São muitas as doenças que acometem os animais domésticos sem que os tutores tenham conhecimento. Por isso, é preciso estar atento e pedir atualizações ao veterinário de confiança — saber quais são as vacinas disponíveis e fazer os checapes recomendados.
No caso dos felinos, um antigo perigo está se mostrando cada vez mais presente. É o caso do vírus da leucemia felina, mais conhecido como a FeLV (sigla em inglês). A veterinária especialista em gatos Carmem Cecília Peres Xavier Pinto esclarece que o vírus se aloja na medula dos gatos e compromete a produção das células de defesa do organismo e das células sanguíneas de forma geral, configurando, assim, um quadro de leucemia.
Esse enfraquecimento do animal acarreta, além da leucemia em si, diversos problemas de saúde. A médica veterinária Christine Souza Martins, também especialista em felinos, explica que os animais portadores de FeLV são fortes candidatos a desenvolver linfomas, imunodeficiência crônica e anemia aplástica grave (quando a médula óssea deixa de produzir os três tipos de células que compõem o sangue — glóbulos brancos, vermelhos e plaquetas — em quantidade suficiente para a manutenção do organismo). A veterinária explica ainda que o desenvolvimento desse tipo de anemia é, geralmente, fatal.
Essas são apenas as consequências mais comuns da infecção, que, por sua característica de imunodeficiente, expõe o animal a males oportunistas, que, mesmo não sendo graves, podem inspirar cuidados. Uma simples gripe, por exemplo, pode evoluir e acabar levando o felino a internações, com risco de morte.
A FeLV parece assustadora e, de acordo com as especialistas, deve ser encarada dessa forma, uma vez que não tem cura e é de fácil transmissão. Christine explica que o vírus pode ser transmitido por meio de sangue ou saliva, o que pode ocorrer em brigas ou mesmo com a convivência — gatos que vivem juntos tendem a dividir potes de ração e água e podem até mesmo criar o hábito de lamber uns ao outros, como demonstração de carinho. Dessa forma, a transmissão da FeLV se torna quase inevitável.
Outro aspecto que dificulta o controle da FeLV é o fato de o vírus ser assintomático em alguns casos. “A infecção pode ficar muito tempo sem nenhuma manifestação clínica, meses, até anos, mas, mesmo assim, o gato pode transmitir o vírus”, explica Christine. Daí a importância de manter os exames do bicho em dia e realizar testes antes de adquirir uma nova mascote. Os exames são específicos e os especialistas aconselham os donos a exigirem esse cuidado por parte dos veterinários.
A solução para conter a FeLV e proteger os gatos é a vacina. O problema é que muitos veterinários não a incluem no quadro básico e são poucos os proprietários que conhecem a doença antes de terem seus animais infectados, de forma que não exigem a vacinação quando esta ainda pode prevenir a doença.
Alessandra Toledo Fiães, 40 anos, foi vítima da falta de conhecimento e já perdeu oito gatos para a leucemia felina. A protetora tem, hoje, 41 felinos, sendo que apenas seis deles possuem o vírus e todos os outros são vacinados. “A vacina realmente os protege, eles convivem há anos juntos e nenhum deles foi infectado aqui, os que têm já chegaram doentes”, explica.
A primeira vez que a protetora teve conhecimento do problema foi há cerca de cinco anos, com a gata Mia, que, apesar de ter desenvolvido até mesmo um tumor em decorrência da FeLV, continua viva. Na época, Alessandra vivia com 20 gatos e se assustou ao pesquisar a doença, o que fez com tomasse uma atitude impensada: mesmo sem o teste preliminar, vacinou todos os seus gatos. “Não é aconselhável, mas era a única opção que eu tinha. Na época, os testes eram muito caros e eu não podia correr o risco. Pelo menos os que não tinham não iam pegar dos outros”, conta. A veterinária Christine explica que não é seguro vacinar animais antes do teste, pois aqueles já infectados podem piorar.
Assim que foi possível, Alessandra testou todos os gatos adotados e passou a testar também os abrigados temporariamente. Os saudáveis só entram em contato com os outros depois que tomam a vacina quíntupla, que, além da panleucopenia felina, calicivirose, rinotraqueíte e clamidiose, protege contra o vírus da leucemia. Essa variação das vacinas quádrupla e tríplice não é muito difundida pelos profissionais e, em razão da fraca comercialização, tem sido pouco distribuída pelos laboratórios. “Os próprios veterinários não indicam a quíntupla e isso é muito sério, porque, aqui em Brasília, isso está virando uma epidemia”, preocupa-se Alessandra. Christine acrescenta: “A disponibilidade da vacina no mercado brasileiro é inconstante, o que é um absurdo. Atualmente, estamos sem estoque da vacina, e o laboratório alega dificuldades burocráticas na importação”.
O receio de Alessandra, tutora de 41 gatos, mostra-se justificado. A veterinária Carmen explica que, quando a FeLV começa a agir, é difícil reverter a situação. “Depois que o gato começa a apresentar os sinais, a progressão da doença é muito rápida, o animal começa a definhar”, completa.
O tratamento é determinado de acordo com a manifestação em cada animal. As doenças tratadas são as secundárias, que o gato desenvolve em decorrência do vírus, mas a FeLV em si não tem tratamento, uma vez que o vírus não pode ser eliminado do organismo, o que demonstra, mais uma vez, a importância da vacinação de todos os filhotes. “Sem a vacina, os gatos não estão seguros e estão suscetíveis a adquirir essa doença potencialmente fatal”, finaliza Christine.
Sintomas que podem indicar a FeLV:
» Espirros constantes, gripes que não passam
» Mucosas esbranquiçadas (nariz, orelhas, boca)
» Falta de apetite
» Baixa imunidade
» Apatia
Com informações de Saúde Plena