Quem é apaixonado pelos animais e acompanha as tendências em relação ao mercado do segmento, especialmente durante a pandemia, provavelmente notou que o interesse em relação a cães e gatos aumentou de maneira considerável, inclusive com um grande crescimento do número de adoções nesse período.
Para se ter uma ideia, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), há alguns anos a presença de animais domésticos se tornou maior do que a de crianças nos lares brasileiros, com cerca de 140 milhões de animais, para 48 milhões de domicílios. Desse total, estimam-se que em 46% das residências se tenham ao menos um cachorro, enquanto os gatos estão em 20% dos lares.
Mas não são apenas nas casas que os animais fazem companhia para os tutores, que estão cada vez mais interessados em compartilhar os momentos de lazer ao lado dos companheiros de quatro patas. Dados da plataforma Decode apontam que durante a pandemia os termos de pesquisa “viajar”, seguido de “hotel animal friendly” tiveram um aumento de 238%, e “como levar cachorro no avião”, cresceu em 170%.
- No Google, o crescimento nas buscas por hotéis com serviços animal friendly foi de 300%, entre março e setembro de 2020. A plataforma Hoteis.com revelou que, ao final de 2020, 82% dos brasileiros que participaram de pesquisa gostariam de viajar com os pets, enquanto 67% já haviam viajado com os animais. Em 2021 a Airbnb Brasil incluiu a opção de hospedagens com animais e em dois meses hospedou mais de 450 mil animais domésticos.
A influenciadora Patrícia Camargo compartilha experiências de viagens em família desde 2016, se tornando referência para tutores que desejam viajar com os animais de estimação. Baseado na própria experiência, a tutora dos Yorkshire terrier, Armandinho e Nina, afirma ter notado uma transformação positiva no cenário animal após a pandemia, com as pessoas cada vez mais assumindo os bichinhos como parte integral da família e, em muitos casos, com o amigo peludo sendo a única companhia por um longo período.
Com a retomada do turismo, por meio da página “Eu, Você e os Pets”, Patricia, ao lado do marido Mateus e dos cãezinhos, pretende realizar ao menos uma viagem por mês, para diferentes locais do Brasil e até para o exterior.
Para Patricia, é notável que muitas cidades estão de olho nos bichinhos e se adaptando cada vez mais para recebe-los da melhor forma. Contudo, para ela, algumas cidades realmente se destacam, como Socorro (interior de São Paulo), que desenvolveu um projeto animal friendly para tornar a cidade mais receptiva às famílias com animais.
“Lá você vê que a maioria dos hotéis são animal friendly, eles realmente investem nisso, para proporcionar lazer e bem-estar para eles”, comenta, acrescentando que a cidade onde vive, também vem se destacando nesse quesito. “Santos está bem animal friendly, são muitas opções de lugares que aceitam os pets e são muito bons. A praia, por exemplo, a primeira do estado de São Paulo a liberar cachorros na praia, isso nós não podemos deixar de destacar”.
Entre as dicas de roteiros para quem deseja viajar com o cachorro, Patricia destaca ainda que se surpreendeu positivamente ao conhecer locais como Capitólio (Minas Gerais). “Eu pensei que não fosse conseguir fazer quase nada com os cães, mas pelo contrário. Muitos passeios incluem os pets, como trilhas, passeios de barco e até as lojas, que sempre perguntávamos se poderíamos entrar com os cães e a resposta era sempre positiva”.
Outras cidades que a tutora indica como positivas para visitas com os pets são Campos do Jordão e Aparecida, em São Paulo. “Aparecida não só nos surpreendeu, como a quem acompanhou a nossa viagem. Lá eles estão realmente muito abertos a receber os bichos”, contou.
A experiência em viagens de avião com os pets
Com experiência em viagens de avião com os dois cachorros, Patricia destaca que esse é um serviço nada eficiente e, além de tudo, muito caro. “Nós vemos que nessa parte as companhias aéreas não investem, elas ainda não se adaptaram para receber os animais da melhor forma”, diz.
“Muitas regras e orientações não são coerentes, quando você olha no site, está uma coisa, na hora do check-in te falam outra e, já dentro da aeronave, é outra. Não existe um padrão em relação de onde você pode sentar, se o animal pode ficar no colo, se pode tirar um pouco da caixa de transporte, se não pode, ou se você pode ou não pedir água para o cachorro”, aponta a tutora.
Patricia comenta também sobre a restrição para animais de portes maiores, que não são permitidos na cabine e devem viajar no compartimento de carga, o que gera muita insegurança para muitos tutores e medo para os animais, que não estão habituados a ficar em locais desconhecidos e sozinhos.
“Eu acho que precisam avançar muito, ainda mais porque os pets pagam pela passagem e, algumas vezes, a passagem dos animais é mais cara do que a nossa e para eles não é oferecido nenhum tipo de serviço, eles vão embaixo de uma poltrona. Isso precisa melhorar muito, com certeza”, afirma.
Próximas viagens e dicas para os tutores
Como viagem para a região nordeste do Brasil programada e planos para a primeira viagem internacional com os pets para o segundo semestre de 2022, Patricia dá algumas dicas para quem pretende viajar pela primeira vez com o cachorro
É importante que o tutor conheça bem o perfil do animal, muitos não gostam de viajar ou, mesmo quando gostam, podem não se dar bem em determinados climas, como o frio intenso, ou com locais mais agitados.
Antes de pensar em fazer uma viagem de carro com o pet, é importante que o animal esteja acostumado a isso. “Se o cão nunca andou de carro e, de repente, o tutor resolve fazer uma viagem de 10 horas. Não dá! O cachorro pode ficar estressado, ansioso e até passar mal, e aí a pessoa vai precisar medicar o bichinho”, diz.
O recomendado é que se faça pequenos trajetos, de uma hora ou duas horas e se vá aumentando o tempo aos poucos, sempre respeitando os limites do animal.
Nem todos os cães gostam de socializar
Além do deslocamento da viagem, é preciso saber se o animal gosta do tipo de passeio que o tutor pretende fazer. “Tem cachorro que gosta de ficar deitadinho, dormindo. Não se sente bem ao ter contato com outras pessoas, ou outros animais, aí não dá para o tutor ir para um hotel que está cheio de cachorros. É importante pensar em algo que seja bom tanto para o cachorro quanto para o tutor, ou só haverá dor de cabeça”, comenta Patricia.
Para essas viagens, o cão passará um longo tempo dentro de uma bolsa ou em uma caixa de transporte, é indicado que semanas antes da viagem o tutor já comece um processo para que o pet se acostume a isso.
“Já comece a mostrar para o cão a caixinha, acostumando-o a entrar e ficar nela, seja com brinquedos ou com petiscos”, continua. “Imagina, do nada você coloca o cachorro dentro de uma caixa e ele não vai sair de lá por cerca de quatro ou cinco horas? Então é imprescindível já ir mostrando para ele que a caixa é positiva, que é algo gostoso e que tudo vai dar certo, que ele irá para um lugar legal e que vai ganhar um presente por estar ali”.
Outra dica importante é que pouco antes da viagem o tutor faça alguma atividade para que o animal gaste energia e fique cansado, assim ele ficará mais tranquilo e tende a dormir pelo trajeto, no qual estará dentro da caixa de transporte.
“Em algumas situações, quando o trajeto é mais longo, para a Nina, eu dou um calmante fitoterápico (medicamento natural) para ela ficar mais calma”, indica – lembrando que é sempre importante se consultar um médico veterinário antes de oferecer qualquer medicamento aos animais.
É importante o tutor procurar um local que vai valer a pena com o cachorro. Não adianta viajar com o bichinho e depois deixar ele preso dentro de um quarto de hotel sem fazer nada. Então, antes de decidir o destino e montar o roteiro, que o tutor veja o quão animal friendly é, e se realmente vale a pena ir. O passeio deve ser bom para os dois, é uma experiência que ficará marcada para ambas as partes”, completa.
Fonte: Canal do Pet