5 milhões de animais apenas no Brasil – o que já é mais do que toda a população do país.
“A indústria de alimentos supera o comércio de peles e o uso de animais em laboratórios quando falamos em números de vidas animais afetadas. A grande maioria usa e consome produtos dessas indústrias, mas se sente mal quando pensa no que acontece nos matadouros. Por isso, eles organizam suas vidas de tal maneira que eles evitam pensar nisso. Também fazem de tudo para garantir que seus filhos sejam mantidos na escuridão, porque sabemos que crianças têm bom coração e mudam facilmente”, discursou o escritor sul-africano J.M. Coetzee, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, para uma plateia em Sydney, na Austrália, em 22 de fevereiro de 2007.
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