Comitiva do presidente para China preocupa proteção animal e cientistas no Brasil,
devido à natureza extrativista e crimes ambientais envolvidos no abate e comércio de pele
de jumentos.
Esses animais ocupam um lugar único na história e cultura do Brasil. Mas, estão sendo dizimados desde 2016 para abastecer a indústria de colágeno extraído do couro desses animais.
São estimadas 4,8 milhões de peles de jumento por ano para atender a essa demanda.
Os três matadouros envolvidos nessa atividade no Brasil estão sob serviço de inspeção federal, que é de responsabilidade do Ministério da Agricultura.
Mas, qual é o problema dessa atividade?
De acordo com Patricia Tatemoto, representante da The Donkey Sanctuary na América do Sul – entidade fundada em 1969, com sede em Devon, Inglaterra, para proteger os jumentos (que faz parte da espécie asinina) – o problema é a forma extrativista com que tem se dado a atividade.
“Sem rastreabilidade, há enorme risco de biossegurança, uma vez que doenças de caráter zoonótico são negligenciadas. Nos casos que nós acompanhamos o bem-estar dos animais estava severamente comprometido, pois eram transportados e mantidos sem água e alimentação, impondo enorme sofrimento aos animais”, explica Tatemoto, que acrescenta não ser uma solução viável regulamentar a prática, já que os estudos mostram que a cadeia produtiva é custo proibitiva, e demandaria muitos recursos naturais.
Para Patricia, que também coordena as campanhas da Donkey nas Américas, a solução sustentável seria a produção desse colágeno por agricultura celular.
“A população de jumentos no Brasil foi estimada em um efetivo de 400 mil animais, segundo os últimos dados oficiais a tivemos acesso, em 2021 No entanto, os relatórios mostram que só em três matadouros, quase 80 mil animais foram abatidos, de fevereiro de 2021, a junho de 2022. Essa atividade impõe uma pressão sem precedentes na população de jumentos do Brasil, uma vez que a redução da população é incontroversa”
De acordo com a pesquisadora que é bióloga e mestre em Aquicultura, o jumento nordestino já possui um patrimônio genético único.
“Estudos mostram que quando uma espécie é extinta, os microrganismos que viviam em harmonia procuram novos hospedeiros e essa é a chave para o surgimento de novas
doenças infectocontagiosas e até novas pandemias. Além disso, estamos nos aproximando de um ponto irreversível quanto à perda de biodiversidade, em que precisamos mitigar com urgência o declínio de variabilidade genética”, finaliza Tatemoto.